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Em cartas, chefão do PCC fala do medo de morrer após racha com Marcola

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São Paulo O Metrópoles teve acesso a cartas enviadas da cadeia por um membro do alto escalão do Primeiro Comando da Capital (PCC), para a esposa dele, nas quais o criminoso tenta garantir a própria vida após seu superior direto, da cúpula da facção, protagonizar um racha com Marco Herbas William Camacho, o Marcola.

Reproduções dos manuscritos (leia abaixo) foram localizados pela Polícia Civil após a apreensão do celular de Fabiana Lopes Manzini, presa por tráfico de drogas em junho de 2023, em uma casa na qual estava hospedada em Itaquequecetuba, no interior de São Paulo.

Ela é casada com Anderson Manzini, o Gordo, apontado como braço direito de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho ex-membro da mais alta esfera hierárquica do PCC e que, atualmente, se opõe a Marcola juntamente com Roberto Soriano, o Tiriça, e Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka.

As cartas de Gordo foram escritas no sistema carcerário, de onde foram retiradas pela esposa, que as fotografou e encaminhou para “Sintonias” da maior facção do Brasil, por meio do WhatsApp.

“Recebi um pipa [recado] na penitenciária com as ideias sobre eu estar decretado [de morte]. Eu peguei a pipa e encostei [me aproximei] da Sintonia e apresentei as ideias [satisfações]”, diz um dos trechos obtidos pela reportagem.

Gordo comenta sobre uma movimentação inesperada dentro do sistema prisional, reforçando a ciência sobre um decreto de morte contra ele.

O criminoso está preso desde 2002 por roubo a banco, homicídio e extorsão mediante sequestro.

Satisfação aos sintonias

Em uma das cartas, Gordo tenta dar satisfações, mencionando alguns “sintonias” para os quais elas deveriam ser endereçadas. Os “sintonias” são criminosos com poder decisório na facção.

Um dos chefões mencionados é Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, um dos lideres do PCC na favela da Paraisópolis, na zona sul paulistana.

“Não sei se foi passado lá na P2 [Presidente Venceslau ] algum comunicado que eu não tenho ideia nenhuma pendente com o comando [PCC] ou com o crime […] quero pedir [ajuda] para vocês, meus parceiros, pois independente de qualquer turbulência que passei, eu continuo sendo a mesma pessoa e foi por isso que peço para o pessoal tentar te explicar e dizer que eu jamais serei motivo de decepção para meus amigos, parceiros e para o comando”.

Além dos solicitações para garantir a própria vida, Gordo também propõe negócios para Piauí e outro “sintonia”, identificado como Xuxu, que seriam “sintonias finais”, compondo um núcleo central com poder decisório na organização criminosa, como sugere investigação da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Mogi das Cruzes.

“Fala para o Xuxu e o Piauí que eu quero apresentar um primo meu, primo meu de sangue, e ele tem uma situação que acredito ser boa para a família”.

“Banco digital do crime”

O tal primo é João Gabriel Yamawaki, preso no último dia 6 durante uma operação deflagrada pela Polícia Civil. Ele, conforme afirmado ao Metrópoles pelo delegado Fabrício Intelizano, titular da Dise, é um dos donos de um “banco digital do crime”.

A instituição financeira, juntamente com 19 empresas, teria movimentando R$ 8 bilhões. Parte do montante bilionário também foi movimentado por membros da facção criminosa com o intuito de bancar políticos e suas campanhas para as eleições municipais deste ano.

Foi a delegacia especializada da Grande São Paulo que apreendeu o celular de Fabiana, por meio do qual, as cartas e o banco do crime foram descortinados.

Casamento ajudou polícia

Anderson Manzini é casado com Fabiana Lopes Manzini, que foi presa em junho 2023, após a polícia apreender 28 quilos de maconha e oito de cocaína em uma casa, na qual ela estava hospedada em Itaquaquecetuba.

Quando descobriram o elo de Fabiana com Gordo, a Dise solicitou a quebra do sigilo telemático da mulher e teve acesso às mensagens de WhatsApp dela. O teor revelou os planos do PCC para se infiltrar na política em cidades do litoral paulista, região metropolitana e interior do estado.

Em meio à investigação, um banco digital, cujo responsável é João Gabriel, também entrou no radar da polícia.

“Esse valor de R$ 8 bilhões é o valor dos bloqueios que pedimos na Justiça referentes à movimentação de todos os suspeitos investigados, dentre os presos e os que ainda estão soltos”, explicou o delegado.

O titular da Dise acrescentou que o PCC usou algumas contas do “banco” para “remeter valores para a compra de drogas no Paraguai”, principal via de escoamento de cargas de entorpecentes para o Brasil, por via terrestre, e cuja fronteira é controlada pela facção paulista.

 

Indicações de políticos

As investigações mostram que Fabiana mantinha contato com João Gabriel Yamawaki, para que ele indicasse os candidatos que seriam financiados pelo PCC.

A mulher assumiu os negócios do marido desde que ele foi preso e é apontada pela polícia como membro da maior facção criminosa do Brasil. Nas trocas de mensagens, João Gabriel fala para Fabiana ver com o Gordo “sobre as campanhas de vereadores”.

Ele menciona nomes de parceiros da facção, disponíveis para disputar uma vaga no Legislativo, nas cidades de Ubatuba, no litoral, além de Mogi das Cruzes e Santo André, ambas na região metropolitana de São Paulo.

“Fala ainda que tem interesse em lançar candidatos em cidades da Baixada Santista, Campinas e Ribeirão Preto“, diz trecho de relatório policial, obtido pelo Metrópoles. Os três nomes indicados por João Gabriel já foram identificados pela polícia.

Além de ser primo de Gordo, o primo banqueiro foi batizado na facção e seria indicado, como mostram as investigações, para compor a Sintonia Geral dos Caixas, setor responsável pela movimentação financeira e operações de câmbio da facção.

Ao todo, seis membros do PCC são alvo da investigação na qual outras 26 pessoas também estariam envolvidas com os negócios do crime organizado.

As defesas dos suspeitos mencionados nesta reportagem não foram localizadas. O espaço segue aberto para manifestações.

Fonte: Oficial