A publicação do livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith, em 1776, é considerada o início da ciência econômica. Nesses quase 250 anos, inúmeras teorias foram desenvolvidas e o tempo tratou de testá-las. Aquelas que passam por esse duro teste vão se firmando como boas teorias. Porém, as que não se sustentarem quando confrontadas com a realidade deveriam ser descartadas.
Podemos ir além: o critério da falseabilidade, proposto por Karl Popper, distingue a ciência da não-ciência. Uma teoria científica deve ser testável e, mais importante, deve ser possível refutá-la por meio da experimentação. Ou seja, se uma teoria não puder ser provada como falsa, ela não pode ser considerada científica. Óbvio que vale também para qualquer teoria econômica. A capacidade de explicar fenômenos reais ao longo do tempo separa as boas das más teorias. As boas permitem que, ao se reproduzirem condições antecipadamente testadas, saibamos quais resultados serão obtidos. Como se trata de uma ciência social, os resultados nunca serão exatos, mas apontarão tendências e caminhos.
Entre as escolas econômicas que abraçam as melhores teorias, ou seja, que melhor explicam a realidade, estão os monetaristas, liderados por Milton Friedman, e os austríacos, com Mises e Hayek à frente. Ambas têm boa capacidade de explicação e fazem adequados prognósticos. Por outro lado, a escola marxista e a keynesiana têm baixa capacidade de predição e acerto. Um esclarecimento importante: a teoria marxista não cumpre os critérios de Popper, pois não permite ser refutada. Está mais para doutrina que teoria. Somemos a isso que os marxistas jamais admitem que sua teoria falhou, mas que a aplicação prática não foi bem conduzida ou os resultados não foram adequadamente medidos.
Portanto, atualmente é conhecido o que funciona e o que não funciona em economia. Sabe-se o que é causa e o que é consequência. Sabe-se que determinadas ações geram determinadas reações. É conhecido o que gera inflação, o que faz um país crescer, o que causa desabastecimento ou abundância. O que atrai ou afasta investidores. O que cria ou destrói empregos.
Em que pese todo o conhecimento gerado em 250 anos de desenvolvimento da ciência econômica, dos experimentos, tentativas e erros que foram feitos, ainda há economistas e formuladores de políticas públicas que seguem, defendem e aplicam teorias falhas. No caso da economia, más teorias levam à pobreza e, no limite, levam pessoas à morte. A grande fome de Mao na China, onde morreram 45 milhões de pessoas, de 1958 a 1961, chancela isso. As duas Alemanhas, ocidental e oriental, e as duas Coreias, norte e sul, são casos concretos do que funciona e do que não funciona em economia.
Quando o Banco Central da Suécia criou o Prêmio Nobel em Economia, em 1968, a ciência econômica adquiriu status de ciência maior. Interessante notar que esse prêmio tem sido distribuído entre as mais diversas escolas do pensamento econômico — monetaristas, keynesianos, institucionalistas, austríacos —, porém nunca um economista marxista o recebeu. Isso diz muito sobre a relevância da teoria marxista para a evolução da ciência e o desenvolvimento econômico. Efetivamente, não há país próspero que tenha baseado sua economia exclusivamente num arcabouço marxista.
Olhando para o Brasil, vemos um país que, ao longo da história, teve seus mandatários optando majoritariamente por más teorias econômicas, seja por ignorância ou ideologia. Nas poucas vezes em que seguiram caminhos consistentes com políticas econômicas robustas, houve grandes saltos de desenvolvimento.
Observa-se também um comportamento incoerente. Aqueles que defenderam a adoção da ciência como único caminho possível para nortear o comportamento social durante a pandemia são os que negam uma ciência econômica bem embasada. Acreditaram que máscaras salvaram vidas e usaram vacinas de RNA mensageiro de duvidosos resultados. Porém, não aceitam que emitir dinheiro cause inflação, que tabelar preços causa desabastecimento, que aumentar impostos empobrece a todos ou ainda que estabelecer salários-mínimos gera desemprego, por mais que tais afirmações se sustentem na ciência econômica. São negacionistas da ciência. Negam relações de causa e efeito na economia.
A condução da economia brasileira — ministros, secretários e, em breve, o presidente do Banco Central — é feita por terraplanistas econômicos. Não percebem como a economia funciona. De fato, é bem pior, pois um terraplanista é apenas um tolo cuja cegueira factual prejudica a si próprio. Já os terraplanistas econômicos impõem sua visão distorcida a toda a sociedade, causando enormes danos. O governo Dilma Rousseff comprovou isso. Parece que vamos repetir a História.
André Burger, economista e conselheiro do Instituto Liberal
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Fonte: Oficial