São Paulo — A defesa do prefeito da capital e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), pediu à Justiça o arquivamento da investigação da Polícia Federal (PF) que apura um possível envolvimento do emedebista na chamada máfia das creches na cidade.
Responsável pelo inquérito que indiciou 111 suspeitos e pelo pedido de continuidade de investigação do prefeito no caso, o delegado Adalto Machado rebateu a manifestação da defesa de Nunes, listando uma série de suspeitas que ainda pairam sobre o emedebista, que recebeu depósitos de uma empresa acusada de desvio.
O pedido da defesa do prefeito foi feito em 9 de agosto. No documento, os advogados argumentam que o inquérito sobre a máfia das creches já tramita há cinco anos e que, portanto, haveria excesso de prazo. A defesa diz ainda que não há fatos que ligam Nunes ao suposto esquema criminoso.
A defesa do candidato à reeleição afirma também que “bastou se aproximar o período eleitoral, com início da campanha, para, inusitadamente, a imprensa ser comunicada do expediente, propiciando o seu desavergonhado uso eleitoreiro”.
Por fim, os advogados do prefeito afirmam que o arquivamento serviria também para preservá-lo do “fishing expedition” (pesca probatória), “a apropriação de meios legais para, sem objetivo traçado, ‘pescar’ qualquer espécie de evidência, tendo ou não relação com o caso concreto”, segundo conceito descrito pela própria defesa.
Antes de decidir sobre o pedido, a Justiça solicitou a manifestação Polícia Federal sobre o tema. A peça, assinada pelo delegado Adalto Machado, afirma que a petição apresentada pela defesa do prefeito “não condiz com a conhecida qualidade e tecnicidade dos seus subscritores”.
Recebimento de pagamentos
Quanto ao prefeito, “a verdade é que foram colhidos elementos de provas de que ele recebeu R$ 31.590 no dia 27 de fevereiro de 2018, em sua conta pessoal e de pessoa jurídica em nome de terceiros” de uma empresa “noteira”, que servia para emitir notas fiscais frias para justificar gastos públicos com as creches municipais.
“Por si só, esse fato merece uma apuração mais aprofundada ou, se a defesa preferir outro nome, continuidade das investigações”.
O delegado argumentou que, na ocasião, Nunes era vereador e tinha registrado uma empresa dele, a Nikkey, em nome da filha e da esposa. Afirmou ainda que a presidente da entidade gestora de creches investigada, a Acria, era funcionária desta empresa, mas recebeu R$ 49 milhões em repasses da Prefeitura.
Até agora, a investigação, segundo o delegado, identificou que a creche recebeu mais de R$ 1,6 milhão, em valores da época, de supostos fornecedores — duas empresas “noteiras”.
Por isso, a PF listou sete perguntas que, na avaliação do delegado, estão sem resposta. Entre elas, por que Nunes e sua empresa receberam dinheiro de empresas “noteiras” e por que essas empresas fizeram repasses à creche controlada pela funcionária do prefeito.
O delegado da PF citou, ainda, um vídeo, divulgado pela Folha de S. Paulo e também obtido pelo Metrópoles, em que uma das 111 pessoas indiciadas no inquérito, que controlava uma das empresas “noteiras”, diz que os valores do prefeito seriam “repasses”, sem ligação com nenhum serviço lícito.
A Justiça ainda vai decidir se aceita os argumentos da defesa do prefeito ou se concorda com o delegado da PF de que o fluxo de dinheiro da empresa “noteira” para a conta de Nunes precisa de mais esclarecimentos.
Fonte: Oficial