São Paulo — A propaganda eleitoral no rádio e na televisão começa nesta sexta-feira (30/8) em todo o país. Até o dia 3 de outubro, os candidatos a prefeito, vice e vereador terão suas peças publicitárias veiculadas todos os dias, com inserções maiores de segunda à sábado e menores aos domingos.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) definiu o tempo de propaganda para cada candidato com base na representatividade dos partidos e coligações no Congresso Nacional. Em São Paulo, apenas quatro dos dez postulantes à Prefeitura da capital terão direito a veicular suas peças no rádio e na TV: Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSol), José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB).
Candidato à reeleição e com um amplo arco de alianças, formado por 12 partidos, Ricardo Nunes vai ocupar 60% do horário eleitoral gratuito e tem a propaganda televisiva como principal aposta para alavancar seu nome entre os eleitores, após um início de campanha conturbado.
O prefeito tem oscilado negativamente nas últimas pesquisas eleitorais. No começo de agosto, Nunes era citado por 23% dos eleitores no Datafolha e caiu para 19% no levantamento divulgado no dia 22 de agosto.
A queda nas intenções de voto acontece ao mesmo tempo em que Pablo Marçal (PRTB), seu principal rival na disputa pelo eleitorado bolsonarista, cresceu nas pesquisas. O influencer foi de 14% para 21% no último Datafolha, com uma campanha marcada pelo uso intenso, e agressivo, das redes sociais, seu trunfo nestas eleições.
Agora, Nunes ganha uma vantagem estratégica sobre o adversário, que não terá direito ao espaço na TV (saiba mais abaixo). Já nos primeiros episódios do programa eleitoral, o prefeito vai evidenciar seus padrinhos políticos, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Jair Bolsonaro (PL), em uma tentativa de se carimbar como o candidato oficial do ex-presidente nas eleições.
“A gente vai fazer um primeiro programa de apresentação, trazer um pouco da minha história e, obviamente, terá imagens do governador Tarcísio, do presidente Bolsonaro”, contou o emedebista, que terá 6 minutos e meio de propaganda, de um total de 10 minutos distribuídos aos postulantes.
Nunes ainda não fez gravações com Bolsonaro para a campanha — a primeira será durante uma agenda conjunta na Ceagesp, prevista para os próximos dias. A escolha do local é simbólica: o espaço foi comandado pelo vice de Nunes, Coronel Mello Araújo, que foi indicado pelo próprio ex-presidente para compor a chapa com o prefeito.
No primeiro dia, o candidato também usará a TV para falar sobre suas origens, na periferia da zona sul de São Paulo, e contará como se tornou um empresário, além de exibir imagens com a mulher e os filhos.
Lula a qualquer custo
Assim como Nunes, a campanha de Guilherme Boulos (PSol) pretende utilizar o horário eleitoral para reforçar o principal padrinho político do candidato. O psolista é apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e tem o segundo maior tempo de propaganda, com 2 minutos e 22 segundos.
A TV ainda é vista como o principal ativo para atrair os eleitores das classes mais baixas: a campanha de Boulos entende que boa parte do eleitorado ainda não sabe que o candidato é apoiado por Lula.
Por isso, o principal foco das propagandas será justamente o eleitorado das classes C e D. Logo na estreia, Boulos exibirá Lula ao seu lado e em sua casa, na periferia da zona sul da capital, para aproximar sua realidade à do eleitor das classes média e baixa da cidade. Lula fez a gravação com Boulos no sábado passado (24/8).
A campanha buscará apresentar uma faceta mais dócil do deputado para contrapor à pecha de radical que os adversários tentam colar em Boulos. O candidato será mostrado como um pai de família que vive em um lar simples e está disposto a trabalhar pela cidade. Por isso, a orientação foi a de evitar intrigas políticas e não fazer críticas diretas aos adversários, num primeiro momento, para não cansar o eleitor.
Para a cientista política Juliana Fratini, a tendência, no entanto, é que a propaganda televisiva esquente a disputa nos próximos dias, refletindo a tensão já desenhada nas redes sociais desde o início oficial da campanha, em 16 de agosto.
