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Raposa no galinheiro: cangaço do PCC aliciava vigias de carro-forte

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Imagem colorida de quatros rostos masculinos, no centro. Fundo preto, com sobreposição de manchas de sangue, um carro-forte a dois fuzis cruzados, atrás dos quatro rostos - Metrópoles

São Paulo – O assassinato da principal liderança de um dos núcleos do Novo Cangaço ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) fez a Polícia Federal (PF) descobrir uma rede de contatos entre o criminoso e Colecionadores, Atiradores Esportivos e Caçadores (CACs), dentre os quais vigilantes de carros-fortes.

Fleques Pereira Lacerda, o Pequeno, foi executado em dezembro de 2023, quando estava em uma barbearia de Osasco, na Grande São Paulo, após fugir do sistema carcerário do Piauí, em 2018. Ele foi alvo de uma emboscada orquestrada por rivais do próprio PCC. Com ele, a polícia apreendeu um celular, no qual havia o contato de quatro fornecedores das armas usadas pelo núcleo em guerras por território.

Com a morte dele, o irmão Delvane Pereira Lacerda, o Pantera, assumiu a liderança do clã e o modus operandi de obtenção de armas: CACs e vigilantes de transportadoras de valores.

Terrorista: venda e treino

A investigação da PF, obtida pelo Metrópoles, identificou quatro fornecedores de armas para o bando de Pantera e Pequeno: 3 deles com registro de CAC. Todos estão presos.

Um é Otávio Alex Sandro Teodoro de Magalhães, o Terrorista, que vendeu armas e munições para a quadrilha dos irmãos do PCC. O CAC também aparece em registros de vídeo (assista abaixo) treinando Pantera e a esposa do criminoso, Elaine Souza Garcia, a Patroa, no manuseio de um fuzil, arma usada em guerras.

Morador de Piracicaba, Terrorista negociava arsenais com outros “clientes”. Com ele, foram apreendidas armas com e sem registro, além de munições, pólvora, explosivos de fabricação caseira, acionadores e bombas, balaclavas, drones, além de bloqueadores de GPS.

“Além de fornecer todo o aparato necessário para a Organização Criminosa praticar crimes violentos, Otávio [Terrorista] auxiliava os demais comparsas quando presos e os capacitava no manuseio de armas de fogo com alto poder de destruição”, destaca a PF.

Pantera, Patroa e o Terrorista foram presos no último dia 10 de setembro, durante a segunda fase da Operação Baal, deflagrada pela PF e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Além deles, foram presos os integrante do PCC Jakson Oliveira Santos, o Dako, e Diogo Ernesto Nascimento Santos, que atuava no núcleo financeiro da facção e nas execuções de inimigos. No total, 18 suspeitos foram denunciados pelo MPSP desde o início do ano.

O Metrópoles busca a defesa dos acusados. O espaço está aberto a manifestações.

Raposa no galinheiro

Outro fornecedor de armas e munições para o PCC, o também CAC Vanderson Quintino de Sena, foi preso em flagrante após policiais federais encontrarem na casa dele 56 munições dentro de um forno micro-ondas. Morador da capital paulista, ele trabalhava em uma empresa de transportes de valores como vigilante de carro-forte.

Isso, segundo relatório da PF, “é preocupante”, porque Vanderson, conforme mostram diálogos mantidos com o chefão do PCC, estaria envolvido em roubos de carros-fortes, “um dos crimes prediletos” do núcleo liderado pelos irmãos Pequeno e Pantera.

O outro CAC ligado à facção é Ronald da Cruz Brito, que também negociava armamentos e trabalhava como vigilante em uma empresa de transporte de valores. Na casa dele foram apreendidos dois revólveres e munições, sem registro. Ronald também estaria envolvido com lavagem de dinheiro da célula criminosa.

O terceiro CAC apontado como fornecedor de armas para a maior facção do Brasil é Carlos Batista da Silva, o Cigano. Ele mora em Corrente (PI) e, apesar de antecedentes por porte ilegal de arma, contava com o registro de colecionador.

O único fornecedor de armas sem o registro de CAC, Francisco Lucas de Sousa Rocha, o Lucas Gordin, operava o tráfico de drogas no Piauí, como mostram as investigações. Morador de Timon (MA), ele é cliente da célula do PCC alvo da PF, da qual comprava e ainda compra drogas para revendê-las, como mostram as conversas interceptadas na investigação.

Irmãos e sócios de sangue

Os irmãos Pequeno e Pantera eram sócios em diversas bocas de fumo em São Paulo e no Piauí. No estado nordestino, os dois foram responsáveis pela chegada do PCC. Para manterem a hegemonia nas regiões onde vendiam drogas, os irmãos promoveram execuções de rivais.

O volume de cocaína movimentado pela dupla era altíssimo, como mostra conversa na qual Pantera afirma à esposa ter recebido, em maio de 2023, uma tonelada da droga. Na revenda, isso renderia aos criminosos R$ 44 milhões.

Desde 2018, Pequeno estava foragido da cadeia em Osasco, cidade onde foi morto, em 2 de dezembro de 2023. Quem possibilitou a morte dele também era do PCC e compunha uma célula que rivalizava por território piauiense.

Pantera, então, assumiu a liderança do grupo e se vingou da morte do irmão, o que resultou em um banho de sangue em cidades do interior do estado.

Fonte: Oficial