O anúncio feito nesta terça-feira (18) pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de que o Brasil vai aderir formalmente às instâncias de discussão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) causou revolta e preocupação em organizações brasileiras. Transição energética está em risco, dizem.
O anúncio foi feito por Silveira após a reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), realizada em Brasília. Diante da repercussão negativa da notícia, o site oficial do governo publicou uma nota dizendo que a adesão não era à OPEP em si, mas a uma instância de diálogo da Organização, composta por ministros que atuam na área de energia e petróleo, com previsão de reuniões regulares em nível técnico.
Para Silveira, o Brasil “não pode se envergonhar” e ser um grande produtor de petróleo. Ele voltou a dizer que os recursos gerados pela exploração do combustível fóssil vão financiar a transição energética e poderão ser aplicados em áreas como educação, saúde e segurança.
“O Brasil é o líder das energias limpas e renováveis e é líder da transição energética global. Ele não pode deixar de participar de um fórum, em especial nesse momento”, disse o ministro.
Repercussão
O anúncio do Ministério de Minas e Energia foi feito em meio a uma das piores ondas de calor que o Brasil enfrenta, com termômetros registrando 40ºC ou mais em muitas cidades e sensação térmica ainda maior.
A adesão do país à instância da OPEP também acontece no ano em o Brasil vai sediar a Conferência do Clima da ONU (COP30), cúpula que vem tentando justamente frear as causas do aquecimento global – sendo a principal a exploração e consumo dos combustíveis fósseis – e limitar os impactos das mudanças climáticas.
Além disso, 2025 já caminha para bater recordes de temperatura, ultrapassando 2024, que foi considerado o ano mais quente que se tem registros e o primeiro em que o aumento da temperatura média da Terra ultrapassou o 1,5ºC, limite previsto no Acordo de Paris para evitar as piores consequências das mudanças no clima.
Para Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, a adesão do Brasil a qualquer instância da OPEP é um retrocesso. “Continuar a abrir novas áreas de exploração de fósseis em meio ao calorão que estamos sentindo, ao aumento de eventos extremos em todas as partes do planeta, denota negacionismo e indica que escolhemos soluções do passado frente a um enorme desafio do presente e do futuro. Intensificar e protelar o uso de fósseis para uma demanda que precisa urgentemente cair é como fazer uma guerra alegando buscar a paz”, disse.
Para o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o Brasil vai na contramão do papel que deveria assumir como presidente da COP30. “O Brasil insiste em caminhos opostos em um momento no qual deveria liderar pelo exemplo, manchando sua reputação na COP30. Investir em petróleo é atrasar o desenvolvimento nacional inteligente. Pior: é jogar tempo e dinheiro naquilo que vai nos matar. É uma surpresa negativa para todos os que confiam no Estado brasileiro para conduzir uma transição justa e para longe da exploração fóssil – necessárias se quisermos sobreviver nesta Terra”, diz André Guimarães, diretor executivo do IPAM.
O Greenpeace Brasil também destacou o contrassenso do Brasil ao aderir à instância da OPEP. “Em meio a mais uma onda brutal de calor e recordes sucessivos nas altas de temperatura, o Brasil vai na contramão ao buscar integrar a Opep+, um grupo que funciona como um cartel do petróleo e que trabalha para sustentar preços lucrativos por meio do controle da oferta”, disse Camila Jardim, especialista em política internacional da organização.