O assassinato encomendado de Klaus Viana Munch, de 64 anos, trouxe à tona o envolvimento de dois núcleos familiares com o jogo do bicho em Ubatuba, no litoral norte paulista. Conhecido como Pepão, Klaus foi executado com ao menos cinco tiros nas costas, quando entrou em uma galeria comercial, no último dia 3, na avenida Leogildo Dias Vieira.
O endereço, que fica no bairro Itaguá, é o mesmo no qual fica a sede de uma empresa — segundo a polícia, usada de fachada — por meio da qual ele e a sócia, Lucile Andrade Nascimento Couto, 51, lavavam dinheiro dos jogos ilegais gerenciados por ambos.
Como revelado pelo Metrópoles, a mulher teria encomendado a morte de Pepão, por ao menos R$ 30 mil. Ela é viúva de Moacir Ribeiro Couto, apontado como o patriarca do clã de contraventores, atuante na cidade litorânea há 45 anos.
O próprio Pepão confessou, como mostra investigação da Polícia Federal (PF), explorar o jogo do bicho, do qual assumiu o controle a pedido do ex-sogro Moacir, após o patriarca do clã ficar doente, em meados de 2019.
Desde então, Pepão passou a ser a principal liderança da quadrilha. Ele contava com a ajuda do filho Klaus Couto Munch, o Cacau, 31 anos, apontado como o número 2 na hierarquia do bando, além do irmão, Ralph Viana Munch, 59, que ocupava a função de gerente da organização criminosa — como mostram registros judiciais, obtidos pela reportagem.
Com a morte do patriarca do clã, em 19 de fevereiro de 2022 — que era avô de Cacau por parte de mãe — Lucile e Pepão começaram a divergir sobre a administração do esquema de jogos ilegais.
Ela está foragida desde o último dia 11, quando a Justiça decretou as prisões temporárias dela e de Douglas de Oliveira, detido na ocasião. Ele pilotou a embarcação usada pelo assassino de Pepão para fugir, como mostra investigação da Polícia Civil.
O pistoleiro não havia sido identificado ou preso até a publicação desta reportagem.
Como Pepão chefiava o bando
Investigação da PF, feita com base em interceptações telefônicas, mostra que Pepão ocupava a posição de “liderança superior” na organização criminosa.
Os diálogos sugerem que ele trabalhava para uma família, envolvida no jogo do bicho há 45 anos, para a qual passou a colaborar desde 2009 — segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Foi quando, para lavar os milhões de reais gerados por dezenas de bancas de apostas, ingressou como sócio na empresa de fachada Couto, Munch e Nascimento, fundada em 2001 para vender e locar imóveis.
Cacau, filho e liderança
Filho de Pepão, Cacau sabia que o avô Moacir explorava o jogo do bicho e que o pai havia assumido o negócio, após o avô ficar doente, como consta em registros do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Investigações policiais indicam que ele, atualmente com 31 anos, ocupava o posto de liderança financeira da organização criminosa, por meio da qual geria a movimentação do dinheiro em espécie em poder do bando — além de saber a localização dos montantes.
Assim como o pai e o tio, Ralph Viana Munch, Cacau foi condenado por lavagem de dinheiro, por usar a Couto, Munch & Nascimento para converter a renda ilegal em ativos lícitos.
Gerente do baixo escalão
Os documentos judiciais obtidos pelo Metrópoles mostram ainda que Ralph Viana Munch atuava como gerente da organização criminosa.
A responsabilidade dele era a de coordenar a atuação de membros do baixo escalão da quadrilha, estando abaixo somente do irmão e do sobrinho na hierarquia do bando — aos quais prestava contas.
Mensagens interceptadas de Ralph mostram que a quadrilha coordenava, até o fim de 2018, ao menos 126 cambistas do jogo do bicho.
O diálogo, no qual consta a informação, foi feito com Antônio Carlos Ribeiro Júnior, o Juninho, que era responsável em recolher o dinheiro nas bancas de aposta. O valor total movimentado pela organização criminosa não é mencionado na investigação — no documento, é afirmada a geração de milhões de reais, provenientes dos jogos ilegais.
Pai, filho e tio foram condenados, em primeira instância, a 10 anos por integrar organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Pepão foi assassinado quando respondia ao processo em liberdade. Seu filho e irmão seguem como réus, respondendo à denúncia fora da cadeia. A defesa deles, assim como a de Lucile não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.
Fonte: www.metropoles.com