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De Jungle Fight a Telecatch: eventos esportivos dominam emendas em SP

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De Jungle Fight a Telecatch: eventos esportivos dominam emendas em SP

Os eventos esportivos consomem R$ 1 a cada R$ 3 do total de emendas parlamentares enviadas pelos vereadores da cidade de São Paulo. Os gastos vão de projetos de iniciação ao esporte para crianças até midiáticas lutas, como Jungle Fight e telecatch.

As emendas, geralmente, são usadas pelos políticos para resolver problemas relacionados a suas bases eleitorais. A lógica que funciona em escala federal, porém, não se repete na capital.

Levantamento feito pelo Metrópoles mostra que a Secretaria de Esportes recebeu R$ 81 milhões dos R$ 256 milhões liberados no ano passado, o equivalente a 32% do total.

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Por outro lado, apenas 7% dos gastos foram para a saúde e 11% para obras. Neste ano, 41% das emendas foram enviadas para a área de esporte: R$ 12,3 milhões. O valor representa mais de cinco vezes o recurso de emendas voltadas à saúde.

De Jungle Fight a telecatch

As lutas, algumas delas transmitidas na TV aberta ou pay-per-view, parecem ser os eventos preferidos dos vereadores.

Entre os eventos que recebem valores rotineiramente está o Jungle Fight, um dos maiores eventos de MMA da América Latina. Neste ano, o vereador George Hato (MDB) teve a liberação de R$ 437 mil em emendas voltadas ao evento. No ano passado, Hato (com centurão nas mãos, na foto em destaque) mandou R$ 1 milhão para a mesma luta.

Os eventos rendem dividendos eleitorais para os vereadores, que muitas vezes aparecem como estrelas. George Hato, por exemplo, aparece ao lado de um dos vencedores em uma postagem.

Outro evento de grande porte é o BJJ Stars, voltado ao jiu-jitsu. No ano passado, ele recebeu emendas que totalizam R$ 1 milhão, dos vereadores João Jorge (MDB), Sidney Cruz (MDB), Major Palumbo (PP) e Fernando Holiday (PL).

Até o telecatch, modalidade também conhecida como luta livre, que mescla o esporte e encenação, recebeu emendas dos parlamentares paulistanos. O evento BWF Telecatch recebeu R$ 650 mil somados dos vereadores Beto do Social (Podemos) e Rodolfo Despachante (União).

Uma das entidades preferidas pelos vereadores, a Confederação Brasileira de Karatê Interestilos (CBKI) é organizadora do Lutar e Vencer, evento para jovens e crianças recorrente que recebeu R$ 10 milhões em emendas de sete vereadores no ano passado.

Conforme a reportagem mostrou, um dos custos do projeto é locação de tatames no modelo de diárias. Ela paga R$ 42 por dia por cada placa de tatame, incluindo montagem, desmontagem, substituição e transporte.

O gasto por seis meses é de R$ 50 mil por 200 placas — a reportagem localizou placas com as medidas previstas por R$ 100, ou seja, com o mesmo valor seria possível comprar mais do que o dobro de unidades. A CBKI defendeu o modelo de aluguel de tatames, afirmando que a compra não atende a necessidade do serviço.


Veja os tipos de gastos com emendas em 2024

  • Parcerias e projetos sociais: R$ 123,4 milhões (48,1%)
  • Eventos e contratações artísticas: R$ 85,5 milhões (33,3%)
  • Obras: R$ 29,5 milhões (11,5%)
  • Aquisição de equipamentos e mobiliário: R$ 11,3 milhões (4,4%)
  • Insumos e despesas recorrentes: R$ 3,9 milhões (1,5%)
  • Zeladoria: R$ 1,8 milhão (0,7%)
  • Outros: R$ 1 milhão (0,4%)
  • Total geral: R$ 256,7 milhões

