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Raridade: obra inédita de Tarsila do Amaral é descoberta e autenticada

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São Paulo — Na abertura da SPArte, maior feira de arte da América Latina realizada em abril, na capital paulista, uma suposta tela de Tarsila do Amaral surgiu de uma mala no estande da galeria OMA, e levantou suspeitas. Demais galeristas afirmaram que a obra era falsa, entre eles, Jones Bergamin, da Bolsa de Arte, conhecido no meio como Peninha. Quatro meses depois, contudo, perícia científica concluiu que a tela é autêntica.

“Paisagem 1925” teve a autenticidade confirmada e certificada após perícia desenvolvida pelo novo Comitê do Projeto de Certificação e Catalogação da artista. O escândalo na SPArte tomou proporção nacional e internacional porque a tela não estava no catálogo raisonné de Tarsila, mas a ausência de uma pintura no documento não a qualifica como sendo falsa. Cerca de 400 obras de Candido Portinari, por exemplo, foram descobertas após a publicação do seu catálogo.

Paola Montenegro, sobrinha-bisneta de Tarsila do Amaral e gestora da empresa, assumiu os negócios da família em janeiro de 2024, após um racha familiar. Mesmo antes da polêmica na SPArte, uma das principais mudanças defendidas por Paola estava relacionada à autenticação das obras. Ela apoiava uma reformulação com base científica. “Por mais que a família conheça a obra de Tarsila do Amaral, é imprescindível a análise de profissionais para realizar essa identificação”, afirmou Paola ao Metrópoles.

Diante da polêmica, ela colocou seu plano em prática. Contratou Douglas Quintale, perito científico em análises de obras de arte que participou de casos complexos, como o das obras de Alfredo Volpi, pertencentes ao acervo de Abílio Diniz, e do caso da família Garnero. Neste último, foi contratado pelo banco BTG para certificar se as obras da família, em dívida com o banco, eram verdadeiras. Concluiu que eram falsas.

Quintale agora preside o Comitê da Tarsila S/A. Segundo ele, o método adotado para certificação rompe com a escola de um passado recente, centrada nas observações históricas, visuais e estéticas determinadas por uma conclusão subjetiva apoiada na autoridade de um connoisseur.

O método utilizado envolve expertise jurídica, para atestar a legalidade da obra, ciência, para realizar exames físico-químicos, como radiografia, espectrografia, escaneamento, e estéticos, que leva em conta as concepções dos artistas. O trabalho contou com a parceria da Universidade de São Paulo (USP) e do  Laboratório Móvel de Análises de Obras de Arte do Instituto Federal do Rio de Janeiro da Universidade Federal Fluminense.

Segundo apurou o Metrópoles, o proprietário da nova obra revelada é Moisés Mikhael Abou Jnaid, brasileiro-libanês com dupla nacionalidade, e foi um presente do seu avô, Mikael Mehlem Abouij Naid, para sua futura esposa, Beatriz Maluf, em comemoração ao matrimônio realizado em Piraju, interior de São Paulo.

A obra ficou no Brasil até 1976, quando a família retornou à Zahle, terceira maior cidade do Líbano. Foi apenas em dezembro de 2023 que a tela desembarcou definitivamente no Brasil.

“Paisagem 1925”

A tela é datada de 1925, ano muito produtivo da pintora, quando Tarsila criou os quadros mais representativos da fase pau-brasil. A identificação do novo quadro é considerada extremamente valiosa, também, por agregar mais uma obra ao acervo da artista. Tarsila do Amaral, artista brasileira mais valorizada no mundo, não pintou tantas telas — cerca de 250 — mas fez muitos desenhos. Muitos deles não estão no catálogo e, por isso, são objetos de disputas judiciais.

 

Fonte: Oficial