Câmeras de segurança registraram o veículo do servidor público Edson Aparecido Campolongo, identificado como autor de 18 ataques a ônibus em São Paulo, em movimento por vias da região metropolitana da capital (veja vídeo abaixo). O carro é da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), empresa onde Edson trabalha há mais de 30 anos como motorista.
O delegado seccional de São Bernardo, Domingos Paulo Neto, informou que a polícia chegou até o servidor público justamente após identificar o Volkswagen Virtus branco nas imagens, em vias onde havia ocorrido ataques.
“Ele é motorista do chefe de gabinete [do CDHU]. Servia esse chefe há cerca de um ano. Por coincidência, este chefe de gabinete mora em São Bernardo e trabalha em um órgão público no centro de São Paulo. Todos os dias, esse veículo está em deslocamento de São Bernardo para a capital”, afirmou Paulo Neto.
Segundo a Polícia Civil, o investigado confessou ser o autor de pelo menos 18 ataques em São Bernardo do Campo, São Paulo e Santo André. Durante o interrogatório, Edson alegou que praticou os ataques para “consertar o Brasil” e “tirar o país do buraco”, mas reconheceu que “fez merda” e “não tem nada a ver o que fez”, disse o delegado. Os investigadores não acreditam que a real motivação do servidor público tenha sido essa.
Edson contou ainda ter recrutado o irmão, Sergio Aparecido Campolongo, de 56 anos, que participou de ao menos dois ataques. Ambos tiveram a prisão preventiva solicitada e acatada pela Justiça. Sergio se apresentou nessa quarta-feira (23/7) no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de São Bernardo do Campo.
Veja:
Edson Campolongo mora em Taboão da Serra, também na Grande São Paulo, e tem perfil ativo nas redes sociais, onde publica constantes críticas contra o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
No domingo (20/7), dois dias antes de ter sido levado à Delegacia Seccional de São Bernardo, na região metropolitana, na condição de investigado, ele estava compartilhando vídeos em seu Facebook.
Identificação de autor de ataques a ônibus
Foram apreendidos bolas de aço, estilingues e apetrechos em endereços ligados a Edson. Ele disse na delegacia que parte dos objetos foi comprada ainda no ano passado e que escolhia os alvos “aleatoriamente”.
Em imagem capturada por uma câmera de segurança, o suspeito aparece lançando um coquetel molotov em um coletivo (veja abaixo). A jaqueta usada por ele nas imagens foi identificada como um indício de autoria.
Edson e o irmão, Sergio, podem responder por dano qualificado e atentado contra serviço de utilidade pública. Para a investigação, o fato de Edson ter realizado o vandalismo em série o diferencia dos demais suspeitos detidos em meio à onda de ataques, os quais foram flagrados em atos individuais.
Mais de 800 ataques a ônibus em SP
A cidade de São Paulo registrou mais um ataque na madrugada desta quinta-feira (24/7), na Avenida Washington Luís, na zona sul da capital.
Desde 12 de junho, 544 veículos do sistema municipal de transporte foram depredados, segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte (SMT) e a SPTrans. Já a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), que administra os ônibus intermunicipais, informou que foram registrados 291 casos de vandalismo entre 1° de junho e segunda-feira (21/7). Ou seja, mais de 800 ocorrências foram registradas na região metropolitana de São Paulo nos últimos dois meses.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o motorista relatou à Polícia Militar que o veículo estava sem passageiros quando foi atacado. O caso foi registrado como dano no 27° DP (Dr Ignácio Francisco) e a perícia foi acionada.
Até o momento, 16 suspeitos foram detidos em razão da onda de vandalismo. “As forças de segurança do estado seguem empenhadas na identificação e detenção dos autores de ataques a ônibus”, diz a SSP.
As investigações estão sendo conduzidas pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), com o apoio de unidades regionais e da Divisão de Crimes Cibernéticos (Dcciber).
O departamento reforça a importância de que as empresas de transporte coletivo formalizem os boletins de ocorrência para colaborar com as investigações. Paralelamente, a Polícia Militar intensificou o patrulhamento em todo o estado por meio da “Operação Impacto – Proteção a Coletivos”.
Motivação dos ataques
- A equipe de investigação considera mais de uma hipótese como motivação dos atos de vandalismo, como disputa entre as empresas de ônibus e desafio de internet, mas evita apontar uma linha de investigação principal, conforme apurou a reportagem com pessoas ligadas ao Deic.
- O diretor do Deic de São Paulo, Ronaldo Sayeg, afirmou em coletiva de imprensa em 3 de julho que a única linha de investigação afastada, por ora, é a de uma ação articulada pelo crime organizado.
- A possibilidade de desafios on-line já havia sido ventilada pelo próprio vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD), que comentou sobre as ocorrências no litoral paulista.
- O delegado do Deic, Fernando Santiago, afirma que, com base na suspeita de desafios na internet, está sendo feito um trabalho de monitoramento das plataformas digitais, mas até agora não há nada concreto em relação a essa linha de investigação.
- Na capital, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) criticou a Polícia Civil e reconheceu a demora em elucidar as causas e descobrir os autores das depredações.
- O prefeito discute a possibilidade de colocar policiais militares dentro dos coletivos.
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte (SMT) e a SPTrans, em nota, reiteram o repúdio aos atos de vandalismo registrados no sistema de transporte e afirmam que seguem fornecendo todas as informações necessárias para auxiliar nas investigações.
A SPTrans reforça a orientação para que as concessionárias comuniquem imediatamente todos os casos à Central de Operações e formalizem as ocorrências junto às autoridades policiais. “Cabe ressaltar que a empresa é obrigada a encaminhar o veículo para manutenção, substituindo-o por outro da reserva técnica, que realizará a próxima viagem programada, garantindo a continuidade do serviço prestado aos passageiros. Caso isso não ocorra, a empresa é penalizada pela viagem não realizada.”
Fonte: www.metropoles.com