São Paulo — O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), enviou uma petição à Justiça paulista, nesta sexta-feira (2/8), requerendo busca e apreensão e quebra dos sigilos telefônico e telemático de Rosângela Crepaldi, uma das 111 pessoas indiciadas pela Polícia Federal (PF) na máfia das creches, que acusou o emedebista em vídeo de ter recebido dinheiro desviado do esquema. Ele nega.
Na petição, o advogado de Nunes também pede que cinco veículos de imprensa que noticiaram as acusações, entre eles o Metrópoles, sejam obrigados a retirar o “conteúdo” do ar. Ao Metrópoles, o advogado Daniel Bialski negou que a intenção seja censurar a imprensa, mas reiterou que o pedido é para que o vídeo com a acusação e as transcrições do que foi declarado por Rosângela sejam excluídos. O pleito ainda será analisado pela Justiça.
Rosângela é apontada pela PF como uma das principais operadoras de um suposto esquema de desvio de dinheiro de creches terceirizadas da prefeitura. Segundo a investigação, um grupo de entidades, escritórios de contabilidade e empresas “noteiras” movimentou R$ 1,5 bilhão entre 2016 e 2020.
No relatório que indiciou mais de 100 suspeitos, a PF decidiu continuar a investigação sobre possível envolvimento de Nunes no caso. Uma empresa da família do prefeito e ele próprio receberam dinheiro de uma das firmas investigadas, em 2018. Em vídeo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, ao qual o Metrópoles também teve acesso, Rosângela afirma que o depósito feita na conta de Nunes era referente a “repasses” decorrentes do esquema.
A petição, assinada pelo advogado Daniel Bialski, afirma que Nunes pode sofrer “dano irreparável, acentuado pelo período eleitoral”, com a permanência das reportagens sobre as acusações.
“É que a sobrevinda desse material, de natureza clandestina e caluniosa, em pleno período eleitoral, tornado público há quinze dias do início das pré-campanhas, não ocorre por acaso”, diz a petição. O documento chama as afirmações de Rosângela de um conteúdo “mentiroso” e “criminoso”.
O processo pede a abertura de um inquérito policial para apurar delito de calúnia, uma ação de busca e apreensão nos endereços de Rosângela e quebra dos sigilos telefônico e telemático dela. Pede ainda que seja emitida uma ordem de expresso impedimento para que ela divulgue tal conteúdo.
Além disso, a petição traz uma lista com links de reportagens do Metrópoles, da Folha de S. Paulo, do Poder360, do Política ao Minuto, da Carta Capital e do Youtube, requerendo que seus conteúdos sejam retirados do ar.
A defesa de Rosângela foi procurada, mas informou que ainda não tinha conhecimento da petição.
Entenda o caso
A Polícia Federal (PF) concluiu nesta semana parte de uma inquérito aberto em 2019 para investigar um suposto esquema criado para desviar recursos públicos de creches terceirizadas da prefeitura da capital e indiciou 111 pessoas. No caso do prefeito, o delegado Adalto Machado afirmou que é necessário que a investigação continue.
A Acria, uma organização social que gerencia oito creches na zona sul e foi presidida por uma ex-funcionária de Nunes chamada Elaine Targino, é suspeita de ter desviado recursos públicos por meio da simulação de compras que não foram feitas.
Nos balanços, para que o desvio fosse ocultado, segundo a investigação, a Acria se valia de notas fiscais emitidas por uma empresa individual, a Francisca Jacqueline Oliveira Braz — que era gerenciada por Rosângela, segundo ela afirma no vídeo que Nunes quer tirar do ar.
A Acria recebeu R$ 1,3 milhão da empresa de Francisca ao longo de cinco anos. A empresa, além disso, fez uma transferência de R$ 20 mil para a empresa da família de Nunes, a dedetizadora Nikkey Serviços, em 2018. Na mesma data da transferência, o prefeito, que na época era vereador, depositou dois cheques da empresa em suas conta, no valor total de R$ 11,6 mil.
Nunes nega que os cheques que depositou em sua conta sejam recorrente de um “repasse” ilegal. Ele afirma que o pagamento só pode ser decorrente de serviços feitos por sua dedetizadora à entidade contratada pela prefeitura.
Fonte: Oficial