Na madrugada desta quinta-feira (17), enquanto a maioria da população brasileira dormia, 267 deputados federais decidiram flexibilizar um dos mecanismos mais importantes de proteção da nossa natureza, o licenciamento ambiental.
A votação desta matéria tão importante para o Brasil – acredito que não por coincidência –, teve início por volta das 23h45 e se estendeu até perto das 2h da madrugada. Parlamentares deixaram o Congresso já era quase manhã, por volta das 4 horas, no alvorecer do Dia de Proteção às Florestas, que ironia.
Eu sempre gostei da expressão “na calada da noite”. Ou, em outras palavras, quando a noite cala, se aquieta. Não sei se é por causa da minha predileção por livros de suspense ou por conta da novela Vamp, que marcou o início da minha adolescência com suas aventuras noturnas.
Só sei que aprendi que é no silêncio da noite, quando as vítimas são pegas de surpresa em seu sono e os gritos de socorro não podem ser ouvidos, que os maiores crimes são cometidos.
No caso atual, não foram suficientes os alertas de cientistas, pesquisadores, especialistas, políticos, da cantora Anitta e até da personagem principal da novela das 9h da Globo – que, por ironia, é a vilã.
Os deputados, amparados e impulsionados por setores produtivos poderosos, como o agronegócio e a mineração, disseram sim ao Frankenstein nefasto que se tornou o PL 2159/21, colocando sob ameaça imediata no Brasil uma área maior do que o território da Grécia – ou um território pouco maior do que a Transilvânia, na Romênia.
Na calada da noite, enquanto muitos sonhavam com um país mais justo e sustentável, nossos representantes cometeram o crime de colocar nossas florestas, campos, áreas alagadas, mares e nosso clima sob ameaça. E todos nós acordamos menos protegidos também.
Era noite. Convenientemente, ninguém podia nos ouvir gritar.
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