São Paulo — A cadeirada que José Luiz Datena (PSDB) deu no adversário Pablo Marçal (PRTB), ao vivo, durante o debate entre candidatos à Prefeitura promovido na noite desse domingo (16/9), pela TV Cultura, foi o ápice de uma escalada de agressividade que marcou a campanha na capital desde antes do início do período eleitoral.
O debate de domingo foi o quinto encontro entre os candidatos de São Paulo. Em cada um deles, a maneira como um candidato tratou o outro escalou para níveis cada vez mais beligerantes em comparação aos encontros anteriores.
Nesse domingo, antes do início do debate, as equipes de campanha chegaram a destacar, nas conversas de bastidores com jornalistas, como as regras do encontro da Cultura eram restritivas — como o sorteio de adversários para as respostas.
Mas isso não foi suficiente para evitar a série de agressões verbais que vinham marcando os debates, nem o “pugilato”, como descreveu o mediador do debate da Cultura, o jornalista Leão Serva.
Escalada de agressividade
O encontro que antecedeu o debate desse domingo ocorreu no dia 1º de setembro e foi promovido pela TV Gazeta e o canal do YouTube MyNews. Naquela ocasião, Datena já havia descido de seu púlpito para se aproximar de Marçal, ameaçando agredi-lo, mas interrompeu a ação.
Mesmo assim, a falta de respeito entre os candidatos já havia atingido um nível inédito nas eleições da capital. O prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, referiu-se ao adversário Guilherme Boulos (PSol) como “invasor”, em referência à atuação política do deputado federal no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Boulos, por sua vez, chamou o prefeito de “ladrãozinho de creche”, em alusão à investigação da Polícia Federal que ligava Nunes à Máfia das Creches, desmantelada após investigação.
Marçal chamou o prefeito de “bananinha”, Boulos de “Boules” (em referência a um ato de campanha com linguagem neutra), Datena de “Dapena”, e a deputada federal Tabata Amaral (PSB) de “Chatábata”. Com exceção de Tabata, todos revidaram as ofensas com novas agressões verbais.
Debate vazio
O debate que precedeu o da Gazeta foi promovido pela revista Veja na manhã de 19 de agosto, mas foi um encontro esvaziado: Nunes, Boulos e Datena decidiram não comparecer.
Os adversários faltaram ao encontro em resposta ao resultado do debate anterior, ocorrido cinco dias antes e promovido pelo Estadão, Faap e Terra. As campanhas avaliaram que Marçal não havia seguido as regras, o que levou à exigência de normas mais rígidas nos encontros seguintes. O encontro havia sido marcado pela apresentação, por Marçal, de uma carteira de trabalho a Boulos, em provocação ao rival. O candidato do PSol chegou a dar tapas no vento em uma tentativa de derrubar o documento.
As candidaturas concordaram em participar do debate da TV Gazeta, que, por exemplo, previa a possibilidade de expulsão de quem não cumprisse as regras. No debate da Veja, Marçal decidiu não responder às perguntas de Tabata e usou seu tempo para abordar outros assuntos.
No primeiro encontro, promovido pela Band, no dia 8 de agosto, os ataques aos adversários, especialmente por parte de Marçal (mas também entre Boulos e Nunes), já haviam atingido níveis acima dos de eleições anteriores. O ex-coach chamou Boulos de “cheirador de cocaína” e prometeu apresentar provas — que nunca foram trazidas — sobre o uso de drogas por parte de seus oponentes.
Tiroteio
A agressividade entre os candidatos não ficou restrita aos debates. Nunes, Boulos, Marçal, Datena e Tabata têm usado parte considerável de seus tempos de TV, rádio e redes sociais para expor temas polêmicos dos rivais, com ataques adjetivados de forma desrespeitosa.
No debate desse domingo, após a cadeirada de Datena e a retirada dele e de Marçal dos estúdios da TV Cultura, Nunes e Boulos continuaram trocando agressões, protagonizando um debate marcado por pedidos de direito de resposta por conta de ofensas pessoais.
Embora ambos tenham criticado a agressão física de Datena, Nunes referiu-se ao colega político como “bagre ensaboado” e “rapaz”. “Você cheirou? Está louco, rapaz?”, questionou o prefeito após uma pergunta de Boulos que relacionava a Máfia das Creches e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Já Boulos chamou o adversário de “engenheiro de obra pronta” e afirmou que “seu governo é um escândalo, assim como sua moral”.
Fonte: Oficial