São Paulo — O soldado da Polícia Militar (PM) Moroni Siqueira Rosa, de 37 anos, foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio e tentativa de homicídio por matar a tiros o técnico florestal Hamilton Olímpio Ribeiro, de 29, e balear outras duas pessoas durante um festival sertanejo em Marília, no interior de São Paulo.
O PM foi preso em flagrante ainda no evento e teve a prisão preventiva decretada no último sábado (31/8), horas após o ocorrido. Antes de ser detido, Moroni foi espancado por um grupo de pessoas que testemunharam o assassinato. Ele passou dias internado, até ser transferido para a cadeia.
O relatório final do inquérito policial aponta que Moroni e Hamilton tiveram uma discussão motivada pelo fato de o PM imaginar que o técnico florestal estaria importunando sua esposa. “Ressaltando-se que o local estava com aglomeração de pessoas e o ambiente não afastava a possibilidade de os presentes se esbarrarem”, diz a polícia.
Ainda segundo a investigação, a vítima foi agredida inicialmente pelo PM e revidou com um soco. Após trocarem agressões, Moroni sacou uma pistola .40, sua arma de trabalho, e fez diversos disparos. Hamilton tentou fugir, mas foi atingido pelas costas. O laudo do Instituto Médico Legal mostra que esse primeiro tiro, de quatro recebidos, foi fatal.
Além da vítima fatal, um homem foi atingido de raspão no rosto e uma mulher atingida na perna. Mesmo feridos, eles não correram risco de morte. Moroni também é acusado pela polícia pelos ferimentos provocados nos dois.
Depoimento
Na delegacia, o PM declarou que estava no evento com sua esposa e filha quando Hamilton “aproximou-se demasiadamente delas” e, ao tentar conversar com ele, levou um soco no maxilar. Segundo ele, após o golpe, o técnico florestal ainda tentou desarmá-lo. Então, Moroni fez um disparo “para defender-se e também a sua família”.
O policial disse ainda que havia tentado “conversar educadamente” com Hamilton. Ele afirmou não se recordar de ter feito outros disparos, nem de ter feito ingestão de bebida alcoólica. Uma foto anexada ao relatório (imagem de capa) mostra Moroni bebendo uma lata de cerveja no local.
Para a polícia, trata-se de um homicídio qualificado por motivo fútil, “uma vez que o comportamento do indiciado em efetuar os disparos com uma arma de fogo foi totalmente desproporcional à discussão travada com o ofendido e eventual troca de agressões físicas, estando a vítima desarmada”. O relatório também conclui que não houve elementos para justificar legítima defesa.
Procurada pelo Metrópoles, a defesa do PM afirmou que “reitera a alegação de legítima defesa, bem como os efeitos do grave golpe na face sofrido pelo policial Moroni e a tentativa de arrebatamento de sua arma”.
“A defesa contesta de forma veemente a indicação no relatório final de que o policial Moroni iniciou a confusão, bem como qualquer argumentação de que estava sob efeito de álcool, sendo leviana tal argumentação sem o relatório do laudo toxicológico”, concluiu.
Testemunhas
Um dos funcionários da segurança que atuava no evento disse, em depoimento, que o PM continuou atirando mesmo quando a vítima já estava de costas, tentando fugir.
Também em depoimento, a companheira de Hamilton afirmou que, momentos antes do crime, pediu um cigarro para uma mulher que estava perto do casal na festa. Segundo a testemunha, a conversa entre elas foi “amistosa, sem qualquer falta de respeito”.
No entanto, o policial surgiu e parou ao lado da mulher que tinha cigarro, supostamente a companheira de Moroni. Na versão da testemunha, o soldado da PM estava “com os olhos avermelhados” e aparentava ter feito “uso de bebidas alcoólicas ou até mesmo drogas ilícitas”.
Nesse momento, Moroni passou a encarar, “sem qualquer motivo”, o técnico florestal, de acordo com a versão da companheira. Então, os dois se desentenderam e começaram as agressões.
Vídeos feitos por testemunhas mostram a sequência do momento que interrompeu o festival. Os sons dos tiros assustaram Lauana Prado, que deixou o palco e correu para se proteger. A multidão que acompanhava a apresentação também se apavorou (assista abaixo).
Prisão preventiva
Na decisão que converteu a prisão em preventiva, o juiz Felipe Guinsani entendeu que o policial demonstrou “claro intuito homicida, o que justifica a decretação da prisão cautelar”. A Justiça aguarda a alta hospitalar de Moroni para realizar a audiência de custódia.
“[O policial] apresentava-se visivelmente embriagado e/ou sob a influência de substâncias ilícitas, no interior de uma festa de rodeio, portando uma arma de fogo fora do seu expediente, expondo a integridade física de inúmeras pessoas a risco. Além disso, envolveu-se em briga sem, a princípio, qualquer justificativa”, escreveu o magistrado.
Fonte: Oficial