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“Juiz” do PCC apela a chefão preso por R$ 120 mil para bancar advogada

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“Juiz” do PCC apela a chefão preso por R$ 120 mil para bancar advogada

Atualmente atrás das grades na Penitenciária Doutor Paulo Luciano Campos 1, em Avaré, interior paulista, Everaldo Severino da Silva Felix, o Sem Fronteira, acumula acusações por envolvimento em homicídios, entre os quais de dois policiais militares.

Responsável pelos “tribunais do crime” do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Paraisópolis — maior favela de São Paulo em número de moradores –, como uma espécie de “juiz”, ele pediu para que outro chefão da facção, detido em um presídio de segurança máxima paulista, ajudasse a pagar os honorários de uma advogada — que estaria cobrando R$ 120 mil para defender o criminoso.

O Metrópoles revelou que Rodrigo Felício, o Tiquinho de Limeira, coordena de dentro do sistema carcerário, há 12 anos, atividades criminosas nas ruas, por meio de “salves” — parte dos quais escritos em cartas, vazadas da Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Venceslau, também no interior de São Paulo.

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Criminosos da cúpula do PCC — entre eles, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola — já cumpriram parte de suas penas na mesma unidade em que Sem Fronteira também ficou encarcerado, de setembro de 2020 até outubro de 2023.

Questionada sobre os motivos para que Tiquinho siga preso em Presidente Venceslau — mesmo diante das provas do contato dele com o mundo exterior –, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) afirmou à reportagem “não divulgar dados ou informações” que, segundo a pasta, “possam comprometer a segurança institucional, operacional ou das pessoas privadas de liberdade”.

Antes de ser preso, Sem Fronteira ocupava o posto de sintonia de disciplina na zona sul paulistana.

“BO da família”

Além de enviar da cadeia salves para as ruas, por meio dos quais coordena negócios ilegais, Tiquinho também é informado sobre o andamento de suas demandas e, ainda, receberia pedidos de criminosos, enviados via mensagens para seus representantes em liberdade. As solicitações são posteriormente transmitidas ao criminoso preso, verbalmente em visitas.

Um desses pedidos, digitalizado em PDF, foi encaminhado por Sem Fronteira. Na carta, ele relatou que estava com problema em três processos judiciais, envolvendo homicídios — no Jardim Colombo, zona oeste de São Paulo; Capão Redondo, zona sul; e em Embu Guaçu,  na região metropolitana.

No documento, interceptado pela polícia em um celular apreendido, o chefe dos tribunais do crime de Paraisópolis argumenta que os assassinatos seriam um “BO da família”, alegando que agiu em nome do PCC.

Ele solicitou atenção de Tiquinho, no pagamento dos honorários de uma advogada, porque acreditava que, com o auxilio dela, “teria mais chances de sucesso em seus processos”.

Nos documentos do caso, obtidos pelo Metrópoles, não é especificado se a defensora indicada por Sem Fronteira foi contratada na ocasião. Ela atualmente não consta como representante dele, segundo registros do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

Sem Fronteira e mortes

A reportagem apurou que Sem Fronteira estaria envolvido em ao menos cinco assassinatos.

Um deles foi o da policial militar Juliane dos Santos Duarte, de 27 anos, que foi sequestrada, quando estava de folga em Paraisópolis — em 2 de agosto de 2018. Ela foi torturada e assassinada, por ordem de Sem Fronteira.

O corpo dela foi encontrado, quatro dias depois, no porta-malas de um carro, na região de Jurubatuba, zona sul paulistana. As ordens para o homicídio foram encontradas em um celular do criminoso, após ele ser preso, no mesmo dia em que a morte da PM foi constatada.

Além de Sem Fronteira, estão presos pelo crime e também aguardam julgamento: Felipe Oliveira Silva e Felipe Carlos Santos de Macedo. A defesa deles não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.

Bagdá, o “falso profeta”

Outro crime no qual Sem Fronteira estaria envolvido foi o sequestro e tortura de Juan Carlo Costa Querubim, o Bagdá, que teria sido sentenciado à morte em um tribunal do crime, em julho de 2018.

O chefe dos “tribunais” de Paraisópolis teria afirmado que a vítima seria um “falso profeta” pelo fato de Bagdá supostamente se passar por um “irmão do PCC” — com o suposto intuito de se apropriar de dinheiro, em nome da facção, sem repassar os valores à organização criminosa. Isso teria motivado o “julgamento” e a sentença de morte.

Em um dos três celulares apreendidos com Sem Fronteira, no dia de sua prisão, a polícia encontrou fotos de Juan Carlo “em agonia”, com lesões físicas e chorando (veja galeria abaixo). O corpo de Juan Carlo nunca foi encontrado.

Um áudio, atribuído a Sem Fronteira, afirma: “Pa queimá o dinheito do comando [PCC] ele não chora não […] Ele agora vai queimá lá no quinto dos inferno”.

Sem Fronteira aguarda julgamento pelas acusações de sequestro, homicídio qualificado (por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima), além da ocultação do cadáver de Bagdá.

Assassinato de PM

Em 15 de março de 2013, um Fiat Doblò foi abandonado na Rua Luciano Silva, no Campo Limpo, zona sul da capital paulista.

Sete dias depois, de madrugada, uma mulher estacionou seu carro atrás do veículo abandonado e percebeu algo estranho. A polícia foi acionada e encontrou, no porta-malas do carro, o corpo do PM Genivaldo Carvalho Ferreira, de 44 anos.

Mais “condenados”

A Sem Fronteira ainda estariam relacionadas as mortes de Silvano Aparecido Rodrigues Martins, em 29 de maio de 2014, após ser submetido a um tribunal do crime.

O crime é mencionada, sem maiores detalhes, nos relatórios judiciais, obtidos pelo Metrópoles, da mesma forma que o assassinato de Leandro Vieira Ferreira, também morto após ser sentenciado a morte, em Paraisópolis, por ordem de Sem Fronteira.

Os “tribunais do crime”

O que é chamado de “tribunal do crime” foi instituído no início dos anos 2000 por Marcos Herbas William Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo do PCC, quando ele criou o setor de “disciplinas” dentro da facção.

Os indivíduos nessa posição são responsáveis por garantir o cumprimento das regras da organização, podendo aplicar punições caso elas sejam descumpridas. Para isso, porém, é necessário um julgamento cuja sentença é dada por criminosos do alto escalão da facção. As “sentenças” se resumem a espancamentos, quebra de membros e a morte.

Investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público de São Paulo, mostram que Marcola descentralizou as ações financeiras do PCC, dividindo-as em células, ligadas a outras maiores, que chegam a um núcleo central.

A figura do disciplina nasceu para servir como uma espécie de “corregedor” das ações financeiras do PCC. Com o tempo, ele passou a julgar qualquer demanda apresentada, em um sistema de justiça marginal, pautado nos preceitos do PCC. Foi assim que nasceram os tribunais do crime.

Fonte: www.metropoles.com