São Paulo — Com 7,5 mil pares de tênis, o empresário Rodrigo Clemente, de 47 anos, mantém duas salas comerciais no bairro Santa Cecília, no centro de São Paulo, para guardar parte do que diz ser a maior coleção brasileira de sneakers, nome dado a calçados estilosos que têm no design arrojado sua principal marca.
A coleção com valor estimado em R$ 60 milhões está sujeita à penhora, determinada pelo juiz da 10ª Vara Cível de São Paulo, para o pagamento de uma dívida no valor de R$ 12 milhões.
Ao Metrópoles, o advogado Neto Carrara, que representa Rodrigo Clemente, disse que “de fato existe uma relação comercial vencida de umas das empresas do Rodrigo Clemente com o fundo Valorem”, mas que há garantia real lastreando a operação envolvendo um imóvel no litoral norte de São Paulo. “As partes já estão em fase final de acordo e não haverá a efetivação da penhora da coleção”, apontou.
Rodrigo é dono de dois dos dez andares de um prédio comercial. Em um deles, ele guarda cerca de 5 mil pares, já que não houve espaço para receber todos os 7,5 mil. Os outros 2,5 mil tênis do empresário estão espalhados entre a casa dele, a casa de praia e a casa da mãe. Em 2018, ano do início da coleção, ele contava somente com cerca de 60 pares do calçado.
Iluminação, uma equipe que limpa e cuida dos tênis e o uso de um desumidificador que suga toda a água para não hidrolisar os calçados são alguns dos cuidados mencionados por Rodrigo em reportagens publicadas em 2023 sobre sua coleção. Ao G1, o empresário disse que ganha mais sneakers do que compra, mas continua com uma média de 20 compras mensais.
O local mais protegido do estúdio é chamado de “The Vault” (O Cofre, em português), que possui uma porta estilizada como a de um cofre de banco, com uma roda de segurança e pintada de cinza metálico. Lá dentro, estão os tênis mais especiais para Rodrigo: dois pares minúsculos, menores que a mão de uma criança, que ele ganhou de presente para seu filho recém-nascido, atualmente com 16 anos.
Para usar todos tênis em um ano, Rodrigo teria de trocar de tênis a cada 70 minutos sem parar nem para dormir. “Isso tudo não foi construído para me aparecer nem para querer ser mais ou menos do que ninguém. Não é acumulação”, disse em um vídeo publicado em rede social no ano passado.
Rodrigo foi jogador de basquete a partir dos 13 anos de idade, e sua coleção reflete muito o seu passado, quando ele recebia tênis doados de outros jogadores de basquete para poder praticar o esporte.
Hoje, é o CEO da JVMC Participações, uma empresa dedicada a fornecer matérias-primas sustentáveis para a indústria de alimentos e bebidas, além de administrar os restaurantes Carnívoros Steak & Burger em São Paulo e Juquehy, no litoral, e o restaurante Filó e uma distribuidora de bebidas, ambos também em Juquehy.
Entenda a penhora por dívida
A decisão da 10ª Vara Cível de São Paulo é resultado de um pedido de penhora realizado pelo advogado Gabriel Gehres, que representa a Valorem Fidc Multisetorial, empresa de fundos de investimentos. Segundo documentos apresentados, a dívida de Rodrigo Clemente é de R$ 12 milhões.
O juiz Danilo Fadel de Castro alegou que a lei prevê que todos os bens do devedor respondem pelo inadimplemento. “Como é uma coleção de bens, não faz sentido ele alegar que usar sete mil tênis para uma finalidade efetivamente útil”, disse o advogado da Valorem ao Metrópoles.
“Apesar de não pagar o que deve, percebemos que ele se apresentava na imprensa como um grande colecionador, com patrimônio que ultrapassa com folga o valor do débito. Então, mesmo que o pedido parecesse inusitado, verificamos a possibilidade do pedido de penhora para solucionar o débito”, afirmou Danilo Fadel de Castro.
Em novembro de 2023, a Marka Promoção de Vendas e Eventos Ltda, empresa vinculada ao colecionador, foi intimada. Sem sucesso na negociação, o escritório do fundos de investimento optou por pedir a penhora.
Fonte: Oficial