São Paulo — Ao contrário do que se via em eleições anteriores, quando as redes sociais não eram tão utilizadas, a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, que começa nesta sexta-feira (30/8) e vai até o dia 3 de outubro, não possui mais o mesmo impacto na transformação de uma eleição.
Apesar disso, especialistas alertam que não se pode menosprezar as consequências que uma inteligente estratégia de campanha televisiva pode causar nos dias atuais, assim como programas e peças ruins podem acabar afundando ainda mais um candidato.
De acordo com Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV, o horário eleitoral na TV já foi monopolizador do debate político, mas agora a propaganda televisiva pode impactar mais aqueles que ainda estão indecisos quanto ao seu voto.
“Aquele eleitor que já é decidido por um partido ou por um determinado candidato dificilmente vai ser impactado por qualquer mídia que seja. O eleitor indeciso é a grande busca em qualquer eleição. E nesse caso da eleição de São Paulo específica, que a gente está olhando para o empate triplo, neste momento, e um cenário muito incerto, é muito fundamental ter essa possibilidade de exposição”, explica a especialista.
Já para Danilo Rothberg, professor de Sociologia da Comunicação da Unesp, o hábito da televisão tende a ser compartilhado com familiares ou amigos, o que propicia a discussão, ao contrário do consumo das mídias sociais que costuma ser uma recepção mais individual e isolada. Para o pesquisador, o início do horário eleitoral vai intensificar o debate entre as pessoas sobre qual a melhor opção para a Prefeitura de São Paulo.
Desafios das campanhas na TV
Na campanha deste ano para a Prefeitura da capita, o prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) domina a maior parte do tempo: dos 10 minutos disponíveis, ele terá 6 minutos e 30 segundos. À primeira vista, isso pode parecer altamente positivo, mas para especialistas ouvidos pelo Metrópoles, também existe um risco da superexposição.
“Precisa-se entender o quanto que a exposição do candidato, da imagem ou das obras da cidade, ou aquela estratégia que seja adotada pela campanha, se é aquilo que vai de fato render voto. Em alguns casos, a superexposição do candidato pode ser inclusive negativa”, destaca Graziella Testa.
Já para a cientista política Juliana Fratini, autora do livro “Campanhas Políticas nas Redes Sociais” e doutora pela PUC-SP, o principal desafio da campanha de Nunes na televisão será criar uma identificação do político com os eleitores. “Ele não tem a personalidade de grande destaque, que é o contrário dos adversários dele, como Boulos, Tabata e Marçal”.
Pablo Marçal (PRTB), Bebetto Haddad (DC), Marina Helena (Novo), João Pimenta (PCO), Altino Prazeres (PSTU) e Ricardo Senese (UP) não terão horário na TV porque suas legendas não elegerem o número mínimo de deputados federais que determina a legislação eleitoral.
Redes sociais
Os especialistas acreditam que a propaganda na televisão pode ajudar a pautar os debates nas redes sociais, que já estão intensos, a partir daquilo que Danilo Rothberg destaca como transmídia. “As mídias se complementam e cada uma a sua maneira contribui para projetar ainda mais a mensagem que o candidato quer destacar, quer valorizar. Então, a TV acaba se tornando mais um elemento da estratégia eleitoral do candidato”.
A cientista política Juliana Fratini complementa, dizendo que “vai haver um diálogo direto com o que está se comunicando na TV e pelo meio digital, que é onde as pessoas podem se expressar diretamente”.
Nesse contexto, o impacto da ausência de Pablo Marçal no horário eleitoral ainda é visto como uma incógnita pelos especialistas. Mas, a exemplo do que aconteceu nas eleições de 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro tinha um tempo mínimo comparado ao do então adversário Geraldo Alckmin, as redes sociais mostram uma força diferente no debate político nos tempos modernos.
“Essas eleições vão ser muito importantes, elas são parte de um processo da mudança da forma de consumir informações pelo eleitor”, destaca a professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV.
Fonte: Oficial