“Vai esquentar ainda mais porque o horário eleitoral vai ser utilizado como um espaço acusatório”, afirma a pesquisadora. Juliana prevê a nova fase da campanha recheada de pedidos de direito de resposta por conta das trocas de acusações.
Marçal, que aparece tecnicamente empatado com Nunes e Boulos nas últimas pesquisas, tende a ser um dos principais alvos dos dois adversários.
Apresentador candidato
O entorno do candidato do PSDB, José Luiz Datena, espera que o início da propaganda eleitoral na TV seja uma oportunidade para impulsionar a campanha, que tem sido morna nas redes. A experiência como apresentador do “Brasil Urgente”, da TV Bandeirantes, onde ele chega a ficar três horas ao vivo por dia, é vista como uma vantagem.
Nas ruas, pessoas o procuram para tirar fotos e gravar vídeos justamente por sua fama no programa policial. O próprio Datena chegou a afirmar, nessa quinta-feira (29/8), que muitos eleitores ainda desconhecem, no entanto, o fato de que ele está concorrendo à prefeitura.
“Teve gente que falou ‘mas o senhor é candidato?’. Tem gente que não sabe ainda que eu sou candidato”, disse o quarto colocado na última pesquisa Quaest, a mais recente divulgada, com 12% das intenções de voto.
Datena afirma que seu “prestígio de apresentador” fez com que ficasse no topo das pesquisas, e reconhece que seu mau desempenho em debates contribuiu para a sua queda nos levantamentos. A expectativa do candidato do PSDB é que a maré vire a seu favor novamente, a partir dos programas gravados. Ele terá 35 segundos na TV e como alvo principal no horário eleitoral as pessoas de baixa renda, com faixa etária mais elevada, e um discurso centrado em segurança pública.
Trajetória pessoal
Com o menor tempo entre os quatro candidatos que aparecerão na TV, apenas 30 segundos, Tabata Amaral (PSB) vai utilizar o espaço para se apresentar ao eleitor. A candidata tem o desafio de aumentar seu conhecimento entre os moradores da cidade — segundo o Datafolha, a deputada federal é conhecida por 61% do eleitorado.
A campanha entende que Tabata tem conseguido chamar a atenção dos eleitores sempre que aparece em debates e sabatinas, e vê potencial no horário eleitoral. A estratégia é aproveitar o espaço para mostrar a origem de Tabata, seus valores e suas realizações para a população.
O passado como aluna prodígio que a levou à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e a relação com a Vila Missionária, bairro periférico onde foi criada, são alguns dos elementos que devem ser trabalhados na TV.
Limitada, assim como Datena, pelo curto espaço de tempo, Tabata vai convidar os eleitores a acessarem suas redes sociais para saber mais sobre suas propostas. É também nas redes que a candidata tem mais espaço para confrontar seus adversários.
Nas últimas semanas, Tabata tem abraçado o posto de antagonista de Marçal, divulgando vídeos sobre a relação de aliados do influencer com nomes ligados ao PCC. O conteúdo teve um retorno positivo para a campanha, furando a bolha dos eleitores já convictos.
Sem horário eleitoral
O direito à propaganda eleitoral na TV e no rádio, assim como o acesso ao fundo eleitoral, é determinado com base no desempenho do partido do candidato nas eleições de 2022.
Para ter acesso ao horário eleitoral, o partido do candidato precisa ter conseguido eleger pelo menos 11 deputados federais, distribuídos em pelo menos nove unidades da Federação; ou ter obtido, no mínimo, 2% dos votos válidos nas eleições para a Câmara dos Deputados, distribuídos em pelo menos nove unidades da Federação, com um mínimo de 1% dos votos válidos em cada um deles.
Pablo Marçal (PRTB), Marina Helena (Novo), Bebetto Haddad (DC), Ricardo Senese (UP), João Pimenta (PCO) e Altino Prazeres (PSTU) não superaram a cláusula de barreira e, por isso, não poderão exibir suas propagandas no horário eleitoral gratuito.
Fonte: Oficial