São Paulo – O boxe é feito de vitórias gloriosas e derrotas dramáticas. Nesta quinta-feira (1/7), o Metrópoles encontrou um grupo de jovens lutadores na sede do Projeto Na Luta, no Jardim Vergueiro, na zona sul de São Paulo. Entre exercícios, esquivas, jogo de pernas e golpes repetidos em frente ao espelho, fizeram uma pausa para assistir a luta de Keno Marley. Sentados no ringue, concentraram-se nas imagens transmitidas por um aparelho celular. Com os olhos fixos na luta contra o francês Lazizbek Mullojonov, torciam e comentavam sobre a atuação do atleta baiano. “Baixa o queixo”, “Dominar a luta” e “Pra cima dele, Keno”, repetiam.
A luta era decisiva. No boxe olímpico não há disputa do terceiro lugar. Tem ouro, prata e dois bronzes. A vitória de Keno garantiria esse bronze. Mas não foi dessa vez. Keno, uma das grandes esperanças de medalha do boxe brasileiro nas Olimpíadas de Paris 2024, perdeu a luta na categoria peso-pesado (até 92kg) nas quartas de final. O grupo que assistia tudo em cima do ringue, embora confiante, aceitou o resultado e aplaudiu Keno.
“Aprendo com a dificuldade. Sem os erros, não tem como acertar”, refletiu João, 11, pedindo licença para cumprimentar os colegas de treino no ginásio do Projeto Na Luta. Focado, o garoto sonha em ser campeão olímpico. “Vou golpeando, me movimentando”, diz sobre sua estratégia no ringue. Com a inocência preservada de uma criança, ainda não sabe que sua frase serve também para a vida.
Para Bryan Rafael, 14, suas referências no boxe não são nomes consagrados mundialmente. Nem Muhammad Ali, nem Popó, sua inspiração é o seu professor, Valdemir Junior. “Eles é que são minha motivação”, devolve o atleta.
Um dia antes da Seleção Brasileira de Boxe Olímpico embarcar para Paris, os jovens encontraram os atletas no centro de treinamento localizado em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. Acompanharam o treino, trocaram ideias com nomes consagrados do esporte, fizeram vídeos, fotos e exercícios com nomes como Abner Teixeira e Barbara Santos, a Bynha.
Foi lá que conheceram Keno Marley, baiano que tem uma história parecida com a de muitos ali. “Pergunta pro Keno onde ele começou a treinar”, sugeriu Átila “Cebola”Rodrigues, professor de boxe há mais de trinta anos. Posturado, o garoto repetiu a pergunta. “Foi na Bahia, num projeto social, com 11 anos. Depois vim pra São Paulo, com 13 anos, e comecei a treinar aqui”, respondeu o atleta. “Aí você vai ver ele na Olimpíada levando a medalha de ouro e um dia você vai tá lá ó”, comentou o treinador.
De volta ao presente, e com o fim da luta, retornaram ao treino. “Vamos mandar uma mensagem pro Keno?”, sugeriu Cebola. Imediatamente, todos reuniram-se e gritaram juntos: “Força!”. Eles entendem que o boxe não é sobre troca de socos, bater e apanhar. É esporte, enfrentamento, técnica, esquiva, velocidade, tempo. “O boxe é lindo”, comenta o avô de um deles que observa o treino do neto.
Planos para sexta-feira? “Treinar e torcer por Bia Ferreira. Com a vitória sobre a holandesa Chelsey Heijnen, garantiu o bronze e se tornou a maior medalhista do boxe nacional em Jogos Olímpicos entre homens e mulheres.
Fonte: Oficial