Uma ação conjunta entre o Ministério Público de São Paulo (MPSP) e a Polícia Militar prendeu, na manhã desta quarta-feira (30/7), um suspeito apontado como armeiro de uma célula da facção carioca Comando Vermelho (CV), atuante em Rio Claro, no interior paulista.
Policiais do 10º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) apoiaram o Grupo Especial de Combate do Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, no cumprimento de um mandado de busca e apreensão na casa de José Jailton Gomes Silva, o Galego, no bairro Jardim Brasília 2.
Relatório obtido pela reportagem afirma que Galego exercia uma função logística para a facção na região, para a qual guardava armamento pesado — posteriormente encaminhado do Rio de Janeiro, ou de lá enviado ao interior de São Paulo, para armar os parceiros do CV.
Até a publicação desta reportagem, haviam sido aprendidos carregadores, um fuzil, uma metralhadora, duas pistolas e munições.
A defesa de Galego não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.
Banho de sangue
Parte do arsenal que chega em Rio Claro permanece na região, para que a célula do CV possa disputar território, resultando em um banho de sangue.
Apontado como mandante de diversos assassinatos de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) Leonardo Felipe Calixto, o Bode, tenta assumir o total controle do tráfico de drogas na região de Rio Claro, desde a prisão de Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, em maio de 2023.
A maior facção criminosa do país, de sua parte, iniciou um processo de retaliação contra a quadrilha de Bode, que está foragido da Justiça, aumentando o rastro de sangue na região.
O alvo mais recente do PCC, ligado à quadrilha de Bode, foi Igor Henrique de Souza, de 18 anos, fuzilado com 45 tiros, em 6 de julho.
Fontes policiais que monitoram a guerra entre os criminosos, em Rio Claro e região, afirmaram ao Metrópoles que, neste ano, ao menos sete integrantes do PCC foram executados e, do lado de Bode, três.
“O Bode está ‘correndo junto’ com o Comando Vermelho [CV]. Está assumindo [posição] de líder local. Ele matou muita gente do PCC este ano. Os homicídios mais recentes são o troco que o PCC está dando nele. O Bode exagerou na dose”, afirmou um policial em condição de anonimato.
Ele acrescentou que o PCC “está abandonando” territórios na região de Rio Claro que “comercialmente não interessam mais”.
Isso se deve, segundo afirmado à reportagem pelo promotor de Justiça Lincoln Gakiya, em entrevistas anteriores, pelo ingresso do PCC no tráfico internacional de cocaína, que rende bilhões de reais à facção desde então.
Ex-parceiro de Magrelo
Como já mostrado pelo Metrópoles, Magrelo liderava uma quadrilha que se fortaleceu localmente, criando uma estrutura para competir com o PCC pela disputa de territórios no interior paulista.
Levantamento do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do Ministério Público de São Paulo (MPSP), mostra que a quadrilha rioclarense já expandiu a área de atuação para, ao menos, mais sete cidades do interior paulista. São elas: Jundiaí, Sumaré, São Carlos, Pirassununga, Americana, Leme e Louveira.
Bode era uma dos parceiros de crime de Magrelo, cuja prisão deixou a vaga de liderança livre.
Aliada à falta de interesse do PCC pela região, a presença das quadrilhas locais também possibilitou uma aliança com o Comando Vermelho, principal rival da facção paulista, que já estendeu seus tentáculos em Rio Claro.
O CV, segundo apurado pelo serviço velado da Polícia Militar, teria acolhido Bode em morros cariocas — após o atual líder do tráfico de drogas local ter a morte decretada pelo PCC.
Outras 9 mortes e 120 tiros
Como revelado pelo Metrópoles, a disputa de território entre com o PCC deixou um saldo de, ao menos, nove mortos, de janeiro a junho deste ano, somente em Rio Claro.
As execuções, feitas com dezenas de tiros de pistolas e fuzis — tipo de armamento usado em guerras — foram concretizadas com mais de 120 disparos, como consta em relatórios da Polícia Civil consultados pela reportagem. Além dos assassinatos resultantes da guerra entre os grupos de criminosos, outras quatro pessoas foram mortas na cidade — três por questões passionais e outra em um latrocínio (roubo com morte).
No ano passado, ocorreram 32 assassinatos em Rio Claro. Com aproximadamente 200 mil habitantes, os homicídios representam 16 mortes violentas por 100 mil habitantes. O estado de São Paulo, por sua vez, contou com uma taxa de 5,98, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Fonte: www.metropoles.com