São Paulo — O empresário que matou o motoboy Pedro Kaique Ventura atropelado na madrugada da última segunda-feira (29/7) na Avenida Interlagos, zona sul de São Paulo, chorou durante a audiência em que a Justiça determinou sua prisão preventiva. