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APA Baleia Franca sob ataque: sociedade protesta contra tentativa de redução

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APA Baleia Franca sob ataque: sociedade protesta contra tentativa de redução

Com um intervalo de menos de dez dias, a deputada federal Geovania de Sá (PSDB-SC) apresentou dois projetos de lei com o mesmo alvo: a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, situada no litoral de Santa Catarina. O primeiro visa a exclusão de toda parte terrestre da unidade de conservação marinha-costeira, já o segundo, apresentado nove dias depois, susta inteiramente o decreto que criou a APA, para sua extinção completa. Em resposta às propostas, formou-se uma rede de apoiadores da área protegida e foi lançado um apelo em sua defesa.

Até o fechamento do texto, na manhã desta quarta-feira (30), o abaixo-assinado contava com cerca de 3 mil assinaturas.

“Reduzir ou extinguir a APA da Baleia Franca é um retrocesso ambiental que vulnerabiliza a conservação de áreas ambientalmente frágeis e socialmente importantes”, alerta o texto do manifesto popular, que cita a especulação imobiliária como uma das ameaças à biodiversidade e ao modo de vida das comunidades tradicionais que vivem na região.

A APA da Baleia Franca, criada em 2000, possui uma área total de cerca de 156 mil hectares, sendo quase 80% em território marinho. Seu território protege tanto as enseadas com maior concentração de baleias-francas (Eubalaena australis) quanto áreas terrestres de costões rochosos, dunas, banhados e lagoas, igualmente relevantes para diversas espécies – e para populações extrativistas – ao longo de aproximadamente 130 quilômetros da costa centro-sul catarinense, de Florianópolis à Rincão.

“O projeto de lei configura um grande retrocesso socioambiental, não somente pela recuperação da espécie Baleia-franca-austral nos últimos anos, mas também por descartar a relevância de uma área protegida que há 25 anos vem cumprindo uma Política do Estado Brasileiro na proteção e recuperação dos biomas Marinho-costeiro e da Mata Atlântica”, ressalta o analista ambiental e atual chefe da APA, Stéphano Diniz Ridolfi.

A APA lidera a lista de UCs federais mais visitadas do país, com mais de 8,6 milhões de visitantes em 2024, grande parte deles interessados na observação das baleias.

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As baleias são protagonistas na APA da Baleia Franca. Foto: Carolina Bezamat/ICMBio

Os projetos de lei

No dia 11 de março deste ano, a deputada Geovania apresentou o Projeto de Lei nº 849/25, que busca excluir toda parte terrestre da APA da Baleia Franca, a partir da linha de preamar [limite que marca até onde “vai” o mar durante as marés mais altas]. Em sua justificativa,  a parlamentar afirma que a existência da APA dificulta o “crescimento econômico” das cidades costeiras e que o foco da conservação deveria ser somente marinho.

Apenas nove dias depois, dia 20 de março, a deputada resolveu trazer uma artilharia mais pesada e apresentou o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) nº 130/25 para sustação do ato normativo que criou a APA. Ou seja, para extingui-la por completo, terra e mar.

De acordo com Geovania, é necessário “reavaliar a eficácia e o impacto socioeconômico de sua delimitação atual” e a extinção da APA visa “corrigir essas distorções”. 

A parlamentar cita ainda supostas “irregularidades no processo de constituição da APA” e dá como exemplo a ausência de um “conselho consultivo”, à época da criação, que garantisse a representatividade e gestão participativa da unidade de conservação.

Vale ressaltar que, conforme estabelecido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), a criação de UCs deve ser precedida de estudos e de uma consulta pública com participação da sociedade. 

Os conselhos, em si, são estabelecidos posteriormente. Em APAs, eles devem incluir o órgão responsável e outros órgãos públicos, assim como organizações da sociedade civil e da população residente. 

No caso da APA da Baleia Franca, o primeiro conselho foi instituído em 2006 e segue ativo, com a participação de representantes de 37 entidades de diversos setores da sociedade.