“A conduta [de Marcus] foi errada como policial. Todo mundo quer ver essas imagens, já que ele fala que foi legítima defesa. Todo mundo quer ver, porque ele está na rua”, aponta Renata Moura, irmã de Rafael.
Os registros da bodycam já foram disponibilizados pela Polícia Militar para inquérito aberto pela Polícia Civil. A vítima, que atuava na Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco), foi atingida em uma viela no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.
Pedido por justiça
Segundo a irmã, Rafael Moura tinha o sonho de ser policial desde pequeno. “Ele conseguiu realizar e também tinha um sonho de ser delegado”, conta.
Para a família, o racismo influenciou na morte de Rafael. “O meu irmão morreu porque era preto. Estava de moletom e boné, mas não estava descaracterizado. Ele estava com a identificação dele no peito”, detalha Renata.
Dinâmica da ação que matou o policial
- Agentes da Polícia Civil estavam em diligências no Capão Redondo, com viatura da corporação e distintivo.
- Mesmo com a identificação, em uma viela, policiais da Rota viram os agentes e, acreditando se tratar de traficantes, atiraram.
- Os agentes, alvos dos disparos, tentaram alertar que eram policiais. Apesar dos avisos, foram baleados.
- Um dos policiais civis, identificado como Rafael Moura, de 38 anos, foi atingido com três tiros: um no braço e dois no abdômen.
- Em estado grave, ele foi encaminhado ao Hospital das Clínicas, onde passou por cirurgia. Mas não resistiu e morreu nesta quarta-feira (16/7).
- O outro policial civil foi atingido de raspão, atendido no Hospital Campo Limpo e liberado.
- Policiais civis ouvidos pelo Metrópoles disseram que estão revoltados com o caso.
“Entrou para matar”
Um policial, que prefere não se identificar, disse ao Metrópoles que conhece bem a região onde Mendes atirou contra os policiais civis, por já ter trabalhado no território. De acordo com ele, a conduta era desnecessária, já que não costuma haver criminosos armados no local.
Um mês antes da ocorrência que matou Moura, o sargento da PM se envolveu em outra ocorrência a 500 metros do local. Essa, no entanto, resultou em homicídio. A vítima foi um homem ainda não identificado, que, segundo a versão dos PMs, estaria segurando uma arma de fogo.
Inquérito
A Polícia Civil diz ter instaurado um inquérito para apurar se o sargento agiu de forma desproporcional, mas não mencionou a possibilidade de afastamento do agente.
De acordo com o delegado Antonio Givanni Neto, em um primeiro momento, o caso é tratado como legítima defesa putativa, ou seja, quando alguém, de forma equivocada, acredita estar sob injusta agressão e age como se estivesse em legítima defesa. Segundo a autoridade policial, não é possível determinar se houve excesso.
“Sendo assim, decide esta Autoridade Policial pela apuração investigativa em profundidade, eis que a dinâmica dos fatos, num juízo cognitivo sumário carece dessa apuração. O inquérito policial será instaurado”, diz o delegado no boletim de ocorrência.
“[…] O inquérito policial instaurado poderá, com a profundidade que trará os elementos de informação e as provas cautelares, não receptíveis e antecipadas, revelar a ausência ou a presença dos elementos de culpa e se o erro era evitável ou não”, acrescenta Antonio Giovanni Neto.
Segundo o delegado, as imagens de bodycam mostram o PM correndo pela rua e entrando em uma viela, quando dá de cara com um homem armado. Ele então reage de imediato dando quatro disparos e recua. A gravação não foi divulgada pelas autoridades policiais.
Conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o caso é investigado pelo 37º Distrito Policial (DP), do Campo Limpo. A pasta foi questionada sobre a permanência de Mendes nas ruas, e informou apenas que “as imagens registradas pelas câmeras operacionais portáteis (COPs) foram analisadas pelos responsáveis por ambos os inquéritos e são compatíveis com a versão dos fatos apresentada pelos envolvidos, incluindo o policial militar citado”.
Fonte: www.metropoles.com