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Samba e feijoada embalam torcida em SP pelo ouro no futebol feminino

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Torcida vestindo cores da bandeira do Brasil em estádio de futebol

São Paulo – A seleção brasileira de futebol feminino entra neste sábado (10/8) em campo, ao meio-dia, contra os Estados Unidos para disputar o ouro olímpico. Mas a sensação da torcida, dessa vez, é diferente. Há 16 anos que o Brasil não encarava uma final da modalidade, quando ficou com a medalha de prata ao perder a final dos Jogos de Pequim para o mesmo adversário da decisão deste sábado.

O que mudou de lá pra cá? “Vi toda a evolução do futebol, as dificuldades dessas atletas. Era muito triste ver as meninas jogando, se esforçando, fazendo bonito, e um público de dez pessoas. Isso estou falando de oito, nove anos atrás. E agora ver a gente numa final, enfrentando todo o preconceito e machismo que todas nós que amamos o futebol sofremos no dia a dia, é uma emoção forte. Estão fazendo história”, disse Analu Tomé, conselheira trienal do Sport Club Corinthians Paulista, ao Metrópoles.

Nayara Perone, CEO da página #JogaMiga, acompanha futebol há tempos e é um nome conhecido no meio. Esteve nas olimpíadas do Rio, depois na França, para a Copa 2019, e na Austrália, para a Copa 2023. “Nessa edição, a gente tava duríssima porque passamos quase 40 dias na Austrália. E aí classificou pra final (4×2 contra Espanha). A gente falou: ‘bom, qual a chance de vê-las numa final de novo tão cedo? Aí viemos na cara e na coragem”, contou após 11 horas de voo ao lado da mulher. Quando a Espanha caiu, os torcedores revenderam ingressos da final que não aconteceu e Nayara conseguiu comprar, na terça-feira, dois na revenda. “Fiz uma vaquinha com a galera. E bora que bora”.

Sem esquecer que…

“Merecimento, amor, muita garra”, definiu Analu, emocionada, sobre a conquista de chegar numa final. “E porque elas nunca desistiram. E elas passaram e passam por muitas dificuldades ainda. Não se pode dizer que as coisas mudaram porque elas estão final. No Brasil a realidade é outra”. Ela assistirá a final em casa, concentrada. “É um grande cala boca para os que desprezam o futebol feminino. Elas amam a camisa. Não é por dinheiro, é sempre por amor. Infelizmente há um abismo gigante entre salários e premiações quando olhamos o futebol masculino”.

Após derrotar a Espanha por 4×2 – com direito a gol contra, gol por baixo das pernas e gol de rebote – o país vibrou e comprou até “briga” após provocações de jogadoras espanholas nas redes sociais. Seria uma mudança de hábito? “Ainda existe uma cultura no país de que o futebol pertence aos homens – não só para jogar, mas para torcer. É uma cultura enraizada. Precisamos estourar essa bolha. Estouramos, está um pouco murcha, mas não está vazia. Trabalho de formiguinha”, avalia Analu, referência na luta por mais mulheres ocupando espaços no futebol e cofundadora do Movimento Toda Poderosa Corinthiana.

“Mudança é visível para todos”

Para a jornalista e palmeirense Maria Fernanda Laravia, estamos vivendo uma mudança muito grande dentro do futebol feminino brasileiro, um reconhecimento que antes nunca havia sido dado para nossas atletas. Ela lembrou de um churrasco e da vibração dos amigos no jogo Brasil e França com a vitória da seleção brasileira nas quartas de final dos Jogos Olímpicos.

“Elas estão se superando cada vez mais e isso é visível para todos, inclusive para os que não assistiam a modalidade feminina. A Seleção Brasileira Feminina de Futebol está devolvendo o sentimento de torcida pelo futebol brasileiro que perdemos nos últimos anos. Ver isso sendo feito por mulheres, é demais”, disse ao Metrópoles.

Samba, feijoada e telão

Em São Paulo, torcedoras quase infartaram, mas passam bem demais e organizam eventos para a final. A Nossa Arena, espaço poliesportivo dedicado às mulheres e pessoas trans, transmitirá a final olímpica de futebol feminino com telão e a entrada é gratuita a partir das 9h.

A programação inclui promoção de caipirinha em dobro das 12h às 16h, e música ao vivo. Jogadoras de grandes clubes brasileiros, como a Erika do Corinthians e a Cacau Fernandes, do Fluminense, confirmaram presença. Esta é a escolha da Fernanda, jornalista palmeirense entrevistada.

A preparação do Museu do Futebol para a grande final começou no dia seguinte à classificação. “Agora temos uma festa pra organizar na final contra os Estados Unidos. Teremos telão na área externa (sob a fachada do Pacaembu) transmitindo o jogo gratuitamente”, disse Maíra Corrêa, coordenadora de Exposições e Programação Cultural. “Quem quiser, é só chegar”.

A partida será transmitida de forma gratuita em um telão montado na área externa do Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu. A partir das 11h, tem samba da Elis, uma roda formada apenas por mulheres. Após a partida, o grupo musical volta a tocar.

O momento olímpico coincide com a recente reinauguração do museu. A Sala das Origens, que conta a trajetória do esporte do final do século XIX até os anos 1930 é um dos espaços reformulados que passa a contemplar com mais ênfase o futebol feminino. Entre os grandes marcos dessa história está o decreto assinado por Getúlio Vargas, em 1941, que vetou a prática da modalidade por mulheres, sob a justificativa de que o esporte seria “incompatível com as condições de sua natureza”. O veto durou quatro décadas, período no qual as mulheres brasileiras precisaram driblar as regras e a polícia para continuar jogando.

Enquanto isso, em Paris, Nayara prepara-se para encarar a partida ao lado da esposa. “É um sonho. Tinha que vir”, disse, com os pés no chão, deixando claro que a equipe dos Estados Unidos é forte. “Inclusive ainda to vendendo um pôster com a medalha que vier, daí mandarei produzir qdo chegar no Brasil para pagar a viagem”, disse feliz da vida.

Fonte: Oficial