Veja as secretarias que mais receberam

  • Secretaria Municipal de Esportes e Lazer: R$ 81,3 milhões (40,5%)
  • Secretaria Municipal de Cultura: R$ 55,9 milhões (27,9%)
  • Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania: R$ 30,1 milhões (15,0%)
  • Secretaria Municipal da Saúde: R$ 18,3 milhões (9,1%)
  • Secretaria Municipal de Turismo: R$ 15,2 milhões (7,5%)

Gastos inflacionados com jogos

  • Conforme o Metrópoles mostrou nessa segunda-feira (3/8) emendas parlamentares dos vereadores da capital paulista sustentam uma indústria milionária de eventos com gastos inflacionados promovidos por entidades do terceiro setor e concentração de fornecedores.
  • Os vereadores paulistanos gastaram R$ 200 milhões (78%) dos R$ 256 milhões liberados no ano passado em atividades do tipo – que se encaixam nas categorias de eventos esportivos, culturais e parcerias com projetos sociais.
  • O Metrópoles analisou centenas de páginas de prestações de contas de entidades do terceiro setor que realizam projetos que vão de aulas de videogame a lutas marciais.
  • A reportagem encontrou uma série de escolhas das entidades que inflam os custos dos eventos, como alugar itens por valores muito superiores aos preços de compra dos bens no mercado e alto percentual de gastos em atividades secundárias – como, por exemplo, dezenas de diárias de fotógrafos que apresentam material de qualidade amadora.
  • Uma das beneficiadas, a Federação Estadual das Ligas de Esportes Amadores do Estado de São Paulo (Felfa-SP) recebeu mais de R$ 8,5 milhões desde 2024 da prefeitura.
  • Naquele ano, ela foi contemplada por uma emenda de R$ 300 mil do vereador Marcelo Messias (MDB), para o patrocínio de uma ação de jogos de videogame chamado Fifa Pro E Sports 6, voltada a jovens da periferia.
  • No caso dela, um ponto que chama a atenção são valores gastos com locações de equipamentos. A prestação de contas da ONG mostra que foram gastos R$ 63 mil relativos a 32 diárias de 10 Playstations 4.
  • A diária de cada equipamento sai por R$ 199 – a reportagem localizou em uma plataforma na internet opção na faixa dos R$ 350 por mês.

Embora o aluguel seja uma opção comum em parcerias, a aquisição de bens, em vez da locação, é permitida desde que seja mais barata e siga critérios técnicos. Se a entidade optasse por comprar os equipamentos novos, com cada aparelho na faixa dos R$ 3 mil, seria possível adquirir 21 videogames, que poderiam ser reutilizados em outras edições deste mesmo programa.

Os gastos também incluem R$ 70 mil para um gerador, que tem entre suas funções garantir que equipamentos não queimem, embora o valor deles seja muito menor do que o da locação da fonte extra de energia. Entre os diversos profissionais contratados para a ação, estão 32 diárias de um técnico eletricista (total de R$ 12,1 mil) e também de uma fotógrafa profissional (total de R$ 17,5 mil).

Em nota, a Felfa-SP afirmou que os serviços e valores foram analisados e aprovados pela Secretaria Municipal de Esportes, com parecer técnico favorável, e que os custos envolvidos são compatíveis “com a natureza das atividades, a estrutura exigida e os critérios técnicos estabelecidos nos editais públicos”.

Sobre a locação dos videogames, a entidade justifica que, além do uso dos equipamentos pelos jovens, os valores incluem seguro, manutenção, montagem e assistência técnica. Segundo a entidade, comprar os equipamentos poderia “imobilizar” o patrimônio “com alto índice de depreciação” e exigir “estrutura de guarda e manutenção contínua”.

Em relação ao gasto com gerador para que nenhum videogame queime, a entidade diz que o investimento se justifica para “garantir a continuidade da atividade, a segurança dos participantes e a integridade dos bens locados”. Sobre o aluguel de peças dos skates, em vez de comprar os equipamentos, a entidade afirma que a decisão decorre da “análise técnica de custo-benefício”.

Fonte: www.metropoles.com