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Ex-assessor do Banco Master pode permitir negócio na Caixa

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Ex-assessor do Banco Master pode permitir negócio na Caixa

O Banco Master tem sido foco de atenção depois da destituição de dois gerentes da Caixa Econômica Federal que se opuseram a uma operação de R$ 500 milhões entre a estatal e a instituição privada, o que levantou preocupações sobre um possível conflito de interesses.

Em janeiro, o vice-presidente de Negócios de Atacado da Caixa foi anunciado com a credencial de ter sido assessor especial da presidência do Banco Master, na área financeira e jurídica.

Tarso de Tassis, de 45 anos, gerencia financiamentos a empresas de grande, médio e pequeno porte, com mais de R$ 100 bilhões em empréstimos sob sua supervisão, abrangendo cerca de 40 mil clientes.

Além disso, ele é conselheiro de Administração da Caixa Asset, onde está sendo discutida a oferta de títulos do Banco Master, rejeitada pelos técnicos por ser considerada “atípica” e “arriscada”. Tarso de Tassis pode dar voto favorável à operação.

Depois da emissão de um parecer sigiloso sobre a operação, os técnicos responsáveis perderam seus cargos. A nomeação de Tarso de Tassis ocorreu junto com outros cinco vices, depois da substituição da então presidente Maria Rita Serrano por integrantes do “Centrão”, fruto de uma negociação entre Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PL-AL).

Sócio do Banco Master contesta atuação de Tarso

“Exerceu o cargo de Assessor Especial da Presidência do Banco Master na área financeira e jurídica”, afirmou o comunicado da Caixa, emitido em 24 de janeiro e assinado pelo diretor de finanças e relações com investidores, Luis Felipe Figueiredo de Andrade. Esta informação também está no site de relações com investidores da Caixa e foi amplamente divulgada pela imprensa.

O Banco Master não contestou essa informação até a última sexta-feira, 12, quando um dos sócios, Daniel Vorcaro, afirmou que Tarso de Tassis nunca trabalhou como assessor da presidência do Master.

“Eu pesquisei até a década de 80, nosso CNPJ tem quase 50 anos, e ele nunca trabalhou nem antes de a gente adquirir a instituição [Vorcaro formou o Master depois de comprar o Banco Máxima, em 2021]”, disse. “Ele era sócio de um escritório de advocacia que já prestou em algum momento serviço para o banco, que agora nem sei especificar qual foi. Não o conheço pessoalmente.”

Caixa não detalhou processo de verificação de currículo

A estatal não deu informações sobre o currículo de Assis | Foto: Reprodução/Agência Brasil

No domingo 14, Vorcaro enviou uma nota ao blog da jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, admitindo que Tarso trabalhou para ele como advogado, sem especificar em que tipo de processo. A Caixa não esclareceu que tipo de verificação foi feita no currículo de Tarso, nem como foi o processo de seleção.

Também não elucidou se há a possibilidade de as informações do currículo serem falsas. O executivo não foi localizado para comentar o vínculo com o Banco Master.

A estatal não esclareceu se o vice-presidente apresentou comprovantes de sua passagem pelo Banco Master, afirmando apenas que “todas as indicações de dirigentes são submetidas ao Comitê de Pessoas, Elegibilidade, Sucessão e Remuneração” do banco.

Se as informações no site estiverem corretas, essa seria a única experiência de Tarso no setor bancário. Antes disso, ele atuava em ações eleitorais e da Justiça Desportiva em Minas Gerais.

Com esse currículo, ele não teria condições de assumir o cargo até o ano passado, quando uma pós-graduação na área era requisito para as vice-presidências do banco estatal.

Essas exigências foram derrubadas no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva pela então presidente da Caixa, Maria Rita Serrano. Seu sucessor, Carlos Vieira, indicado por Lira, manteve a política e distribuiu nove das 12 vice-presidências entre siglas do Centrão.

Tarso possui graduação, mestrado e doutorado em Direito, com foco no Mercosul e no Parlasul, mas sem estudos sobre o setor financeiro ou mercado de capitais.

Mesmo assim, ele ganhou a vice-presidência de Negócios de Atacado e foi eleito para o Conselho de Administração da Caixa Asset, que planejava comprar R$ 500 milhões em títulos considerados arriscados pela área técnica do banco.

Especulações internas

Três fontes d’O Globo relataram que, depois da entrada de Tarso no conselho, a proposta de negócio do Master ganhou força na subsidiária. Oficialmente, o banco privado afirma que as tratativas sigilosas vinham se desenrolando há seis meses, mas relatos indicam que a negociação avançou há pouco mais de um mês, motivando um parecer de 19 páginas alertando sobre os riscos da operação.

Quatro dias depois do parecer, os gerentes Daniel Cunha Gracio e Maurício Vendruscolo foram rebaixados de função em uma vídeoconferência com diretores da Caixa Asset e o presidente da subsidiária, Pablo Sarmento.

Nos bastidores, esse movimento foi visto como uma tentativa de retaliação e de eliminar resistências internas ao negócio, já que o comitê de investimentos deverá ser recomposto com novos gerentes dessas áreas.

Fonte: Oficial