O sonho de cuidar da saúde de seu povo na aldeia deu força para a índia Maíra Yawanawá, de 27 anos, passar sete anos longe de casa para estudar medicina. Ela começou o curso em 2009, como cotista indígena da Escola Latino Americana de Medicina, em Cuba, e se formou em julho deste ano.
Hoje, o maior desejo de Maíra é validar o diploma e poder unir os conhecimentos adquiridos da faculdade com o da cultura indígena.
“Quero atender as comunidades indígenas e ribeirinhas. Nada melhor do que uma índia, que já conhece essa realidade, para trabalhar junto com eles. Acho que a gente conhece a nossa casa. Eu sei como meu povo funciona. Tenho os conhecimentos que adquiri como médica, mas também sei respeitar a cultura”, afirma.
A médica é um dos inúmeros candidatos formados em universidades fora do Brasil que buscam revalidar seus diplomas por meio do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras (Revalida). No dia 1º de novembro ela fez prova em Rio Branco.
Segundo Maíra, ter uma índia formada em medicina é um avanço para o seu povo.
“Os indígenas tinham mais a tradição de curandeiros, com o uso das ervas para tratar as pessoas. Hoje como as coisas estão modernas, existem doenças na aldeia que não existiam antes e não é possível resolver somente da forma indígena. A ideia é somar os conhecimentos tanto da cultura indígena quanto da ciência”, diz Maíra.
Preconceito durante a faculdade
Durante os anos em que passou na Escola de medicina, Maíra conta que teve que conviver com o preconceito e discriminação por parte dos outros estudantes.
“Ouvia piadas que eu andava entre cobras e onças, ou que ligava a televisão em cima da árvore, mas isso nunca me atingiu. Sempre consegui levar isso na esportiva. No meu primeiro dia de aula fui pintada para a faculdade e isso causou espanto em todos”, conta.