João Henrique, 27, é um influenciador de moda que reveza entre o seu clássico New Balance, o queridinho Samba da Adidas, e uma nova paixão: o sapato loafer. “Comprei o meu primeiro par há alguns anos, só que eu não sentia confiança de usar”, lembra ele. “Quando eu comecei a ver modelos de loafer mais robustos, como o da Dr. Martens, me apaixonei e achei mais fácil de adaptar ao visual.”
Esse tipo de mocassim, é verdade, ganhou com o tempo a pecha de sapato de mauricinho ou calçado de vovô. Agora, no entanto, faz a cabeça de novas gerações graças a um movimento de maior amadurecimento da moda masculina, além de uma variedade de marcas nacionais e internacionais que oferecem novas interpretações da silhueta.
De acordo com a Trendalytics, as pesquisas no Google por mocassins masculinos aumentaram 25%, ano após ano, desde 2023. No Tiktok, vídeos do calçado contam mais de 12 milhões de visualizações, o que significa cerca de 130 mil views por semana.
É que o streetwear está cada vez mais preppy. De pegada colegial, o estilo surgiu nos câmpus de universidades particulares estadunidenses, principalmente da Ivy League, durante a década de 1930. O primeiro a virar febre na faculdade de Yale foi o penny loafer, da tradicional empresa de sapatos estadunidense GH Bass & Co. Com design casual e livre de cadarços, o acessório virou um elemento marcante do que se tornou o look Ivy.
A moda é cíclica e, entra na matemática visual do retorno do mocassim, o fato de que o mercado de sneakers ficou saturado. Lançamentos constantes, produtos repetitivos e colaborações pouco atraentes (e preços menos ainda) acabaram por contribuir para a sensação de que o estilo preppy é algum anti-hype.
Mas o visual Ivy contemporâneo não é como antes. Trata-se de uma releitura com camisetas de estampas gráficas, bonés e sneakers. A repaginada impactou um público jovem que cresceu vestindo looks urbanos ou esportivos e, hoje, está mais maduro e quer refletir isso no que veste – mas, sem abrir mão das suas origens, gostos e, acima de tudo, conforto.
Modelos de sapato loafer da marca novaiorquina Blackstocker & Weber.
Foto: Instagram/@blackstockandweber
Antes mesmo do fenômeno, o estadunidense Chris Echevarria enxergou a oportunidade de mercado. Em 2017, ele fundou a marca de mocassins Blackstock & Weber, no Brooklyn, em Nova York. “Antigamente, não havia inovação. O sapato loafer costumava ficar no fundo das lojas e o consumidor só comprava quando tinha uma entrevista de emprego ou um casamento”, ele lembra.
Loafer com desenho de Martini da Duke + Dexter.
Foto: Instagram/@dukedexter
A londrina Duke + Dexter, por sua vez, aposta em padronagens com pegada pop para os seus loafers. Pense em mocassins estampados com espressos martini, marcas de beijo e rosas, cerejas e escritos como “ma chérie” e pinturas de paisagens.
“O burburinho do mocassim gira em torno de sua versatilidade”, analisa o fundador Archie Hewlett, em entrevista a um site estadunidense. “Você tem a variedade nos próprios designs e também na maneira de usá-los, seja com uma camiseta e calça baggy ou um terno para uma grande ocasião. Os loafers são socialmente aceitos em qualquer ambiente. E, sejamos realistas, eles ficam muito melhores do que a maioria dos tênis básicos.”
Também ajudou a mudar a percepção dos loafers as colaborações com grandões do streetwear e versões de grifes de luxo. Exemplo disso é a união entre Dr. Martens e Supreme ou as opções de casas como Prada, Gucci, J.W. Anderson e Martine Rose. Elas abriram o leque de possibilidades já diversificado de labels reconhecidas no mercado, como Horatio Footwear, Aimé Leon Dore, Morjas, J.Crew, Church’s e Belgian Shoes.
Sapato loafer da etiqueta carioca Welcome Sunny Garments.
Foto: Instagram/@welcome.rio
Em solo nacional, o sucesso dos mocassins ganha tração com novas marcas como a Welcome Sunny Garments. Em 2023, a etiqueta carioca lançou a sua primeira versão de mocassim, com solado emborrachado e tons de bege e verde militar, o que virou um best seller da casa.
“Na Welcome, nós valorizamos muito um estilo atemporal”, conta o co-fundador Felipe Gutnik, de 31 anos. “Já tínhamos vários produtos de alfaiataria e, para compor esse guarda-roupa, faltava um calçado que só poderia ser o loafer. A repercussão foi muito positiva, com sold out em poucas semanas, mas ainda é um mercado novo e desafiador.” Agora, a etiqueta se prepara para lançar a segunda versão do calçado. Dessa vez, preto e branco.
A Cocker Shoes, renomeada para VIGA Shoes, também investe no modelo. Em 2019, a etiqueta passou das mãos de Kenji e Cristiane Nakane para o filho Caio Nakane, responsável pela repaginada no visual. Os mocassins unissex são o hit da label, que também tem versões no estilo mule, texturas que imitam pele de crocodilo, solados tratorados e cabedais em suede. No currículo da marca, estão colaborações com Piet e a internacional Colm Dillane (marca do fundador da KidSuper), além de um modelo híbrido desenvolvido especialmente para o Nike Air Max Day deste ano.
Modelo penny loafer da paulistana Pace.
Foto: Instagram/@pace
Reinventar clássicos também é a especialidade de Felipe Matayoshi, o dono da Pace. O designer, que começou fazendo sapato, já brincou com a famosa história por trás dos penny loafer: nos anos 1930, colocava-se moedas (pennys) na tira do cabedal para possíveis chamadas de emergência em cabines telefônicas. No Brasil, os mocassins também são encontrados na Saint Studio, Louie, Foxton e Oficina Reserva.
Independente do modelo, a elegância e versatilidade do sapato loafer conquista espaço mais uma vez. “Você pode usar com um par de jeans ou short e ficar melhor e tão confortável quanto com um tênis”, avisa Chris. “Gostaria que as pessoas percebessem que existem outras opções de calçados e o mocassim é uma ótima pedida.”
Fonte: Oficial