São Paulo — A Polícia Federal (PF) concluiu que houve desvio de dinheiro público na gestão de creches da Prefeitura de São Paulo, indiciou 111 pessoas suspeitas de participação no esquema e manteve aberta uma investigação para apurar possível envolvimento do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), no caso.
O relatório da PF, assinado pelo delegado Adalto Machado, foi concluído nessa terça-feira (30/7). No documento, ele afirma que “é suspeita essa relação do então vereador Ricardo Luis Reis Nunes, atual prefeito de São Paulo, com uma das principais empresas atuante do esquema criminoso de desvio de verba pública do município de São Paulo”.
A suspeita é a de que o prefeito tenha recebido repasses ilegais por meio da uma empresa “noteira” que fazia a contabilidade de várias entidades que têm convênios com a prefeitura para administrar creches municipais. Entre elas está a organização social Associação Amigo da Criança e do Adolescente (Acria), que foi presidida por Eliana Targino, ex-funcionária Nikkey Serviços Ltda., empresa de Nunes.
Segundo a investigação, entre 2018 e 2020, a Acria fez compras e contratou serviços que totalizaram R$ 2,5 milhões de uma empresa chamada Francisca Jacquline Oliveira Braz Eireli. Essa empresa, contudo, devolveu R$ 1,3 milhão à Acria, em transações que são alvo de investigação.
A empresa de Francisca também fez uma transferência de R$ 20 mil para a conta da Nikkey e Nunes depositou em sua própria conta dois cheques da firma, totalizando R$ 11,6 mil, segundo a PF.
A Nikkey estava registrada em nome da mulher do prefeito, Regina Carnovale Nunes, e da filha do casal. Em depoimento à PF, tanto ela quanto Nunes afirmaram que era o prefeito quem comandava a empresa de fato. No relatório, o delegado da PF afirma que “faz-se necessária a continuidade das investigações em relação aos fatos envolvendo a OSC ACRIA e o então vereador Ricardo Luis Reis Nunes”.
Procurada pelo Metrópoles, a assessoria de Nunes encaminhou uma nota na qual o prefeito nega ter cometido qualquer irregularidade.
“O inquérito da Polícia Federal de 2019 foi concluído ontem, a dois meses da eleição. Foram indiciadas 111 pessoas, em um processo de quase 20 mil páginas. O prefeito Ricardo Nunes não foi indiciado. No procedimento, nunca houve nenhuma acusação contra Ricardo Nunes e a empresa Nikkey. Reforçamos: nenhuma acusação, nenhuma irregularidade”, afirma.
“Na conclusão do inquérito e apenas em razão de análise incorreta dos múltiplos documentos que foram juntados pela defesa, o delegado sugere que deveriam ser verificados os pagamentos que foram feitos à empresa Nikkey por serviços prestados, cujas notas foram contabilizadas e com os impostos recolhidos”, completa.
Ainda segundo a nota, “o prefeito prestou todos os esclarecimentos no processo e, reitera-se, não resultou em qualquer acusação”.
“Ricardo Nunes é, sempre foi e sempre será o maior interessado no esclarecimento desses fatos. As certidões anexas, emitidas na data de hoje, atestam a correção e honestidade do Prefeito Ricardo Nunes. É perversa e muito suspeita essa manobra rasteira às vésperas de uma eleição em tentativa de prejudicar a reputação do líder das pesquisas de intenção de voto à reeleição”, conclui.
As suspeitas
Desde 2020, a PF tem informações de que a Associação Amigos da Criança e do Adolescente (Acria), que na época era presidida por Eliana Targino, ex-funcionária de Nunes, havia feito repasses em dinheiro à empresa da família do prefeito, a dedetizadora Nikkey.
As investigações apontaram, contudo, que a Acria desviava o dinheiro que recebia para administrar as creches por meio de compras forjadas, em um esquema intermediado pelo escritório de contabilidade de Rosângela, que passou a ser investigada.
Uma mulher investigada pela PF afirma que Nunes recebeu dinheiro desviado de creches no período em que foi vereador. Rosângela Crepaldi, funcionária de um escritório de contabilidade suspeito de articular um esquema de emissão de notas fiscais frias, diz, em uma gravação em vídeo obtida pelo Metrópoles, que a empresa do prefeito recebeu dinheiro das creches sem ter prestado serviço.
“Esse repasse era todo contabilizado. Esse dinheiro entrava na conta dos fornecedores e os fornecedores repassavam o que não era de compras em devolução à empresa”, diz Rosângela. “Era repasse. Nunca prestaram nenhum tipo de serviço para mim”, disse a investigada. O depoimento dela foi revelado pelo jornal Folha de S. Paulo.
Sobre o vídeo gravado por Rosângela, a assessoria de Nunes afirma que ele “jamais constou do inquérito e será alvo de medidas criminais pelo prefeito”, por calúnia e outras infrações penais, e “para identificar quem encomendou esse ‘depoimento’ e a auxiliou”.
“O prefeito nunca negociou absolutamente nada com esta senhora Rosângela, e ela responderá pelas acusações levianas na Justiça”, diz.
Fonte: Oficial