São Paulo — A mulher de 31 anos morta com um tiro na cabeça durante uma ação policial no bairro do Bom Retiro, em Santos, no fim de março, foi atingida por um disparo efetuado por um policial militar, de acordo com laudo da Polícia Técnico Científica anexado ao inquérito policial militar. A informação foi confirmada pela PM em entrevista coletiva nessa quarta-feira (26/6).
Edneia Fernandes Silva, mãe de seis filhos, estava sentada na Praça José Lamachia no dia 27 de março, por volta das 18h, quando foi baleada. Ela foi socorrida e levada para a UPA Zona Noroeste e, depois, transferida para a Santa Casa, mas não resistiu. O óbito foi confirmado no dia seguinte.
Os policiais militares envolvidos na ocorrência disseram, no registro da ocorrência, que ela teria sido atingida durante uma troca de tiros com suspeitos que fugiam de moto. Os PMs não especificaram de onde teria partido o disparo que atingiu a mulher. Na época, familiares e amigos de Edneia questionaram a versão, afirmando que o confronto citado pelos PMs nunca existiu.
Segundo o coronel Emerson Massera, porta-voz da Polícia Militar, os policiais envolvidos na ocorrência efetuaram um único disparo, justamente o que atingiu Edneia.
“Hoje, temos a notícia do laudo, feito pela Polícia Técnico Científica, que mostra que o disparo que feriu mortalmente a senhora Edneia partiu da arma de um policial militar. Justamente esse disparo durante a perseguição. Era o que faltava para a conclusão do inquérito policial militar. Agora, o PM será relatado e encaminhado à Justiça”, afirmou Massera, em entrevista coletiva.
“Os indivíduos que estavam sob suspeita efetuaram disparos de arma de fogo e ingressaram na Praça José Lamachia. Nesse momento, um dos policiais militares efetuou um disparo de arma de fogo. Os criminosos fugiram, abandonaram a moto”, explica o PM.
O inquérito policial militar, com o laudo técnico sobre a morte de Edneia, foi encaminhado para o Tribunal de Justiça Militar. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o policial que efetuou o disparo fatal foi afastado e transferido para outro batalhão, também no litoral. Ele permanecerá afastado até o término da fase processual.
“Estamos classificando essa ocorrência como homicídio culposo. Nós já tínhamos a materialidade do homicídio, e agora nós temos o acréscimo da autoria. Sabemos quem foi o autor responsável. O policial evidentemente não queria esse resultado. Aliás, ele vem sofrendo bastante com as consequências dessa ocorrência”, disse Massera.
Estopim
A morte de Edneia Fernandes Silva não entrou na contagem de mortes feita pela Secretaria da Segurança Pública na 3ª Fase da Operação Verão na Baixada Santista. O motivo foi a suspeita de que a bala tivesse partido da arma de um criminoso. Entre 28 de fevereiro e 1º de abril, 66 pessoas morreram em ações policiais na região, além de três PMs.
Para a Ouvidoria das Polícias de São Paulo, a morte de Edneia Fernandes Silva teria sido o estopim que fez o governo do estado encerrar a operação. O ouvidor, Claudinho Silva, o episódio deixou claro que a operação descambou para “vitimização de pessoas inocentes”.
“Eu avalio que pode ter uma série de razões para o fim da operação. Uma delas, na minha opinião, é a morte da dona Edneia. A morte da dona Edineia deixou muito claro que a operação tem descambado para uma vitimização de pessoas inocentes, e a dona Edineia é o maior símbolo disso”, disse o ouvidor em 2 de abril.
Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública, negou a versão. “É lamentável, a gente fica muito triste e deixa registrado os nossos sentimentos. [Mas] o fim da Operação Verão não está relacionado a essa ocorrência. Ela tinha um papel a ser cumprido e esse papel era asfixiar financeiramente o crime organizado e, ao longo de toda a operação, do período que ela durou em todas as suas fases, nós cumprimos esse papel”, disse Derrite em entrevista coletiva.
Fonte: Oficial