Home Noticias Pai de autista, barbeiro de SP atende crianças com TEA de graça

Pai de autista, barbeiro de SP atende crianças com TEA de graça

3
0
Ícone de sino para notificações

Em homenagem ao Dia dos Pais, o Metrópoles conta a história de Jucimar José Ribeiro, conhecido como Jô, um barbeiro de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, que, após o filho ter sido diagnosticado Transtorno Espectro Autista (TEA), passou a cortar o cabelo de crianças com a mesma condição de forma gratuita.

Todas as quartas-feiras, uma cadeira do salão de Jô é reservada para o atendimento especializado. Ao Metrópoles, ele contou que, no começo da carreira, tinha muita insegurança para atender o público infantil. Isso mudou depois de conhecer um cabeleireiro que “tinha o dom de cortar o cabelo de crianças”.

“Até que então nasceu o Lorenzo, meu filho, que logo a gente percebeu que estava dentro do espectro. Ele tinha muita sensibilidade para tocar no cabelo dele e, quando chegou a hora de tentar cortar, eu fui devagarzinho, tentando aqui, tentando ali. Mesmo com a grande sensibilidade que ele tinha, eu fui com jeitinho e ele deixou cortar”, relembrou Jô.

-- Anuncios Patrocinados --
Curso Automação sem Limites

Quando veio o diagnóstico de Lorenzo, Jô, que não sabia muito sobre o TEA, decidiu se inteirar no assunto e procurou grupos de pais de crianças atípicas. Foi em um desses encontros que ele percebeu que cortar o cabelo dos filhos era um dos maiores desafios para as mães e os pais.

“Era um sofrimento para a maioria e eu fiquei muito sensibilizado. A gente vai descobrindo tantas coisas, tantas dificuldades, tanto sofrimento das mães e pais atípicos, que é lamentável o quanto o nosso país ainda está atrasado. Eu queria ajudar de alguma forma e esta foi a que achei: fazer o que eu sabia fazer, cortar cabelo.”

Foi assim que surgiu a ideia de abrir um espaço para crianças com TEA no salão. Para ele, investir tempo com crianças atípicas é poder trazer alívio aos pais. E sem cobrar nada por isso.

Como Jô virou barbeiro

Jô veio de família humilde e trabalhava como pedreiro, quando, por acaso, virou barbeiro. O irmão dele, que tinha um salão, precisou viajar e pediu para que Jô ajudasse, “fingindo” ser cabeleireiro também.

“Ele estava acreditando em mim e eu pensei: ‘Se ele está acreditando em mim, eu também vou acreditar’. E assim eu fiquei no salão dele por aproximadamente duas semanas, cortando cabelo e, por incrível que pareça, os clientes gostaram”, lembrou. O barbeiro contou que a única noção que tinha era de assistir o irmão e imitá-lo.

O projeto com crianças com TEA

Do inimaginável, o projeto nasceu, já tem aproximadamente dois anos e ajuda cerca de 6 crianças com TEA por semana. “Tem sido maravilhoso ver o sorriso no rosto da criança e dos pais ao ver os seus filhos cortaram o cabelo sem sofrimento”, falou o barbeiro.

A forma na qual o cabelo de cada criança é cortado não segue uma regra. Segundo Jô, há atendimentos que duram cerca de duas horas ou mais. “Cada criança tem uma forma específica de lidar, um tempo específico, um brinquedo específico”, contou. Para o barbeiro, a melhor técnica é amor e paciência.

“Quando a gente tem carinho, amor e paciência, a criança consegue deixar. Talvez tenha algumas dificuldades, obviamente por conta da sensibilidade, do medo, mas consegue ter essa confiança aos poucos. É muito satisfatório quando a gente vê a criança feliz porque ela cortou o cabelo e não sofreu.”

A paciência deve vir também dos pais que levam os filhos no salão de Jô. Ele ressalta que o processo é uma construção e que, muitas vezes, no primeiro atendimento, não é possível cortar todo o cabelo. Ele costuma pedir que algumas mães e pais levem as crianças com TEA à barbearia, mesmo que não seja às quartas-feiras – o dia reservado para os atendimentos –, para eles se acostumarem com o local e com o próprio Jô.

“É para a gente começar esse trabalho de formiguinha, aos poucos: um dia corta um pouquinho, outro dia ele só vai deixar passar a mão no cabelo, outro dia ele vai deixar só pentear, outro dia a gente vai mostrar a tesoura para ele”, falou.

Para Jô, o trabalho vai além de simplesmente cortar os cabelos das crianças atípicas. A intenção dele é conseguir ter o desenvolvimento de levar a criança do medo e do desespero para a paz e a tranquilidade.

Pai de autista

Jô começou a ter uma percepção mais atenta à sensibilidade e às dificuldades após o nascimento de Lorenzo. Para o barbeiro, ver o filho sentado na cadeira tranquilo, cortando o cabelo, é sensacional.

“Essa evolução dele, para mim, é muito prazerosa. É muito emocionante ter acontecido isso e consequentemente estar fazendo isso com as outras crianças”, disse.

Segundo Jô, já houve inúmeros casos de crianças que, no primeiro atendimento, não conseguiam nem entrar na barbearia, apavoradas, cheias de trauma e medo, mas que, após cortarem o cabelo com ele, até pedem para ir ao salão. “Isso não tem preço”, admitiu.

Fonte: www.metropoles.com