São Paulo — Diante de promotores do Ministério Público de São Paulo (MPSP), o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), disse não reconhecer que milícias atuem no centro da cidade cidade, como apontado por investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Nesta terça-feira (6/8), o Gaeco deflagrou uma operação contra a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) na região da Cracolândia. Quatro guardas civis municipais e ex-GCMs foram alvos alvos de mandados de prisão, acusados de extorquir comerciantes em troca de proteção contra usuários de drogas e criminosos. Dois deles estão foragidos.
No pedido de cautelar que deu origem à operação, batizada de Salus et Dignitas, e na entrevista coletiva realizada durante a tarde, os promotores utilizaram diversas vezes o termo “milícia” para se referir aos suspeitos. Ricardo Nunes, no entanto, afirmou que se tratam de casos isolados.
“A prefeitura desconhece milícia atuando na cidade de São Paulo. O que a prefeitura tem é um regime muito rígido com relação a sua Guarda Civil Metropolitana, até pela consideração e reconhecimento que tem pela guarda civil. Temos 7.500 homens e mulheres. Em respeito a eles, temos um sistema muito rígido em relação à separação de um ou outro indivíduo que cometa algum ato fora dos padrões e ilícitos”, afirmou Nunes.
O prefeito citou o caso de um dos GCMs presos, Antonio Carlos Amorim de Oliveira, que foi alvo de suspeitas de extorsão em julho do ano passado. Na época, a prefeitura pediu que o MPSP pedisse a prisão dele.
“Um deles [GCMs], a prefeitura, no ano passado, pediu a prisão ao Ministério Público, tal é o rigor com a instituição. Porque não vão ser 3, 4 ou 5 que vão manchar a imagem de 7.500 valorosos guardas civis dessa cidade. Eu faço questão de defender a minha corporação. Não tem nenhum reconhecimento da nossa parte desse termo de milícia. O que tem é que, se alguém fizer algo errado, vai ser afastado”, disse o prefeito.
Para promotores do Gaeco, ouvidos sob condição de anonimato pelo Metrópoles, o pedido feito pela prefeitura no ano passado deu publicidade às suspeitas envolvendo o GCM e prejudicou as investigações.
Milícias
O termo milícia foi mencionado 25 vezes no pedido de prisões e buscas e apreensões que deu origem à Operação Salus et Dignitas.
“Chegou ao conhecimento deste núcleo especializado a existência de uma milícia na região central de São Paulo, denominada ‘Cracolândia’, formada por guarda civis metropolitanos da capital que extorquiam comerciantes em troca de ‘proteção’ contra delitos patrimoniais praticados por adictos”, dizem os promotores.
Sobre o servidor Antonio Carlos, citado por Nunes, eles afirmam que o suspeito “integra um grupo de guardas denunciado por cobrar ‘taxa de proteção’ de comerciantes da região central da capital, exercendo uma milícia para proteger estes da ação de crimes patrimoniais praticados pelos dependentes químicos”.
Apontamentos semelhantes são feitos em relação a Renata Oliva de Freitas e Elisson Assis, também GCMs; e Rubens Alexandre Bezerra, GCM aposentado.
Favela do Moinho
As investigações apontaram que a Favela do Moinho, localizada ao lado do viaduto Orlando Miguel, nos Campos Elíseos, se tornou uma “fortaleza do PCC”. De lá, os criminosos estariam controlando as comunicações da polícia e mantendo um tribunal do crime.
Valdecy Messias de Souza, Paulo Márcio Teixeira, Ingrid de Freitas, Ivan Rodrigues Ferreira e Janaína da Conceição Cerqueira Xavier foram apontados como os responsáveis pelo esquema de vigilância.
Eles estariam usando rádios transmissores codificados na frequência dos órgãos de segurança pública, que permitiam o acompanhamento das movimentações policiais.
Um dos principais alvos da operação desta terça-feira foi Leonardo Monteiro Moja, o Leo do Moinho. Ele é apontado como responsável pelo abastecimento de drogas na região da Cracolândia.
Seria na Favela do Moinho que Moja armazenava a droga antes de distribuí-la para seus entrepostos na Cracolândia, como a rede de hotéis e hospedarias compradas pela facção.
Fonte: Oficial