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PCC: como o Tatuapé virou reduto dos barões da facção em SP

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Hospital Municipal Dr. Cármino Caricchio, no Tatuapé

São Paulo — O Tatuapé vive uma transformação econômica, desde a década de 1980, quando essa região da zona leste de São Paulo começou a vivenciar a expansão imobiliária, com empreendimentos de alto padrão, resultante da ascensão social de moradores, incluindo, em alguns casos, por meios criminosos.

Investigações mostram que chefões do Primeiro Comando da Capital (PCC) investem fortunas, ganhas com o tráfico de drogas, na compra de imóveis e de carros de luxo na região. Como mostrado pelo Metrópoles, o tráfico internacional, principal atividade da facção criminosa, rende bilhões de reais, anualmente, aos membros de sua cúpula.

Os itens ostentados pelos “novos ricos” do crime desencadeou operações das polícias Federal, Civil e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que miraram concessionárias de veículos, construtoras e imóveis de luxo na região.

 

Fontes da Polícia Civil que investigam a facção, ouvidas em sigilo, e o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani foram unânimes em afirmar que o “status”, aliado à localização geográfica do bairro emergente da zona leste, possibilitaram o estabelecimento de membros do alto escalão do PCC nesse novo reduto.

Um dos barões do crime que viviam na região é Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, acusado de usar a empresa de ônibus UpBus, da qual era sócio, para lavar milhões da maior facção do Brasil, como mostra a Operação Fim da Linha, deflagrada pelo Gaeco paulista.

Ele, que segue foragido da Justiça, também foi investigado em um esquema que mandou mais de R$ 1 bilhão da facção para o exterior.

Território familiar

“O Tatuapé viveu uma expansão imobiliária importante, de imóveis caros, e é um lugar que se tornou de status desse novo dinheiro de São Paulo”, afirmou o professor Rafael Alcadipani, que também é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O especialista ainda pontuou que, por estar “no começo da zona leste”, perto do centro e zona norte, criminosos que moram em pontos mais distantes, dominados pelo PCC, migram para o Tatuapé, mantendo-se ainda em território conhecido.

Um delegado especializado em investigar organizações criminosas reforçou que a zona leste é uma região na qual, historicamente, o PCC “sempre foi mais forte”.

“Arriscaria dizer é a região onde a facção sempre foi mais forte. Obviamente, o traficante ascende socialmente e, por isso, ele vai procurar se deslocar para um local mais próximo de onde estava antes”.

O policial civil pontuou que, além do Tatuapé, os criminosos também migram para bairros adjacentes e também emergentes, como Anália Franco, por exemplo.

O delegado acrescentou que a mudança para regiões mais ricas favorece a aproximação dos criminosos com “pessoas que lidam com dinheiro”, como donos de concessionárias de veículos, comércios e construtoras.

“Essa proximidade favorece eventuais relacionamentos e, uma vez estabelecido, há uma união para que o criminoso lave seu dinheiro com aquele comerciante, que passa a ser criminoso quando assume essa conduta de lavar dinheiro para o crime”, pontuou.

Carros de luxo apreendidos

Em julho do ano passado, policiais do 30º DP (Tatuapé) apreenderam mais de 50 carros de altíssimo padrão, como Ferrari, Porsche e até uma MacLaren, avaliada em R$ 2,3 milhões. Os veículos, mostram investigações,  eram deixados supostamente em consignação em uma concessionária de veículos da região.

Como mostrado pelo Metrópoles, a Receita Federal identificou um conjunto intrincado de empresas e pessoas físicas usadas pelo PCC para disfarçar a propriedade de veículos e imóveis de luxo adquiridos por meio da lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e de outras atividades criminosas. Isso não impede de os chefões do crime viverem nos empreendimentos, pagando contas, além de circularem pelas ruas do bairro ostentando carrões.

“Eles ficam ricos, mas se mantém em um ambiente conhecido, viram uma personalidade de destaque da região”, afirmou uma autoridade, que monitora as atividades da facção na região.

A fonte acrescentou que, em bairros tradicionalmente ricos, nos quais gerações de abastados vivem e se sucedem, os criminosos iriam “chamar a atenção”, por conta de seus hábitos e trejeitos.

“Os membros da facção gostam de um certo tipo de roupa, de músicas. Nos Jardins, por exemplo, esses hábitos chamariam a atenção de forma negativa, seriam vistos com desconfiança, expondo os criminosos. Já aqui na zona leste, não, aqui isso passa batido”, afirmou.

“Centralidade”

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) mostra que o Tatuapé passou a se tornar uma “centralidade” na zona leste a partir da década de 1980.

Isso é atribuído, de acordo com a pesquisa, pelo fato de imigrantes terem enriquecido, de forma honesta, em decorrência de suas atividades ligadas às indústrias em anos anteriores.

Nas duas décadas seguintes, como mostra levantamento da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), houve no Tatuapé mais de 200 lançamentos “residenciais verticais”.

Entre 1002 e 2015, por exemplo, os lançamentos imobiliários contabilizam 23.550 apartamentos, ainda de acordo com dados da Embraesp.

Fonte: Oficial