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Decisão de Trump sobre mineração submarina acende alerta global

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Decisão de Trump sobre mineração submarina acende alerta global

Similar aos decretos brasileiros, uma “ordem executiva” do presidente estadunidense Donald Trump, assinada no último 24 de abril, despreza salvaguardas socioambientais para acelerar a mineração em alto mar, em águas internacionais. 

A medida incentiva empresas do país a extrair minerais do fundo marinho sem aderir à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar ou à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, sigla em Inglês), que regula esse tipo de mineração.

O objetivo seria “estabelecer os Estados Unidos como líder global em exploração responsável de minerais do fundo do mar, tecnologias e práticas de desenvolvimento e como parceiro de países que desenvolvem recursos minerais do fundo do mar”. Confira aqui a ordem executiva.

Contudo, a medida atropelou a definição de regras globais para exploração de minerais em alto-mar, desprezou o Tratado do Fundo Mar, aprovado por 169 países desde março de 2023, e consensos com quase cinco décadas para uso menos danoso dos recursos marinhos. 

Agora, entidades ambientalistas, indígenas, de cientistas e jovens se mobilizam pedindo a suspensão da mineração em alto mar, enquanto organismos internacionais avaliam opções legais e diplomáticas para responder à ação estadunidense.

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Trump governa atacando conquistas da agenda socioambiental. Foto: Rawpixel/National Archives and Records Administration/Creative Commons

Em carta, a secretária-geral da ISA, a brasileira Letícia Carvalho, taxou a decisão do governo Trump como “surpreendente” diante da colaboração histórica do país nas negociações da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos para regular a exploração nesses ambientes.

“Em um momento em que a comunidade global trabalha coletivamente para desenvolver uma estrutura regulatória robusta, qualquer ação unilateral corre o risco de minar os princípios fundamentais que norteiam a governança do mar profundo, há décadas”, destaca o documento.

Carvalho também rebateu acusações de que o regramento da mineração em alto-mar estaria atrasado para beneficiar ambientalistas. “Essa perspectiva é ingênua e desrespeita o árduo trabalho dos estados-membros em uma negociação altamente complexa”. As normas podem vir até o fim do ano. 

Maior detentora de pedidos para exploração marinha junto à ISA, a China avaliou a medida estadunidense como “egoísta” e uma “violação do direito internacional”. O país alertou que isso pode deslanchar uma “corrida sem lei” por recursos, com sérios danos à diplomacia e à gestão ambiental.

Enquanto isso, os riscos da mineração em águas oceânicas profundas também são lembrados por organizações como o WRI, sigla em Inglês da ong Instituto de Recursos Mundiais.

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A vida marinha e o equilíbrio climático são ameaçados pela mineração em alto mar. Foto: Rawpixel/Creative Commons

A entidade aponta que, ao contrário do imaginado, o mar profundo não é escuro, frio e desprovido de vida, mas sim uma região com alta biodiversidade e altamente relevante para economias e o equilíbrio climático planetário.

“Até o momento, dezenas de milhares de espécies foram encontradas no oceano profundo. Pode haver milhões a mais. Somente na Zona Clarion-Clipperton, uma área de interesse da mineração em alto mar, pesquisadores descobriram mais de 5 mil novas espécies”, destaca.

Cientistas, conservacionistas e demais setores atentos à proteção marinha alertam que tais espécies e ecossistemas levariam de milhares a milhões de anos para se recuperar dos prejuízos da mineração em águas profundas. 

Além disso, a exploração pode prejudicar pescadores e outros grupos que dependem da saúde dos ecossistemas naturais, bem como o clima global, pois o oceano é o maior sumidouro de carbono – absorve 25% das emissões globais de dióxido de carbono. 

Conforme determinados países, empresas e economias, a mineração em alto-mar é necessária para fornecer ao mundo mais itens como cobre, zinco, níquel, ouro e prata. Eles são usados em produtos como painéis solares e baterias de carros elétricos, que ajudariam a enfrentar a crise do clima.