São Paulo – O ator Reynaldo Gianecchini, atualmente em cartaz no Teatro Bradesco, em São Paulo, com a peça “Priscilla, a Rainha do Deserto – O Musical”, usou o Instagram nessa terça-feira (2/7) para deixar dois recados. No primeiro, de cara limpa, falou sobre a reação do público em relação aos seus dois últimos personagens.
Na série “Bom dia, Verônica”, da Netflix, Gianecchini interpretou o líder religioso e abusador Matias Carneiro. Em “Priscilla, a Rainha do Deserto – O Musical”, Gianecchini interpreta Anthony “Tick” Belrose, performer e drag queen, que possui o nome artístico Mitzi Mitosis.
“Sim, tem muita gente que adora e curte, sim, estou recebendo um monte de comentários negativos de gente que confunde meu trabalho com minha vida pessoal e destilam lá toda sua raiva e preconceito. Eu queria falar assim para essas pessoas: ´tudo bem, né, ser um psicopata, um abusador, não confundiram com minha vida pessoal, mas uma drag queen, sim, muita gente não quer me ver nesse papel. Querem me cancelar. Curioso, né. Quer dizer, um psicopata é legal, uma drag queen não é”.
No segundo vídeo, Reynaldo Gianecchini, numa postura enfática, afirmou que muitas pessoas misturam sua vida pessoal com sua vida profissional.
“E pra quem confunde o meu trabalho, os meus personagens, com minha vida pessoal eu digo: eu sou um ator. Eu realmente não ganho a vida fazendo drag queen, mas se esta fosse a minha escolha eu ficaria muito feliz porque são pessoas e artistas que admiro (as drags). O que não admiro e jamais queria ser é um cara preconceituoso, um cara que dissemina ódio, raiva, que não acolhe, que não é empático, um cara que vive a vida de verdade. Isso, Deus que me livre”.
Para Dan Pimpão, membro da comunidade LGBTQIAPN+ entrevistado pelo Metrópoles, a comunicação do ator é maçante. “É curiosa sua incapacidade de compreender que as críticas que boa parte da comunidade LGBTQIAPN+ tem feito sobre o seu último trabalho ocorrem por não se sentirem representadas por alguém que a rejeitou durante muito tempo. Quando resolveu falar sobre sua sexualidade, optou por se colocar à margem dela com um discurso que já se tornou extremamente cansativo. A comunidade não persegue ninguém por ter ficado ‘muito tempo no armário´”.
No X, antigo Twitter, usuários opinaram. De um lado, veem que ele foi ótimo como Matias, mas não está bem em Priscilla. De outro, defendem que o ´hate´ é desproporcional. O Metrópoles conversou com duas pessoas que assistiram ao espetáculo e preferiram não se identificar. Um adorou. Outro achou a atuação fraca e destacou o trabalho de Diego Martins. Nas redes sociais, as manifestações do ator repercutem desde antes da estreia do espetáculo.
Entenda a polêmica com Reynaldo Gianecchini
Em abril, Reynaldo Gianecchini foi confirmado como protagonista do musical Priscilla, a Rainha do Deserto, uma adaptação do filme de 1994 que se estabeleceu como um marco da cultura LGBQTIAPN+, em especial do movimento artístico das drag queens. Em entrevista ao jornal O Globo, o ator rebateu as críticas sobre viver uma drag no teatro e falou sobre sua sexualidade.
“Essa temática sempre me interessa, apesar de um monte de gente me criticar e falar que não represento nenhuma sigla nem nunca fiz nada pela comunidade. As pessoas esquecem que eu já falei que sou pansexual, que já tive romances com homens e mulheres. Dizem: ‘Por que ele não sai logo do armário?’. O que mais querem? Detalhes da minha vida íntima? Não vão ter”, disse Gianecchini.
Artistas criticaram. “Vem crescendo esse interesse em contar as histórias de pessoas trans, drags, travestis. Mas em vez de chamar essas pessoas para narrar suas histórias, chamam pessoas como Reynaldo Gianecchini, que pouco se comprometem, pouco se posicionam, que têm mais passabilidade nos meios onde o dinheiro circula”, criticou a drag Sara, da dupla Sara e Nina, à Folha de S. Paulo.
Dias antes da estreia, performático e de salto, o ator Reynaldo Gianecchini postou em suas redes sociais um vídeo mostrando o ensaio de dança Vogue. Muitos acharam a performance ruim.
O ator tem falado constantemente sobre o assunto. Para a revista Wow, o ator disse que foi muito tempo “massacrado com a cobrança” da sua sexualidade. “Enfim, não tenho que falar falando sobre isso, não quero convencer ninguém, mas foi muito cruel essa especulação”, desabafou.
Reynaldo Giannechini também disse, no programa “Domingão com o Huck”, da TV Globo, que não se sentiu acolhido. “Como se eu estivesse ‘roubando’ o trabalho deles. Tinha a turma LGBT, que falava que eu não era um ‘bom representante’”.
Sobre o musical
O musical é baseado no filme clássico de 1994, do diretor Stephan Elliott, e conta a história de duas drag queens e uma mulher transexual que são contratadas para fazer um show em pleno deserto australiano. Para chegar até lá, elas vão a bordo do ônibus intitulado Priscilla.
A obra teve sua primeira adaptação para os palcos em 2006. É um sucesso em inúmeros países, como Inglaterra (West End), Austrália, Canadá, Itália, Suécia, Argentina, Grécia, Filipinas, Singapura, Coréia do Sul, Espanha, Itália, Japão, França, África do Sul, Hong Kong, Alemanha, Áustria, Finlândia, Polônia, além de turnês pelo Reino Unido e Estados Unidos. O musical também ficou por mais de um ano em cartaz na Broadway, onde contou com mais de 500 apresentações.
Fonte: Oficial