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Evento no Adamastor destaca a importância da capoeira em Guarulhos

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Evento no Adamastor destaca a importância da capoeira em Guarulhos

O Salão de Artes do Adamastor recebeu no último sábado (12) a gravação da terceira parte do documentário A História da Mistura de Raça e do Mestre Marcondes, evento que contou ainda com formaturas de capoeiristas, batizados e trocas de cordões. O encontro destacou a capoeira como ferramenta legítima de expressão de uma das mais importantes e antigas identidades culturais brasileiras. O longa-metragem deverá ser lançado em 2026 com première no Teatro Adamastor e o apoio da Subsecretaria da Igualdade Racial de Guarulhos.

 

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Mestre João Marcondes, de 62 anos e fundador da Associação Mistura de Raça, foi campeão paulista e brasileiro de capoeira em 1988. O documentário mostrará o início do biografado no esporte, seu desenvolvimento e suas influências, como mestre Mirão (Emílio da Conceição Nascimento), fundador em 1974 da Associação Desportiva de Capoeira Rosa Baiana, pioneira em Guarulhos. Falará, ainda, sobre o histórico dessa arte no Brasil e as dificuldades enfrentadas pelos capoeiristas ao longo dos séculos.

 

Marcondes conta que de início não tinha interesse pela capoeira, o que mudou com a entrada na Associação Rosa Baiana. “Eu não tinha, na verdade, a noção da importância da capoeira para a população negra, mas mestre Mirão expandiu meu olhar. A capoeira representa não apenas um legado histórico, mas também uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento físico, emocional e social de seus alunos. Ela contribui de forma significativa para a saúde, o bem-estar e a formação integral do indivíduo e ao mesmo tempo é um esporte, uma arte e uma filosofia de vida”.

 

Mais do que uma arte

 

A capoeira surgiu como forma de resistência dos negros escravizados no país e, desta forma, tornou-se um símbolo de luta e liberdade. Após a abolição da escravatura no Brasil, em 1888, os praticantes do esporte foram perseguidos e ele foi considerado, até 1937, uma contravenção penal, com pena de até seis meses de prisão por uma simples demonstração da arte. Antes da abolição, a lei punia os capoeiristas com até 300 açoites e calabouço.

 

“O então presidente Getúlio Vargas viu uma apresentação e a partir de 1937 a capoeira foi legalizada como arte marcial brasileira. Contudo, isso não foi suficiente para acabar com o preconceito, que perdura atualmente”, explica Jorge Caniba Batista dos Santos, subsecretário da Igualdade Racial de Guarulhos. “Ao longo das décadas nós capoeiristas passamos a ter mais espaço e a arte se espalhou pelo mundo, com cada vez mais brancos praticando-a”, completa.

 

Hoje reconhecida mundialmente, a capoeira é também uma ferramenta pedagógica, promotora de igualdade e inclusão social. “Trata-se da única arte do mundo que mistura música, dança e canto”, explica Daniel Buscalonge, que se tornou mestre durante o evento de sábado no Adamastor e está há 30 anos na Associação Mistura de Raça. De acordo com ele, há preconceito velado e explícito com a capoeira e seus praticantes. “Muitas pessoas a confundem com religião, mas capoeira não é religião, apesar de possuir fortes ligações com as religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda”.

 

De acordo com Buscalonge, um dos preconceitos está no fato de a capoeira não ser praticada nas escolas, ao contrário de outros esportes – em Guarulhos, há cursos dos esportes nos Centros de Educação Unificados (CEUs) e em parques da cidade: confira no Instagram da Prefeitura (@prefeituraguarulhosoficial).

 

Para mestre Marcondes, o registro audiovisual será um documento fundamental para a manutenção da memória e a difusão da capoeira em Guarulhos e no Brasil. “As novas gerações precisam compreender o valor histórico e também contemporâneo dessa expressão cultural”, afirma.

 

Contextualização

 

Em 3 de agosto é celebrado o Dia do(a) Capoeirista, data comemorativa aprovada na Assembleia Legislativa do Estado por meio da lei 4.649/1985. Vale destacar, também, o 5 de julho, celebrado como o Dia da Capoeira pela lei estadual 16.896/2018. No Brasil ainda se comemora o Dia Nacional da Capoeira em 23 de novembro, em homenagem ao nascimento de Mestre Bimba, um dos maiores nomes da história da capoeira. Também no país é celebrado o Dia da Capoeira em 5 de julho. Por fim, o 3 de agosto foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em reconhecimento à capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, declarado oficialmente em 2014.

 

Fotos: Divulgação/PMG
14/07/2025