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Avião da Voepass: um ano após acidente, FAB não terminou investigação

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Avião da Voepass: um ano após acidente, FAB não terminou investigação

Quase um ano depois da queda do avião da Voepass que matou 62 pessoas em Vinhedo, no interior de São Paulo, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Força Aérea Brasileira (FAB) ainda não divulgou o relatório final sobre o caso. O documento pode apontar as possíveis causas do acidente aéreo.

A investigação foi aberta pela FAB no dia da tragédia, em 9 de agosto de 2024. Cerca de um mês depois, o Cenipa divulgou um relatório preliminar com os primeiros detalhes sobre o voo 2283.

O documento mostrou que os tripulantes comentaram sobre uma falha no sistema da aeronave responsável por evitar o acúmulo de gelo nas asas do avião. A investigação mostrou ainda que o sistema foi ligado e desligado diversas vezes durante o voo. A conversa entre os tripulantes ficou registrada no gravador de voz da cabine.

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Os pilotos não chegaram a declarar emergência, nem reportaram condições meteorológicas adversas, mas, às 13h21, a aeronave, que tinha saído às 11h58 do aeroporto de Cascavel, no Paraná, com destino ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, começou a perder altitude.

A imagem do avião caindo em parafuso até atingir o terreno de uma casa em Vinhedo, no interior paulista, às 13h22, chocou o país. Todos os 58 passageiros e os 4 tripulantes morreram na hora, em um acidente que entrou para a história como um dos mais fatais da aviação brasileira.

A hipótese de que uma eventual formação de gelo poderia ter contribuído para a queda do avião circulou em grupos de pilotos, logo após o acidente. Nos dias seguintes, denúncias de funcionários da Voepass sobre condições precárias das aeronaves da empresa também se espalharam rapidamente nas redes.

A confirmação oficial sobre o que pode ter causado de fato a queda do voo 2283 depende, no entanto, das investigações do Cenipa, que se debruça sobre todos os detalhes técnicos.

Em nota ao Metrópoles, o Cenipa afirmou que a fase de coleta de dados sobre o voo da Voepass foi finalizada e que a etapa atual é de análise das informações reunidas.

“Devido à complexidade desse acidente, esta investigação conta com uma equipe multidisciplinar formada por investigadores e especialistas em fator operacional (pilotos e mecânicos), fatores humanos (médicos e psicólogos) e fator material (engenheiros mecânicos e aeronáuticos), além de outros profissionais de áreas afins”, diz a nota.

Segundo o Cenipa, o relatório final apresentará os fatores que “contribuíram ou que podem ter contribuído para desencadear o acidente, emitindo eventuais recomendações com a finalidade de aprimorar a segurança de voo”. O órgão afirma ainda que a conclusão da investigação vai acontecer “no menor prazo possível”.

Investigação na PF

Em paralelo aos trabalhos do Cenipa na FAB, a Polícia Federal (PF) também investiga o acidente — neste caso, com foco em entender a eventual responsabilidade criminal de envolvidos na tragédia.

Em audiência na Câmara dos Deputados em outubro de 2024, o diretor do Instituto Nacional de Criminalística da PF, Carlos Eduardo Palhares Machado, afirmou que o órgão investigaria inclusive a rotina de trabalho dos pilotos que comandavam o avião.

“[A PF vai realizar a] análise das condições do pilotos, se descansaram, se não descansaram, se a rotina estava em desacordo com as regulamentações, se eles foram submetidos a uma carga maior ou estresse de trabalho. Isso tudo vai ser analisado”, disse o diretor.

Na época, a Voepass informou que “ambos os pilotos estavam aptos para realizar o voo, com todas as certificações de pilotagem válidas e treinamentos atualizados.”

Além da PF, a Polícia Civil de São Paulo também abriu um inquérito para apurar o acidente. Em março de 2025, uma decisão judicial transferiu toda a investigação do caso para a esfera federal.


Relembre o caso

  • Em 9 de agosto de 2024, o avião de matrícula PS-VPB saiu do Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva, em Cascavel, no Paraná, às 11h58. A aeronave tinha como destino o Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro, em Guarulhos, São Paulo.
  • Às 13h21, o avião começou a perder altitude e caiu um minuto depois em um condomínio de casas, causando uma explosão. Os destroços da aeronave se espalharam pelos imóveis vizinhos ao local da queda, deixando um cenário de destruição.
  • Os trabalhos de retirada dos corpos e identificação das vítimas duraram vários dias e demandaram uma força-tarefa no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo.
  • Vários familiares das vítimas saíram de suas cidades e viajaram até a capital paulista para fornecer material genético e informações que pudesse ajudar na identificação dos corpos. Neste período, as famílias receberam atendimento psicológico e auxílio de organizações como o Ministério Público e a Defensoria Pública.
  • Na época, o presidente da Voepass, Comandante Felício, gravou um vídeo lamentando o ocorrido e dizendo que a empresa seguia diretrizes internacionais para “garantir a segurança de todos”.
  • Em setembro de 2024, os familiares criaram uma associação para, entre outros, cobrar a responsabilização da Voepass pelas mortes.

Depois do acidente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deu início a uma operação assistida na Voepass, que culminou, em junho deste ano, com a cassação do Certificado de Operador Aéreo (COA) da Passaredo Transportes Aéreos, principal empresa do grupo Voepass.  Segundo a Anac, foram identificadas “falhas graves e persistentes” na companhia.

O que diz a Voepass

Em nota, enviada ao Metrópoles, a empresa destacou que tragédia mobilizou toda a estrutura, humana e institucional, para garantir apoio integral às famílias, “nossa prioridade”.

“Temos atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e seguimos empenhados na resolução das questões indenizatórias, já em estado bastante avançado. Mantemos o suporte psicológico ativo e continuamos apoiando homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste ano. Seguimos colaborando com as investigações em andamento, reafirmando nosso compromisso com a apuração dos fatos e contribuindo com a melhoria contínua nos processos de segurança da operação aérea”, diz o texto.

Sobre a medida adotada pela Anac, a Voepass garantiu que “ainda que não há absolutamente nenhuma ligação entre o acidente ocorrido em agosto de 2024 e a medida cautelar”.

” VOEPASS informa que sempre atuou cumprindo com as exigências rigorosas que garantem a segurança das suas operações aéreas e reitera que sua frota sempre esteve aeronavegável e apta a realizar voos, seguindo exigências de padrões de segurança internacionais, inclusive tendo a certificação IOSA, um requisito de excelência operacional emitido apenas para empresas auditadas IATA. Em 30 anos de atuação, em um setor altamente regulado, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi a prioridade máxima da companhia.”

Fonte: www.metropoles.com