São Paulo — O Cemitério da Consolação, no centro de São Paulo, já foi palco de um casamento, e não um casamento qualquer. O poeta Oswald de Andrade e a escritora Patrícia Galvão, a Pagu, casaram-se em frente ao jazigo dos familiares de Oswald em 5 de janeiro de 1930.
Francivaldo Almeida Gomes, de 57 anos, conhecido como Popó, contou a história em frente ao túmulo de Oswald, morto em 1954, enquanto realizava uma visita guiada no cemitério. Todas as segundas-feiras, às 14h, o guia leva um grupo de pessoas para conhecer parte dos 76.340 m² do local.
Ambos grandes nomes do modernismo brasileiro, presentes na Semana de Arte Moderna de 1922, Pagu e Oswald também se casaram na Igreja da Penha, em seguida. Mas a troca de alianças no cemitério serviu para que “a união fosse registrada perante os descendentes do noivo”, explicou Popó.
Em “O Romance da época anarquista ou Livro das horas de Pagu que são minhas”, uma espécie de diário que escrevia com Pagu desde maio de 1929, Oswald anotou:
“1930, 5 de janeiro. Nesta data, contrataram casamento a jovem amorosa, Patrícia Galvão e o crápula forte, Oswald de Andrade. Foi diante do túmulo do Cemitério da Consolação, à Rua 17, n.º 17, que assumiram o heroico compromisso. Na luta imensa que sustentaram pela vitória da poesia e do estômago, foi grande o passo prenunciador, foi o desafio máximo. Depois se retrataram diante de uma igreja. Cumpriu-se o milagre. Agora, sim, o mundo pode desabar”.
Pagu e Oswaldo fundaram o jornal “O Homem do Povo”, no qual Patrícia tinha uma coluna feminista chamada “A Mulher do Povo”, em que criticava o comportamento das elites e clamava pelo fim da submissão feminina. Em 1931, os dois se filiaram ao Partido Comunista Brasileiro.
Pagu foi a pivô da separação de Tarsila do Amaral e Oswald, em 1929. Ao lado de Raul Bopp, a pintora e o escritor haviam fundado o Movimento Antropófago e a Revista de Antropofagia, que teve sua última edição em agosto daquele ano.
O casamento de Oswald e Pagu durou cinco anos, tendo fim em 1935.
Fonte: Oficial