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Diálogo e convergência: a chave para um futuro com produção e conservação

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Diálogo e convergência: a chave para um futuro com produção e conservação

Em um mundo pressionado por múltiplas crises — como a emergência climática, a perda acelerada da biodiversidade e a insegurança alimentar — e a urgência de produzir mais e de forma mais sustentável, com práticas regenerativas, é indispensável mobilizar todos os setores da sociedade. Frente à complexidade desses desafios, o debate público muitas vezes se vê marcado por fragmentação e polarização. 

Nesse cenário, é fundamental o impulsionamento de redes multissetoriais: espaços de escuta e construção conjunta em que mesmo atores historicamente antagônicos se reúnem em torno da necessidade de alcançar consensos viáveis. A capacidade de mediar interesses diversos, identificar propósitos comuns e transformar divergências em colaboração tem sido um diferencial crucial para enfrentar problemas que nenhuma das partes, isoladamente, é capaz de resolver. 

É com esse espírito que a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura atua. Fundada há dez anos, a rede consolidou-se na promoção de propostas concretas para a transição para uma economia de baixo carbono, por meio do diálogo estruturado e a construção de soluções pactuadas para o uso sustentável da terra.

Hoje, a Coalizão Brasil reúne mais de 430 membros dos mais distintos setores —privado, financeiro, organizações da sociedade civil e academia. Essa representação ampla e diversificada de atores permite que a rede contribua na formulação de políticas públicas e estratégias pautadas por evidências científicas, com potencial real de implementação e economicamente viáveis.

Durante essa última década, mesmo atravessando diferentes ciclos políticos e econômicos, a agenda climática avançou no Brasil. A taxa de desmatamento no país registrou queda de 32,4% em 2024, de acordo com o MapBiomas, em comparação ao ano anterior. A agricultura de baixo carbono ganhou força, com expansão das áreas onde são aplicadas tecnologias que reduzem emissões na produção e, também, práticas regenerativas. 

Nesse período, a Coalizão contribuiu com propostas para que políticas como o Plano ABC+ e o Plano Safra pudessem ter maior impacto positivo para a agropecuária. Também enviou sugestões para a elaboração do Planaveg (Plano Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa), a formulação do mercado regulado de carbono brasileiro e para a definição das metas climáticas brasileiras (NDC), entre outras políticas. Essas conquistas são frutos de construção coletiva, escuta ativa e articulação entre atores que, na rede, encontraram espaço para convergir. 

Os complexos desafios de uma agenda de desenvolvimento baseada no uso sustentável da terra demandam construções coletivas e soluções multissetoriais. Em contextos de polarização política, é fundamental que se criem espaços institucionais de confiança para um diálogo propositivo.

Atualmente, a Coalizão Brasil tem participado ativamente da construção do Plano Clima, que permitirá ao país alcançar sua atual NDC e a diferentes setores entenderem seu papel na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Trabalha, ainda, na construção de um Observatório de Pagamento por Serviços Ambientais para dar visibilidade às iniciativas que já existem no país e que conservam ecossistemas, solo, biodiversidade e recursos hídricos. Essa plataforma será construída com parceiros, a exemplo do Observatório da Restauração e Reflorestamento, outra iniciativa da rede, e que mapeia as áreas e projetos em restauração no Brasil. Esses são alguns exemplos dos trabalhos sobre os quais a Coalizão Brasil, por meio de seus membros, tem se debruçado. 

O ambiente cultivado por essa rede busca alcançar consensos sobre temas complexos e, quando há divergências que não podem ser superadas de imediato, adota a prática do consentimento, avançando com base em acordos mínimos viáveis. Essa forma de operar transforma antagonismos em confiança e confiança em ação.

O Brasil, que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e possui, segundo o MapBiomas, 64,5% de seu território coberto por vegetação nativa, tem plenas condições de liderar o caminho rumo a uma economia de baixo carbono, resiliente à crise climática e justa para todos. Mas isso só será possível se continuarmos apostando no diálogo como fundamento de decisões legítimas, eficazes e com real capacidade de implementação. 

Os complexos desafios de uma agenda de desenvolvimento baseada no uso sustentável da terra demandam construções coletivas e soluções multissetoriais. Em contextos de polarização política, é fundamental que se criem espaços institucionais de confiança para um diálogo propositivo, e é isso que a Coalizão Brasil se propõe a ser, investindo em propostas técnicas, baseadas em ciência e construídas coletivamente.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.