São Paulo — Quem acompanha a eleição pela Prefeitura de Sorocaba, sétima cidade mais populosa de São Paulo, tem a sensação de que a cidade vive em dois universos paralelos.
De um lado, está o mundo das encenações e dancinhas do atual prefeito, Rodrigo Manga (Republicanos), que acumula milhares de seguidores nas redes sociais. Nos vídeos, ele é visto fazendo coreografias típicas do TikTok e até desfilando pela cidade com patinetes elétricos e óculos de sol espelhados.
Do outro, o relato de uma cidade em guerra. Colete à prova de balas e denúncias de perseguição política dão o tom da campanha do deputado estadual Danilo Balas (PL), que vende uma Sorocaba dominada pelo crime organizado e por esquemas de corrupção.
Balas é o candidato do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e tem apoio de bolsonaristas influentes como o secretário da Segurança Pública (SSP), Guilherme Derrite (PL), que é natural de Sorocaba e tem na cidade o seu berço eleitoral.
O candidato do PL também explora sua trajetória na Polícia Federal (PF), onde foi professor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho 03 do ex-presidente.
Já Manga é o líder nas pesquisas de intenção de voto, com chances de conquistar a reeleição ainda no 1º turno. Mais de 50 pontos percentuais atrás do seu adversário, segundo levantamento do instituto Paraná Pesquisas, Balas luta para adicionar competitividade à sua campanha, explorando acusações contra Manga.
“Perseguição”, coletiva e operação da PF
Na noite do último domingo (8/9), Danilo Balas voltava de uma reunião com amigos em um condomínio fechado de Sorocaba quando, segundo relata, o carro em que estava com sua esposa e a filha de 6 anos começou a ser perseguido por uma Mercedes-Benz prata. O carro acelerava e freava contra o do deputado, dando a impressão de que queria causar um acidente.
O episódio foi reportado em boletim de ocorrência registrado por Balas e enviado à imprensa. De acordo com o relato dele à Polícia Civil, a Mercedes estava adesivada com uma propaganda de Rodrigo Manga, e estaria sendo dirigida por seguranças do atual prefeito – a acusação não foi confirmada pela polícia ou por câmeras de segurança.
Danilo Balas diz ser vítima de uma perseguição política e passou a usar um colete à prova de balas como uniforme, em uma estética que se encaixa com o discurso de segurança pública. Antes de ser candidato à Prefeitura de Sorocaba, ele trilhou seu caminho até conseguir o mandato de deputado estadual explorando sua passagem pela Polícia Federal.
Para denunciar o suposto atentado, Balas convocou uma coletiva de imprensa. No dia seguinte à denúncia, a PF cumpriu 19 mandados de busca e apreensão na Secretaria de Saúde de Sorocaba, em uma operação que apura suposto esquema de desvio de recursos públicos ocorridos entre 2020 e 2023.
As investigações não focam diretamente no prefeito, mas envolvem contratos firmados antes e durante a gestão de Manga, em especial pelo seu secretário de Saúde, Cláudio Pompeo. A suspeita é que esses contratos teriam sido direcionados para duas empresas e uma entidade assistencial, supostamente controladas por um ex-servidor público municipal.
Para Balas, a operação corrobora sua versão de que a prefeitura está “tomada por corrupção”. Em suas redes sociais, o candidato ainda cita uma denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) contra a Secretaria de Educação da gestão de Manga, investigada por suposto superfaturamento na compra de um imóvel, e fala em “infiltração do PCC” em Sorocaba.
A última acusação é baseada no fato de a cidade estar na lista dos dez municípios alvo da Operação Munditia, do MPSP, que investiga a participação da facção criminosa em contratos públicos no interior de São Paulo.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a Câmara e a prefeitura da cidade mantinham contratos com empresas suspeitas de relação com a facção criminosa, relação que ainda está sob investigação.
Popularidade de Manga
Líder nas pesquisas, o prefeito e candidato à reeleição, Rodrigo Manga, responde às acusações de Balas com ar de deboche: no dia em que foi deflagrada a operação da PF contra supostos desvios na Secretaria de Saúde, Manga publicou em suas redes sociais uma “Nota de esclarecimento”.
O vídeo começa com o prefeito com semblante sério, dizendo que irá se pronunciar sobre uma polêmica de “grande repercussão na mídia”, mas termina com o candidato sorrindo e falando de uma proposta de sua campanha.
Nem as acusações de corrupção na gestão ou de um suposto elo com o PCC parecem não surtir efeito. Manga é do partido do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e recebeu o apoio de Derrite nas eleições de 2020, mas hoje adota uma postura independente — apesar se apresentar como aliado do bolsonarismo.
No último levantamento Paraná Pesquisa, publicado em 29 de agosto, Manga registrou 72,1% das intenções de votos na pesquisa estimulada, enquanto Danilo Balas somou 6,9%, empatado em segundo lugar com Paulinho do Transporte (PT).
Apelo a Derrite e ao bolsonarismo
Mesmo com o discurso enfático contra o atual prefeito, Danilo Balas enfrenta dificuldade de subir nas pesquisas. Manga parece dominar o eleitorado de direita, que é maioria em Sorocaba — na cidade, Bolsonaro venceu com 61% nas eleições presidenciais de 2022.
Para ganhar relevância, Balas investe em seus padrinhos políticos. O perfil do deputado coleciona vídeos com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG),Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e o senador Marcos Pontes (PL). Mas no espectro dos apoiadores bolsonaristas, a figura mais frequente é a de Guilherme Derrite.
Derrite e Balas se conhecem antes de os dois entrarem na política, quando o secretário atuava na Polícia Militar (PM) e o deputado, na Polícia Federal. Em defesa do candidato, o secretário de Segurança Pública aparece em vídeos de apoio e em stories, destacando Balas como um sinônimo do combate à corrupção em Sorocaba.
Fonte: Oficial