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Transição verde para o setor da agropecuária

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Transição verde para o setor da agropecuária

O Brasil não precisa desmatar nem mais um metro de seus biomas para ampliar a produção agropecuária. Essa não é uma afirmação nova, mas foi mais uma vez reafirmada por especialistas durante o Diálogo pela Transição Verde, organizado pelo IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) e o Insper em São Paulo.

Roberto Waack, da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, é um dos fiadores desta tese. Ele explica que além de poder produzir mais nas áreas já dedicadas ao agro, é possível estabelecer amplos programas de regeneração de territórios já desmatados e entregues à degradação por abandono. “Há muita terra abandonada que pode ser recuperada para a produção ou para a regeneração”, afirma. 

Essa visão é compartilhada por Paula Ponciano, assessora da presidência da Embrapa. Para ela, uma das principais questões para o abandono de terras já desmatada é a pouca aplicação de tecnologias para a regeneração da capacidade produtiva do solo. Mas alerta que, possivelmente, muita dessa terra foi vítima de uma ocupação e desmatamento ilegal. Para estas, ela sugere programas de regeneração florestal, com a produção consorciada entre  florestas, alimentos e frutas. “Mas, para as áreas de produção agropecuárias, para aumentar a produção sem a necessidade de mais desmatamento, o ideal é a aplicação de ciência”, explica. E completa: “Monitoramento de solo e água, análises, sementes de qualidade e tecnologias que permitam aferir em tempo real a qualidade da produção”. 

Pressões do mercado para a transição verde

O diálogo reuniu pessoas de áreas distintas para oferecer visões amplas sobre os caminhos e alternativas para a transição verde em um dos setores mais importantes da economia brasileira. O agro vem sofrendo pressões por diversos lados. A Europa já avisou que vai apertar o monitoramento para vetar a compra de produtos oriundos de desmatamento ilegal e. internamente, os efeitos devastadores das mudanças no clima estão exigindo adaptação por conta das estiagens e enchentes que reduzem drasticamente a produtividade em diversas culturas.

Nabil Kadri, superintendente de Meio Ambiente do Fundo Amazônia do BNDES, coloca mais um ingrediente na transição: a necessidade de redução drástica das emissões de carbono do setor agro. “A transição energética tem uma relação forte com o agro, seja na redução de suas emissões próprias, como na oferta de biocombustíveis”, explica. Para isso, ele reforça que é preciso investir em ciência e inovação, e alerta para a necessidade de acelerar as transformações. “A humanidade está enfrentando um desafio de extinção de nosso modo de vida. Precisamos trabalhar para mudar a realidade da emergência climática”. Kadri também defende a regeneração florestal como um caminho necessário e urgente para esse enfrentamento. “Ainda não inventamos tecnologia melhor do que as árvores para o enfrentamento do dilema da descarbonização”, conclui.

Essa também é a tese defendida por Rodrigo Lima, da Agroicone. Para ele, a restauração de áreas degradadas em florestas é a maneira mais eficiente de se retirar carbono da atmosfera. “E não apenas em projetos de compensação de emissões e crédito de carbono, mas em um investimento estruturado de regeneração climática, com a melhoria das condições da atmosfera”, defende. O executivo injeta um pouco do pragmatismo empresarial ao debate. Segundo ele, o Brasil avançou muito em modelos econômicos de produtos de commodity agrícola tradicional. Então todo mundo conhece as planilhas de custo de uma produção de milho, de uma produção de soja, de produção de custo da produção do arroz. Tudo está planilhado. 

“Mas, qual é a planilha de custo de uma produção de castanha do Brasil? Qual é o número máximo de adensamento da espécie em um hectare para a gente ter a maior produtividade?”. Essas são questões que precisam ser estudadas e compartilhadas com produtores agroflorestais de todo o Brasil para que se avance na integração dos produtos florestais ao processo de transição verde.

O diálogo promovido pelo IDS é uma contribuição para o encontro de ideias. Dessa forma, setores com pouco contato no cotidiano podem criar conexões e redes na busca por conhecimentos complexos e redes de interação e inovação.

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