São Paulo — O diretor do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD) do estado de São Paulo, Maurício Freire, afirmou, nessa quinta-feira (15/8), que a posição em que os corpos foram encontrados indica que os passageiros do avião da VoePass podem ter sido alertados sobre a possibilidade de queda. Todos os 62 ocupantes da aeronave morreram no acidente aéreo, ocorrido na última sexta-feira (9/8) em Vinhedo, interior de São Paulo.
De acordo com a perícia, grande parte dos passageiros estava com as mãos protegidas, sugerindo uma das posições de “brace” — com a cabeça entre os joelhos, abraçando as pernas. Essa conduta, que pode ter sido recomendada pela tripulação ou adotada por conta própria dos ocupantes ao perceberem o perigo, pode reduzir os impactos de uma aterrissagem forçada.
“De alguma maneira, e aí talvez o Cenipa possa vir a esclarecer esse ponto, grande parte das vítimas encontradas nesse caso estavam com as mãos preservadas. Isso ajudou muito, inclusive naqueles pouco carbonizados”, disse Freire.
“Eu não sei se houve um comando da tripulação de que estavam em emergência, ou se as pessoas perceberam com essa queda acentuada, mas muitos corpos estavam naquela posição, o que não aconteceu na Latam, porque eles estavam pousando normal e de repente a aeronave entrou no prédio. Então acho que isso é fundamental”, afirmou o diretor do IIRGD.
Identificação das vítimas
Freire falou com a imprensa durante entrevista coletiva na Superintendência da Polícia Técnico-Científica, em São Paulo, quando o órgão informou que as 62 vítimas da tragédia tinham sido identificadas.
O IML Centro concentrou os corpos de todas as vítimas da tragédia com o avião da VoePass e ficou fechado para as demais ocorrências.
“Os trabalhos periciais tiveram início na noite de sexta-feira e, mesmo em condições climáticas adversas, foram realizados de forma ininterrupta”, disse Claudinei Salomão, superintendente da Polícia Científica. “No final da tarde de domingo, todos os corpos já tinham sido necropsiados, aguardando apenas identificação.”
Segundo Salomão, todas as vítimas foram identificadas por meio de exames papiloscópicos, odontolegais e antropológicos. “Isso dispensou a necessidade de exame genético, o DNA”, afirmou.
Entre os métodos utilizados estão a comparação de arcadas dentárias dos cadáveres e exames antropológicos, que levam em conta características físicas, como peso, altura, tatuagens e eventuais próteses.
Segundo o diretor do IML, Vladimir Alves dos Reis, 40 corpos foram identificados por meio de exame de papiloscopia, 15 a partir de características físicas e sete usando os dois métodos.
Clima “caótico”
O avião ATR-72 da VoePass em que estavam as vítimas enfrentou uma zona meteorológica altamente crítica por nove minutos, pouco antes da queda. Essa é a conclusão do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), após combinar imagens de satélites e radar associadas às coordenadas geográficas da rota do voo.
Entre 13h10 e 13h19, a aeronave reduziu a velocidade e atravessou nuvens supercongeladas de até -40°C, de acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Lapis. Segundo ele, a aeronave trafegava sob condições meteorológicas “caóticas”.
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a partir das 13h21, a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas.
Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro –, a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros. O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou que o “Salvaero” foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada dentro de um condomínio.
O relatório técnico preliminar da FAB sobre o que pode ter causado o acidente aéreo deve ficar pronto em 30 dias.
O Lapis identificou três possíveis cenários meteorológicos que podem ter contribuído para a queda do avião: turbulência, formação de gelo e ciclone extratropical e fumaça de queimadas.
Fonte: Oficial