São Paulo — Piscina pública na República. Parque do Mercadão. Estádio olímpico. Diversos projetos de arquitetura e urbanismo e propostas para mudar a cara da cidade não faltaram na história. O arquiteto carioca Lucas Perpétuo listou alguns deles no X (antigo Twitter) e o conteúdo viralizou. “Nunca imaginei que as pessoas se interessavam tanto por arquitetura”, disse ao Metrópoles.
A construção da Piscina Pública, no meio da Praça da República, está entre os projetos lembrados. Paulo Mendes da Rocha, arquiteto que adorava o conceito de piscinas (vide o Sesc 24 de maio), pretendia unir moradores em um espaço lúdico.
Agora imagine a Avenida Paulista só para pedestres. Em 1967, o arquiteto Nadir Cury ganhou um concurso para urbanizar a avenida. A proposta indicava jardins suspensos, além do fechamento total da Paulista. As obras foram iniciadas e interrompidas, mas até hoje é possível encontrar esses túneis debaixo da Paulista.
Com a Paris 2024 chegando ao fim, destaque para a não-concretizada campanha para a “São Paulo 2012”. Iniciada quando Marta Suplicy (PT) era prefeita e sob o governo do atual ministro e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), projeto previa novas linhas de metrô e parques. Boa parte do custo prometido seria concentrado no estádio olímpico, uma estrutura com capacidade para 75 mil pessoas que seria erguida na Água Branca, na zona oeste. O Rio de Janeiro venceu a disputa interna.
Outro projeto foi o parque e o lago ao lado do Mercadão que visava revitalizar a área ao redor do Mercado Municipal. Pretendia aliviar as enchentes da região e também mudar sua estética. O terminal de ônibus sairia, abrindo assim um espaço de integração para a cidade com destaque para os prédios históricos. Com 17 mil metros quadrados, o parque teria áreas verdes e serviria como um parque alagável seguindo a lógica de cidade esponja. “O único projeto que São Paulo tem é levantar prédio indiscriminadamente em todos os lugares possíveis e imagináveis”, escreveu um usuário num fórum do Reddit sobre o Parque do Mercadão. “Ia ficar podre, o que já jogam na rua iam jogar no lago”, opinou outro.
Quem sabe…
Já o projeto de Hidrovias Urbanas, de Alexandre Delijaicov, prevê a utilização dos rios de SP, assim como sua limpeza, para transporte público e de cargas. É defendido entre especialistas como solução viável. “Ele estudou durante mais de duas décadas para produzir esse projeto e, junto do Grupo Metrópole Fluvial da FAUSP, elaborou uma pesquisa muito profunda.”, explicou Lucas.
Lucas Perpétuo usa as redes sociais para compartilhar, com uma linguagem acessível e fontes de pesquisa, seu conhecimento sobre o tema. Não é a primeira vez que viraliza e sua história também está relacionada à maneira como se comunica.
Morador da Cidade de Deus, formou-se em 2021 com com uma bolsa do ProUni numa faculdade do Rio de Janeiro. Mas tudo começou com seu avô, o Seu Geraldo. “Ele fazia um trabalho parecido, construindo casinhas. Batiam na porta para tirar dúvidas sobre habitação”. O avô foi um autodidata que fazia até arcos romanos. “Mas ele não sabia que eram arcos romanos. Foi um exercício muito bom repassar, de uma maneira simples, o que eu estava aprendendo para meu avô”.
Lucas define-se como um arquiteto periférico e inspira-se no trabalho realizado por Ester Carro em favelas de São Paulo. “A arquitetura surgiu como uma necessidade básica de habitação, com o tempo tornou-se segregativa e passou a ser vista como um produto de luxo. Mas a arquitetura em essência não é isso. Aqui, por exemplo, nós temos a medicina gratuita. Em outros países existe arquitetura gratuita. É um produto essencial para a sociedade. Não no sentido visual da estética, mas de segurança e dignidade”, completa o arquiteto.
Fonte: Oficial