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Desmatamento, clima e crimes torram o país

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Desmatamento, clima e crimes torram o país

Esta semana, capitais de norte a sul foram novamente cobertas pela fumaceira do fogo que devora a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado e outros biomas. A conta cai no desmate imparável, na secura reforçada pelo desvario climático e em incêndios acesos por bandidos buscando lucros políticos.

Passam de 4,5 mil os focos de incêndios no Brasil contados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só desde o fim de semana. Já foram mais de 107 mil desses focos registrados a partir de janeiro, um aumento de 75% sobre o mesmo período de 2023. 

As principais grandes regiões naturais atingidas são a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado, mas quase todos os brasileiros respiram a fumaceira tóxica, um sinal democrático da dilapidação de florestas a savanas, de vida selvagem, de fontes de água e outros serviços ambientais.

A tragédia pirotécnica nacional bate recordes, ao menos até a próxima seca, e não poupa parques nacionais e outros tipos de unidades de conservação, ou nem mesmo quem empresta suor e sangue combatendo o implacável fogaréu. 

Até serem extintas por agentes de governos e voluntários, as chamas engoliram por 5 dias o Parque Nacional da Serra do Cipó e a Área de Proteção Ambiental Morro da Pedreira, em Minas Gerais.

Combate a incêndio no entorno do Parna da Serra do Cipó (MG). Foto: Pedro David/ICMBio/Divulgação

Chamas também são combatidas nas regiões do Parque Nacional do Araguaia, no Tocantins, do Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense, de reservas privadas (RPPNs) como a do Sesc Pantanal e da Terra Indígena Perigara, no Mato Grosso. 

No mesmo estado, o brigadista Uellinton Lopes dos Santos (39) perdeu a vida enfrentando incêndios na Terra Indígena Capoto Jarina, em São José do Xingu.

Já a vida selvagem paga novamente um alto preço no Pantanal, que ainda se recuperava dos mega incêndios de quatro anos passados. Na época, foram estimados em 17 milhões os animais que morreram queimados.

Ainda não há um balanço deste ano, contudo mais de 560 espécimes silvestres foram resgatados vivos, como cervo-do-pantanal e anta. Já os mortos incluem veado-campeiro, jacarés, serpentes e também antas. 

Emas (Rhea americana) tentam fugir de incêndio no Mato Grosso do Sul. Vídeo: Redes Sociais/Divulgação.

Chamas ilícitas

A Polícia Federal investiga se foram criminosos os incêndios em vários estados, sobretudo administrados por opositores ao governo federal. Em São Paulo, as chamas começaram ao mesmo tempo, na última sexta-feira. 

Os prejuízos econômicos explodem em vários setores. Só o da cana-de-açúcar, perdeu R$ 350 milhões no estado, o maior produtor nacional. Efeito colateral, os preços do etanol e do açúcar devem subir.

Já em Goiás, um suspeito foi preso por atear fogo em fazendas. Ele havia recebido R$ 300. Inúmeros animais silvestres e de criação foram queimados vivos.

No mesmo estado, o maior incêndio da história no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros também foi criminoso. Na época, em 2017, mais de 65 mil ha torraram, ou ¼ da unidade de conservação.

Todavia, punições severas a esse tipo de crime são coisa rara no Brasil e a bandidagem é agraciada até com fartos financiamentos públicos. 

Parte das 478 fazendas ligadas ao “Dia do Fogo”, que incendiou o Pará em agosto de 2019, seguem queimando e desmatando e conseguiram créditos rurais somando R$ 200 milhões de bancos públicos e privados.

Ao centro, o preso por atear fogo em propriedades rurais em Bom Jardim de Goiás. Foto: Polícia Civil/Divulgação

Mais do mesmo

A capital Belém (PA) sediará em 2025 a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Até lá, os olhares globais estarão ainda mais voltados ao desempenho brasileiro contra o desmatamento, nossa maior fonte de gases de efeito estufa.

Nosso tema de casa para combater a crise climática pede proteção e restauração efetivas de florestas e outros arranjos naturais, reforça um artigo publicado na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation.

Além disso, o país deveria emitir somente 200 milhões de toneladas anuais de CO2 equivalente até 2035 e zerar o desmatamento, cortando até 92% de sua poluição climática (emissões) em relação a 2005.

Mas, parece faltar apoio popular para que isso se torne real no jogo político. 

Uma pesquisa da Universidade Federal do Pará indica que para 69,9% dos entrevistados o agronegócio é “positivo” para a Amazônia e que 64,7% não votaram em algum candidato “devido às causas ambientais que ele defende”. 

*Com informações de ((o))eco, agências Senado, Pública e Fapesp, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Especialista em Meio Ambiente, O Globo, Blog do Noblat/Metrópoles, Valor Econômico e Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil.