São Paulo — A candidata à Prefeitura de São Paulo pelo PSB, Tabata Amaral, afirma que as cenas abertas de uso de drogas estão “comendo a cidade por dentro” e promete acabar com as 72 cracolândias contabilizadas pelo governo estadual na capital em quatro anos de mandato. Em sabatina promovida pelo Metrópoles, a deputada federal diz que não vê outra forma de lidar com a situação a não ser enfrentando o problema de frente.
“Eu não consigo conceber que eu serei prefeita de uma São Paulo que acha normal ter 72 cracolândias como a gente tem. Não é só a região central, não é um lugar, é um sistema. São 72 pontos. Eu estava recentemente na Penha, tem um [ponto lá]. Ermelino Matarazzo tem um. Ceagesp tem um. Avenida Yervant [Kissajikian], zona sul, tem outro. Isso está comendo a cidade por dentro”, diz Tabata.
Tabata foi a primeira a participar da série de sabatinas do Metrópoles com os cinco candidatos à Prefeitura de São Paulo mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. Além dela, também foram convidados Guilherme Boulos (PSol), Ricardo Nunes (MDB), Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB). As entrevistas vão ao ar entre os dias 10 e 20 deste mês. O primeiro turno ocorre no dia 6 de outubro.
A candidata diz que atuará em três frentes para lidar com o consumo de drogas a céu aberto em diferentes pontos da cidade, em especial na Cracolândia que fica na região da Luz, no centro paulistano: o combate ao crime organizado, o tratamento para os dependentes químicos e a assistência social. “Historicamente, a prefeitura olha para o doente ou olha para o bandido, mas a gente não teve ainda uma experiência que olhasse para os dois com a mesma intensidade”, afirma.
“Vai dar um trabalho do cão. Provavelmente, é a coisa mais difícil que tem diante da gente. É trabalhar com o Ministério Público, com liderança religiosa, com a imprensa. Mas eu não consigo pensar numa cidade que olhe com orgulho para cima e [esteja] entregue às 72 cracolândias”, diz Tabata.
Segurança e tecnologia
A candidata prevê ainda criar um sistema integrado de gestão de dados para combater a criminalidade. O projeto vai reunir informações de áreas como zeladoria, segurança pública e até dados meteorológicos para pensar soluções para as diferentes regiões da cidade.
A iniciativa é inspirada em um programa criado em Nova York, ainda nos anos 1990. Chamado de “Compstat”, sigla para “Compare Stats”, ou comparar estatísticas em tradução livre, o projeto norte-americano chegou a ser copiado em 2019 pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), que anunciou na época o “Compstat Paulistano”. Tabata diz que o projeto de Covas, no entanto, nunca saiu do papel de fato.
“O que o Bruno colocou do Compstat Paulistano, na prática, não saiu do papel. Primeiro porque houve um atraso gigantesco na aquisição das câmeras [de monitoramento]. Segundo, que a gente nunca foi pra uma fase que é essencial, que é você ter um trabalho conjunto das polícias, ter isso na agenda do prefeito e fazer um trabalho territorializado”, afirma Tabata.
A candidata diz que irá fazer reuniões mensais com as polícias e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) para debater os dados. Questionada sobre a dificuldade histórica de integração entre a prefeitura e as polícias, que estão sob comando do governo estadual, Tabata diz que é a única candidata que tem diálogo tanto com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quanto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na sabatina, a candidata também ataca os adversários na disputa, principalmente o influencer Pablo Marçal (PRTB), e fala sobre temas como educação, propondo escolas temáticas no ensino integral, mobilidade, defendendo o redesenho das linhas de ônibus, e combate a enchentes.
Confira abaixo os principais assuntos da sabatina e a íntegra da entrevista no canal do Metrópoles no YouTube:
Educação
Tabata afirma que vai criar escolas em tempo integral “temáticas”, voltadas para áreas como música, tecnologia, línguas e esportes. A ideia é que as crianças tenham atividades no contraturno escolar ligadas a assuntos específicos, de acordo com a área de interesse dos alunos.
A distribuição de temas entre as escolas vai ser estudada com a rede e deverá levar em consideração a demanda dos estudantes por cada assunto. A candidata também promete fazer a municipalização de escolas da rede estadual de educação depois que melhorar a qualidade de ensino na rede da prefeitura.
“Quando isso acontecer e eu puder dizer: ‘pai, mãe, na escola municipal, a merenda é melhor, é em tempo integral, seu filho está aprendendo mais’, aí sim, eu volto o foco para trazer quem está fora. Mas antes é melhorar para quem está dentro”, diz a candidata.
Mobilidade
Apesar de prometer em agendas de campanha que vai fazer a maior expansão da rede cicloviária da cidade, Tabata não detalhou quantos quilômetros vai construir e onde eles estarão, afirmando apenas que “o foco é a periferia”.
Segundo a candidata, o desenho final da nova malha cicloviária vai depender de outro projeto seu: o de redesenhar as linhas de ônibus da cidade.
“Não dá para falar de transporte público, o que envolve ciclovia e ciclofaixa, sem um grande redesenho das linhas de ônibus. Para que elas sejam mais diretas, mais eficientes, para que a gente tenha menos perda de dinheiro no processo, mas para que o trabalhador da periferia possa ir para o seu trabalho o mais rápido possível”, diz.
A candidata afirma que lugares que tiveram grande crescimento populacional nos últimos anos, por exemplo, devem receber novas linhas de ônibus, e que o redesenho levará em consideração os trajetos já atendidos pelo metrô e pelo trens da CPTM.
Enchentes
Tabata afirma que uma de suas principais preocupações para a cidade neste momento são as enchentes que acontecem todos os anos no verão. “Essa é uma das coisas que mais me angustiam, até como candidata, porque eu sei que eu vou chegar em janeiro [data da posse], a gente vai ter chuva forte e uma prefeitura que não se planejou para isso”, diz.
A deputada federal argumenta que para diminuir os impactos dos temporais na vida das pessoas pretende começar a trabalhar no problema assim que for eleita, antes da posse. A ideia é terminar ainda neste ano o Plano Municipal de Redução de Riscos, que traz alternativas para lidar com os pontos críticos para desastres ligados a fatores ambientais na cidade.
“A prefeitura mapeou 800 pontos muito críticos que, na primeira chuva, já dá merda, tem desmoronamento, tem alguma área que alaga. Dos 800 pontos críticos, o prefeito Ricardo Nunes fez planos apenas para 100. Ou seja, tem 700 pontos mapeados que não têm plano nenhum. Essa é a primeira coisa que eu espero fazer antes de assumir a prefeitura”, promete.
Depois de criar um plano a curto prazo para reduzir os riscos para a população destes locais, a candidata afirma que vai se debruçar para desenvolver o Plano Municipal de Adaptação às Mudanças Climáticas, que trará soluções a longo prazo que devem ser buscadas pela capital, como o aumento de áreas verdes para melhorar a drenagem do solo, por exemplo.
Fonte: Oficial