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Lixo internacional no litoral de São Paulo aumenta 500% em cinco anos

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Lixo internacional no litoral de São Paulo aumenta 500% em cinco anos

O lixo internacional encontrado no litoral de São Paulo aumentou 500% em cinco anos, segundo a ONG Ecologia em Movimento (Ecomov). Em uma ação realizada em 12 de julho nas praias de Itaguaré e Guaratuba, em Bertioga, foram registrados mais 32 resíduos de fora do Brasil, como desodorantes e temperos.

O lixo é identificado pela equipe da ONG por meio de QR codes, sites ou rótulos presentes nas embalagens. Na ação mais recente, dos 73 kg de resíduos encontrados, 2,3 kg eram de lixo internacional, acumulados entre a faixa de areia e uma embarcação. A maior parte era de origem chinesa (82%).

O presidente da Ecomov, Rodrigo Azambuja, destaca que uma das coletas realizadas no início de julho foi considerada inusitada, já que o lixo encontrado estava em uma área de preservação ambiental da Fundação Florestal em Bertioga. Dentre os produtos identificados estão temperos, desodorantes e garrafas de água.

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As ações recentes demonstram um cenário que parece piorar com o passar do tempo: em 2019, primeiro ano em que a ONG computou os dados no litoral paulista e no Vale do Ribeira, foram encontrados 220 resíduos. Já em 2024, o número saltou para 1.128.

No total, dos 4,7 mil itens de lixo internacional coletados entre 2019 a 2024, 74,4% são da China, 12,4% da Malásia e 7,8% dos Estados Unidos. Dentre os itens mais inusitados encontrados está um botijão de gás chinês.

A principal área onde são encontrados os resíduos internacionais é em Peruíbe, a cerca de 139 quilômetros da capital paulista. Entre 2023 e 2024, foram identificados 1.200 itens só nesse local.

Além da quantidade, o que choca também é a composição: em algumas das coletas foram encontrados produtos com Gamazyme BTC, um corrosivo nocivo para organismos marinhos e que pode causar lesões oculares em humanos.

Um dos resíduos recentes que provam o caráter internacional do lixo é uma água mineral produzida e comercializada exclusivamente no mercado chinês.

Água encontrada em Bertioga na coleta do dia 12 de julho que é exclusiva do mercado chinês

Os resultados levaram à abertura de um inquérito civil no Ministério Público de São Paulo (MPSP) junto ao Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) de Santos, para denunciar e apurar a origem dos objetos descartados.

De onde vem o lixo?

Para o professor Alexander Turra do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e especialista em poluição marinha, o aumento na quantidade de lixo internacional nas praias do litoral paulista se relaciona diretamente ao transporte marítimo de cargas e pessoas e de atividade pesqueira. “Os resíduos produzidos pelas embarcações, em muitas das vezes, são lançados no caminho ou próximo ao porto de destino como forma de evitar o custo dessa disposição final de forma adequada, que tem regramento por lei”.

Outro problema encontra-se na má gestão desses resíduos, comprometendo a capacidade de reciclagem. O professor explica que em alguns casos os resíduos orgânicos e os resíduos plásticos acabam se misturando, gerando um odor desagradável no ambiente das embarcações. “Para resolver esse problema, os donos acabam lançando esse chorume e esse material no mar”, comenta.

Turra aponta que uma solução possível para esse cenário é fazer a separação do lixo a bordo de forma adequada, separando o material reciclável do material orgânico. Outra possibilidade é o investimento em tecnologias que promovam o início da reciclagem ainda dentro das embarcações, para reduzir o volume das embalagens e do material reciclado.

“Tecnologias desse tipo não só permitem que a embarcação pague menos pelo material que é descartado, devido ao menor volume, como também gera uma matéria-prima que pode ser comercializada pela própria embarcação. Então, algo que originalmente geraria prejuízo acaba gerando renda e receita”.

Confira abaixo os número de resíduos de lixo internacional computados pela Ecomov por ano:

  • 2019: 220 resíduos de 13 países
  • 2020: 400 resíduos de 14 países
  • 2021: 600 resíduos de 18 países
  • 2022: 900 resíduos de 19 países
  • 2023: 1.300 resíduos de 13 países
  • 2024: 1.218 de 20 países

“Falta muito para que nossa legislação seja rígida em cumprimento da lei internacional Marpol, que impõe regras de descarte em uma distância de 80 até 300 km da barra. Continuamos com nossa representação junto ao Ministério Público denunciando esse crime ambiental silencioso”, comenta Azambuja.

Fonte: www.metropoles.com