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Dono de viação ligada ao PCC negociou imóvel de R$ 3 mi em Portugal

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One Living, em Cascais, Portugal

São Paulo — E-mails obtidos pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) mostram que o dono da empresa de ônibus Transwolff, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, acusado de ser ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), pretendia comprar um imóvel de 500 mil euros — o equivalente a R$ 3 milhões —, em Cascais, cidade litorânea de Portugal.

Os documentos estão no inquérito, obtido pelo Metrópoles, que embasou a denúncia contra Pandora e outros 25 investigados por organização criminosa, apropriação indébita, extorsão e lavagem de dinheiro. Todos foram alvos da Operação Fim da Linha, deflagrada em abril deste ano contra suposto esquema de lavagem do PCC por meio da Transwolff, que opera linhas de ônibus na zona sul da capital, e da UpBus, que atua na zona leste.

Pandora chegou a ficar dois meses na prisão e foi solto no início de junho, graças a um habeas corpus concedido pela 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Ele nega as acusações.

Investigação conduzida por promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) mostra que, em junho de 2019, Pandora enviou um e-mail para Ligia Olímpio, sua assessora na Transwolff, pedindo para que ela contatasse uma consultoria de imóveis de luxo para falar sobre a compra do apartamento. “Amanhã entra em contato com eles”, escreveu Pandora.

Em seguida, o representante da consultoria de imóveis enviou um e-mail a corretores, com cópia para Pandora, no qual apresentava a eles o dono da Transwolff. Segundo a mensagem, o empresário pretendia gastar 500 mil euros no imóvel, equivalente a mais de R$ 3 milhões.

“O Sr Luiz já é nosso cliente em Orlando [EUA], o mesmo está com planos de comprar uma casa em um condomínio na região de Cascais com um valor em média de 500 mil euros e também irá necessitar nosso suporte no processo Golden Visa. Peço a gentileza de selecionar e enviar algumas opções para que o mesmo possa avaliar e ter mais parâmetros”, escreveu o representante.

Dias depois, uma das corretoras envia um e-mail a Pandora falando sobre um imóvel selecionado por eles no condomínio One Living, em Cascais. A mulher fala que o preço das unidades varia entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de euros, o que corresponde a até R$ 9,2 milhões.

“Caro Sr.Luis, antes de mais [nada] foi um prazer falar com o senhor, no seguimento da nossa conversa de ontem e como prometido, envio para a sua apreciação a apresentação do One Living. Como disse, de momento temos apenas 5 imóveis disponíveis”, afirma a corretora, que anexou as plantas de dois duplex como opção para o dono da Transwolff.

O condomínio de luxo One Living está localizado na paradisíaca Vila Gandarinha, a poucos metros do Mar Mediterrâneo. A região tem restaurantes renomados, campos de golfe e um hipódromo. O local tem 10 mil m² de área externa e oferece quatro tipos de imóveis, com salas com pé-direito duplo, varandas em todas as frentes, piscinas e jardins privativos.

Na denúncia do MPSP não há informação sobre se Pandora de fato adquiriu algum imóvel em Cascais. Segundo a defesa do empresário de ônibus, houve apenas uma especulação sobre a compra.

Movimentações suspeitas

Os promotores citam na denúncia um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que aponta movimentações suspeitas realizadas por Pandora, conforme revelou o Metrópoles. Foram R$ 34,2 milhões recebidos por ele entre agosto de 2018 e julho de 2019, e mais R$ 14 milhões, entre 2020 e 2021.

Segundo os promotores, a movimentação financeira do dono da Transwolff não é compatível com sua atividade econômica e ocupação profissional.

A maioria das movimentações foi realizada com a própria Transwolff, no total de R$ 18,9 milhões. Além disso, foram reportados pelo Coaf R$ 14,9 milhões em 144 resgates de aplicações, R$ 13,6 milhões em 39 depósitos e R$ 4,7 milhões em 132 transferências.

Por meio de nota, a assessoria de Pandora afirma que as movimentações financeiras se devem ao fato de que a conta bancária dele é usada como “fonte pagadora às empresas”.

“Sobre as transações financeiras citadas pelo Banco do Brasil, informamos que esta é a fonte pagadora para às empresas, sendo assim, é óbvio que o dinheiro tem que passar pela instituição citada”, diz a nota.

Operação Fim da Linha

Pandora foi o principal alvo da Operação Fim da Linha. Segundo os promotores do Gaeco, a Transwolff, também conhecida como TW, recebeu um aporte de R$ 54 milhões do PCC, obtidos com tráfico de drogas e outros delitos, para participar da licitação do transporte público na capital paulista.

As investigações apontam que os dirigentes da Transwolff, liderados por Pandora, teriam obrigado, até sob ameaças, cooperativas a transferir seus controles à TW. Parte do dinheiro dos cooperados, segundo as investigações, também ficava com os suspeitos.

A defesa de Pandora tenta fazer com que a prisão preventiva imposta a ele seja convertida em domiciliar humanitária, em razão de supostos problemas cardíacos.

Prisão em 2006

Pandora já havia sido preso em junho de 2006, acusado de ter financiado uma tentativa de fuga de quadros ligados ao PCC na Cadeia Pública de Santo André, no ABC paulista. Na ocasião, ele presidia a Cooperpam, cooperativa de transportes que deu origem à atual Transwolff.

Em depoimento à polícia na época, Pandora negou ligação com o PCC, mas admitiu que a facção tinha atuação dentro da cooperativa.

Pandora também afirmou que o grupo ligado ao PCC era oriundo de outra cooperativa, a Transmetro, e havia entrado na Cooperpam por determinação do petista Jilmar Tatto, quando este ocupava o cargo de secretário de Transportes da gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (2001-2004).

Natural da zona sul paulistana, Pandora é ligado ao vereador Milton Leite (União), presidente da Câmara Municipal, e à família Tatto. Leite havia construído, em 2006, uma das garagens da Cooperpam e detém, na cidade, o controle do bilionário setor de transportes e de subprefeituras da zona sul.

Fonte: Oficial