O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva tem levantado preocupações econômicas que remetem ao período final do governo Dilma Rousseff. Essa análise foi apresentada no relatório Emerging Markets Outlook 2025, do Deutsche Bank, que faz uma provocativa referência ao momento atual ao intitular sua avaliação como Dilma II, Reloaded.
A análise levantou dúvidas quanto à viabilidade fiscal, ao crescimento econômico e à questão cambial do país.
Uma das principais críticas se refere à ampliação das transferências para a classe média, política que, segundo o documento do Deutsche Bank, contribui para o aumento do risco fiscal, acelera a inflação e enfraquece o real.
O informe relatou que o novo pacote fiscal do governo, que amplia benefícios para essa faixa da população, pode intensificar esses problemas e comprometer ainda mais a saúde das contas públicas.
Uma afirmação que ilustra esse quadro é do economista Leonardo Piovesan, pós-graduado em mercado financeiro, a respeito da inclusão, no pacote, da isenção Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil.
Para ele, apesar de não ser em si uma medida negativa, já realizada pelo governo, é preciso haver planejamento para evitar uma escalada inflacionária.
“O problema é realizar a isenção em uma tacada só, isso vai aumentar a liquidez, a disponibilidade de dinheiro da população num prazo muito amplo, sem ser por etapas”, afirma o economista a Oeste.
“É como se a gente tivesse dado outro Bolsa Família para todo mundo, de forma direta, e isso vai gerar maior liquidez no mercado, maior oferta de moeda, maior disponibilidade para compras, mas a nossa produção nunca foi planejada para uma disponibilização de liquidez tão rápida e, com isso, a tendência é de que o preço de tudo vá aumentar.”
Assim como o governo de Dilma, a atual gestão de Lula enfrenta críticas relacionadas à pressão da inflação decorrente de uma abordagem que prioriza o estímulo à demanda interna sem ajustes estruturais profundos.
No caso de Dilma, essa estratégia contribuiu para a recessão de 2015-2016, enquanto, no governo atual, o relatório revela sinais de alerta similares, como o risco de crescimento econômico abaixo de 2% e a trajetória de aumento da dívida pública, já projetada para alcançar níveis preocupantes nos próximos anos.
Dívida bruta e PIB
O relatório do Deutsche Bank foi assinado por Drausio Giacomelli, diretor do banco em Nova York, e ratifica tais preocupações. O documento classifica o Brasil como um dos mercados emergentes mais frágeis. Ele destaca que essas questões relacionadas a reformas fiscais e ao crescimento econômico são centrais nesse contexto, visto como preocupante.
Além disso, as estimativas revelam que a dívida bruta pode chegar a 90% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2027, cenário que exigiria ajustes rigorosos na política monetária. Para conter os desequilíbrios, o Banco Central provavelmente terá de elevar a taxa Selic para 14,5%.
Como comparação, levantamento da Receita Federal em 2015 informou que nos quase cinco anos da gestão de Dilma haviam sido concedidas reduções de impostos que somavam R$ 342 bilhões, valor suficiente para cobrir os cerca de R$ 50 bilhões do rombo no Orçamento naquele ano.
Em 2011, a dívida bruta brasileira foi de 51,75% do PIB. No governo Dilma, houve um início de escalada, quando a dívida bruta chegou a 58,91%, de acordo com o BC. Em novembro de 2024, ela chegou a 78,6% do PIB.
Fonte: Oficial