O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou em São Paulo pela oitava vez neste ano em um contexto diferente das viagens anteriores no estado. Desde a visita anterior, há um mês, o petista se tornou o alvo primordial dos discursos do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e ganhou uma trégua na queda de popularidade, preocupação recorrente do Palácio do Planalto no terceiro mandato de Lula.
Nesta sexta-feira (25/7), Lula anunciará três obras na periferia de Osasco, na Grande São Paulo. O presidente irá ao Jardim Rochdale, área que historicamente convive com grandes alagamentos, e recebeu investimento do Novo PAC, por meio do programa “Periferia Viva”, voltado à urbanização de favelas. O petista também vai anunciar obras na Favela da 13 e na Favela do Limite.
Em princípio, a volta de Lula a São Paulo foi marcada para Santos, mas o próprio presidente mudou de ideia e preferiu ir a Osasco. Além de já ter visitado o município litorâneo neste ano, o petista avaliou que as obras na cidade vizinha à capital paulista são mais simbólicas. A decisão sobre o novo destino foi tomada na manhã de quarta-feira (23/7).
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), e os ministros da Casa Civil, Rui Costa (PT), e das Cidades, Jader Filho (MDB), devem integrar a comitiva presidencial que vai a Osasco.
A viagem ocorre em um momento em que os políticos que visam concorrer às eleições de 2026 intensificam as viagens às bases eleitorais e que petistas veem uma trégua em duas crises que afetaram a imagem do governo: uma causada pelo escândalo sobre a fraude do INSS e outra sobre o aumento da alíquota do IOF.
Tarcísio rivaliza com Lula
A última visita de Lula a São Paulo foi na Favela do Moinho, na região central da capital paulista. O local é palco de uma disputa política entre Tarcísio de Freitas e Lula. O governo de São Paulo quer remover as famílias do local e construir um parque, mas sofreu resistência da União, proprietária da área. Na visita, Lula condenou a violência policial durante a retirada dos moradores e disse que o empreendimento não poderia ser feito “às custas do sofrimento de um ser humano”.
Três dias depois, Tarcísio subiu em palanque na Avenida Paulista ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No ato com o mote “Justiça Já”, Tarcísio deixou as críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) de lado e fez um discurso concentrado em ataques ao governo Lula, com frases como: “o Brasil não aguenta mais aumento de impostos, não aguenta mais o PT” e “fora PT”.
O discurso nacionalizado de Tarcísio foi visto como uma aproximação do governador à disputa presidencial em 2026. Com o fim do julgamento do STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cada vez mais próximo, Tarcísio tem sido pressionado por políticos e empresários para concorrer às eleições nacionais no próximo ano. Publicamente, o governador reafirma que será candidato à reeleição no Palácio dos Bandeirantes.
Por outro lado, Lula tem sido aconselhado a não entrar em embates com Tarcísio, conforme noticiou o colunista Igor Gadelha. Como o governador de São Paulo é desconhecido país afora, embates com Lula poderiam impulsioná-lo.
Convidado, Tarcísio não irá participar do evento com Lula. O governador cumpre agenda na região de Sorocaba, no interior do Estado. No entanto, o prefeito de Osasco, Gerson Pessoa (Podemos), que é aliado de Tarcísio, deve ir à cerimônia com o petista.
Lula em SP
- A primeira viagem de Lula a São Paulo neste ano foi para fazer exames de rotina no Hospital Sirio-Libanês, em 20 de fevereiro.
- Em 27 de fevereiro, o petista voltou ao estado para participar de cerimônia para lançar a obra do túnel Santos-Guarujá.
- O evento no litoral foi a única agenda pública do petista que contou com a presença de Tarcísio de Freitas, em 2025. Uma semana antes, eles já haviam se encontrado em reunião fechada no Palácio do Planalto.
- Em 14 de março, Lula participou da entrega de 789 ambulâncias em Sorocaba.
- Na semana seguinte, o petista voltou a Sorocaba para visitar a fábrica da Toyota.
- Nos dias 7 e 8 de abril, Lula foi ao Centro de Distribuição do Mercado Livre em Cajamar (SP) e participou da abertura do 100º Encontro Internacional da Indústria da Construção (Enic), na capital.
- Em maio, o petista voltou à capital paulista para inaugurar um novo curso de medicina e participou de evento de renovação do patrocínio da Caixa para o centro de treinamento de atletas paraolímpicos.
- Em junho, Lula esteve na Favela do Moinho para anunciar auxílio financeiro às famílias que seriam retiradas do local.
Trégua nas crises
Ainda que a desaprovação do presidente siga alta, petistas têm celebrado a melhora na imagem do governo neste mês. Pesquisa Ipespe, divulgada na quinta-feira, mostra que a desaprovação do presidente caiu de 54%, em maio, para 51%, em julho. Aliados de Lula atribuem a super taxação anunciada pelo presidente americano Donald Trump como principal motivo da melhora na imagem do presidente.
“O aumento da popularidade do governo é comum em momentos como esse em que o país é atacado. As pessoas se unem mais em torno da defesa do país”, diz o deputado estadual Emídio de Souza (PT), um dos organizadores da agenda em Osasco.
“A taxação criou um ambiente melhor de diálogo para o governo. Não é que o país mudou, mas a pauta mudou. A crise do INSS, do IOF, vão ficando para trás e a pauta virou a taxação”, acrescentou.
Em visita a São Paulo em abril, ao lado dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), Lula já havia criticado as taxas impostas por Trump, antes de elas chegarem ao Brasil.
Agora, o país virou alvo da ameaça de Trump de taxar em 50% os produtos brasileiros, anunciada em uma carta que cita uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Fonte: www.metropoles.com