O desmatamento em Mato Grosso no último ano seguiu a dinâmica de queda registrada nos biomas Amazônia e Cerrado, mas as características desta destruição ainda preocupam organizações. Nota técnica divulgada nesta terça-feira (10) pelo Instituto Centro de Vida (ICV) mostra que 75% do desmate ocorreu de forma ilegal e que as pressões normativas vindas tanto do Legislativo quanto do Executivo local ameaçam avanços conquistados.
Entre agosto de 2023 e julho de 2024 – período conhecido como calendário do desmatamento – o Mato Grosso perdeu 1.700 km² de vegetação nos biomas Amazônia e Cerrado, o que representa uma redução de 32% em comparação com o período anterior.
Apesar de positivo, o ICV alerta que ainda falta um longo caminho para que o estado atinja as metas ambientais assumida nos últimos anos: o de zerar o desmatamento ilegal e reduzir a destruição legalizada na Amazônia a 571 km² e 150 km² até 2023, respectivamente.
“Para o alcance dessas metas, será necessária a manutenção de ações de fiscalização sobre o desmatamento não autorizado, um procedimento autorizativo rigoroso, com a devida análise das informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR), e investimentos contra a degradação nas áreas nativas”, diz trecho da nota.
Características do desmatamento
Segundo a análise do ICV, cerca de 7 mil polígonos de desmatamento foram detectados no período, sendo que 61% da supressão total do ano ficou concentrada em apenas 338 destes polígonos, ou menos de 5% do total. Isso significa que o desmatamento está acontecendo em grandes propriedades rurais.
“O desmatamento mais expressivo em Mato Grosso é feito por quem tem recursos financeiros, porque desmatar grandes áreas, nessa proporção, custa caro. E esses são fatos já conhecidos tanto pela Sema [Secretaria de Meio Ambiente] quanto por outros órgãos fiscalizadores, e devem servir de referência para a priorização da autuação e fiscalização por esses crimes, de forma inteligente”, disse Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV.
Além disso, o Instituto alerta que a maior parte do desmatamento aconteceu em áreas de transição entre os biomas Cerrado e Amazônia e que 56,7% da destruição detectada no período pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pelos dados oficiais, deveu-se à “degradação progressiva”, principalmente por meio do fogo, indicando “novas dinâmicas” de supressão vegetal.
De fato, cerca de 20% do total de focos de queimadas detectados pelo INPE entre 2023 e 2024 estavam concentrados em Mato Grosso, sendo que 60% destes estavam dentro de imóveis privados, inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
“Já está nítido que a regularização ambiental e o monitoramento e fiscalização não têm sido suficientes para erradicar a ilegalidade do desmatamento no estado. Para além dos embargos e multas, o governo de Mato Grosso tem que empreender esforços e inteligência para combater e acabar com a lógica econômica que aparentemente vigora, de que o desmatamento ilegal compensa, de que supostamente basta o infrator entrar com mandados judiciais e conciliações que se dá um jeito de seguir usando a área que foi objeto de crime ambiental. São necessárias medidas e ações fortes que combatam esse modus operandi”, diz Silgueiro.
Ameaças normativas
De acordo com o ICV e organizações parceiras, como o Observa MT, apesar de a queda no desmatamento desenhar um cenário positivo para o Mato Grosso, pressões normativas, encabeçadas tanto pelo Executivo quanto pelo Legislativo, ameaçam o cumprimento das metas estabelecidas pelo estado.
Confira abaixo as normas antiambientais mais recentes no MT