São Paulo — Em disputa com o clã Bolsonaro, que selou apoio à reeleição do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), o influenciador e candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, intensificou a tática bolsonarista na campanha para arregimentar eleitores de direita e pressionar o ex-presidente.
A estratégia inclui explorar a narrativa de perseguição política, com o lema “todos contra Marçal”, colar no prefeito o rótulo de “comunista”, colocando o emedebista no mesmo campo ideológico do candidato do PSol, Guilherme Boulos, e até fazer motociatas com apoiadores, uma das marcas de Bolsonaro.
Para integrantes da campanha de Marçal, a decisão da Justiça Eleitoral que determinou a suspensão dos perfis do influenciador nas redes sociais fortalece sua candidatura. Essa, segundo eles, foi uma “deixa” para ele assumir o posto de candidato antissistema, ocupado por Bolsonaro na eleição de 2018.
Quando foi divulgada a decisão da Justiça Eleitoral que suspendeu as contas de Marçal, na manhã do último sábado (24/8), ele estava em uma motociata com apoiadores em Itaquera, na zona leste da capital. O candidato percorreu as ruas da região ao estilo Bolsonaro, dirigindo uma motocicleta sem capacete e com sua vice na garupa segurando uma bandeira do Brasil.
Ao ser informado sobre a suspensão das contas, Marçal fez uma transmissão ao vivo dizendo ser vítima de “censura”. “Vocês estão mexendo com o cara errado. Não afino para vocês”, disse o candidato.
Na ocasião, ele aproveitou para cobrar o apoio de Bolsonaro, dizendo que o ex-presidente não precisa “se curvar” para Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e articulador da aliança com Nunes, junto com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Marçal disse que Bolsonaro precisa “tomar atitude de homem”.
“Bolsonaro, nós lutamos por você. Não faz sentido você apoiar o Nunes. O Nunes é um cara de esquerda. Pelo amor de Deus, Bolsonaro, o que está por trás disso. Revela para todo mundo”, declarou. “Acorda, capitão. Você não é obrigado a se curvar para Valdemar Costa Neto. Foi isso que você aprendeu no Exército do Brasil, capitão?”.
Na semana passada, Bolsonaro disse em entrevista ao Metrópoles que “falta caráter” a Marçal, em meio a uma troca de farpas do influenciador com os filhos do ex-presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro. Uma semana antes, o ex-presidente havia elogiado o candidato do PRTB.
Bolsonaro como vítima
Desde os primeiros atritos com os bolsonaristas, que se intensificaram na semana passada, Pablo Marçal tem dado declarações em sentidos distintos sobre Bolsonaro, muitas vezes colocando o ex-presidente como “vítima do sistema”, por ter sido pressionado por Valdemar a apoiar Nunes.
Nessa segunda-feira (26/8), por exemplo, em sabatina na CNN Brasil, ele afirmou que Bolsonaro foi tornado inelegível “de forma errada” e prometeu não “se levantar” contra o ex-presidente. À noite, na GloboNews, disse Bolsonaro teria decidido apoiar Nunes por pressão do Centrão, para tentar reverter a decisão que o tornou inelegível.
“Eu não sou esse [Alexandre] Frota, essa mulherzinha lá… Como que ela chama? Joyce Hasselman, que o Nunes defendeu ela agora. Eu não sou o Doria, que se levantou contra ele. Vocês não vão ver eu levantando contra o Bolsonaro, porque ele é um grande líder. Ele foi colocado inelegível de forma errada”, disse Marçal na CNN.
Nunes irritado
Nos bastidores, o prefeito Ricardo Nunes tem demonstrado irritação com as declarações de que é “comunista”. O candidato à reeleição afirma que, ao contrário do que diz Marçal, esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apenas uma vez, em um encontro de vereadores anos atrás.
Em sabatinas e entrevistas coletivas, Nunes tem repetido que é contra o aborto e contra a descriminalização das drogas, pautas caras aos conservadores. Em vídeo divulgado no sábado (24/8), ele disse que Jair Bolsonaro é “o maior líder da direita”.
O prefeito disse que o ex-presidente deve participar de um evento de sua campanha na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) nos próximos dias.
Fonte: Oficial