São Paulo – “Eu conheci o Boulos fazendo protesto na frente do meu apartamento em São Bernardo do Campo”. É assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se refere ao deputado federal Guilherme Boulos (PSol), candidato à Prefeitura de São Paulo nestas eleições.
Em todos os atos dos quais participa ao lado de Boulos, Lula relata o primeiro encontro entre os dois, em 2003, no primeiro mandato do petista. Na ocasião, o psolista liderava o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e estava à frente de uma ocupação em um terreno vazio da Volkswagen em São Bernardo, cidade que é o berço político de Lula.
A militância do MTST alavancou Boulos à política. Ele entrou para o movimento aos 19 anos, quando foi viver em uma ocupação em Osasco, embora venha de uma família de classe média. Nascido em São Paulo, em 19 de junho de 1982, Guilherme Boulos é filho de pais médicos e professores da Universidade de São Paulo (USP) e foi criado em Pinheiros, na zona oeste da cidade.
Formado em filosofia, especializado em psicologia clínica e com mestrado em psiquiatria, Boulos é psicanalista e professor. Hoje, é casado com a advogada Natália Szermeta, que conheceu na militância do MTST, e vive no Campo Limpo, bairro da periferia da zona sul da cidade.
O casal é pai de duas filhas adolescentes, com 13 e 14 anos, respectivamente. À Justiça Eleitoral, ele declarou um patrimônio de R$ 199,6 mil, incluindo duas aplicações financeiras, metade de sua casa e seu carro Celta 2009/2010, que virou sua marca registrada em outras campanhas.
Boulos ganhou projeção nacional com a onda de manifestações em 2013 e com a ocupação, em 2014, de um terreno em Itaquera, na zona leste, chamado de Copa do Povo. O local foi ocupado pelo MTST durante protestos contra as desapropriações na região para a construção da Arena Corinthians para a Copa do Mundo. Ironicamente, ele é corintiano.
Estreia na política
Boulos transformou a questão habitacional em uma de suas principais pautas quando se lançou na política, em 2018, para concorrer à Presidência da República pelo PSol com a hoje ministra Sônia Guajajara (Povos Indígenas) como vice. Em sua estreia nas urnas, recebeu 617 mil votos e terminou em 10º lugar numa disputa com 13 candidatos.
Já nessa época, Boulos passou a ser apontado como possível herdeiro político de Lula, mesmo tendo disputado as eleições contra o PT. Quando o petista foi preso, em abril de 2018, Boulos esteve ao lado de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos e recebeu especial atenção do petista antes que ele se entregasse à Polícia Federal.
Nas eleições de 2020, Boulos fez sua primeira tentativa de chegar à Prefeitura de São Paulo, com a ex-prefeita Luiza Erundina (PSol) de vice. Os dois avançaram ao segundo turno contra a chapa encabeçada pelo então prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), e seu vice Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito. Boulos foi derrotado por Covas por uma diferença de 1 milhão de votos.
Já em 2022, Boulos inicialmente pretendia concorrer ao governo paulista, mas em um acordo com Lula, abriu mão da disputa para integrar a coligação em torno da candidatura de Fernando Haddad (PT) em troca de apoio petista para tentar se eleger prefeito em 2024. Naquele ano, Boulos se elegeu deputado federal com mais de 1 milhão de votos, sendo o mais votado no estado.
Eleição a prefeito
O acordo de Boulos com Lula para ser o nome apoiado pelo PT nestas eleições encontrou resistência interna no partido, em especial de uma ala ligada a Jilmar Tatto, que se candidatou à Prefeitura em 2020 e amargou 8,6% dos votos, sendo o 6º colocado entre 13 candidatos. Parte dos petistas acreditava que era necessário lançar um nome do PT na disputa, já que o apoio a Boulos significaria, pela primeira vez na história da cidade, a ausência de um candidato do PT como cabeça de chapa na disputa municipal.
A questão foi sepultada quando Lula articulou para que Marta Suplicy, então secretária de Relações Internacionais da gestão Nunes na Prefeitura, retornasse ao PT e entrasse na disputa como vice de Boulos.
A chapa tem vendido a candidatura de Boulos como uma continuidade das gestões progressistas na cidade, representadas pelos governos de Erundina, Marta e Haddad, e apostado na nacionalização da campanha, reforçando a polarização entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apoia a reeleição de Nunes mas tem muitos de seus seguidores endossando a candidatura de Pablo Marçal (PRTB).
Fonte: Oficial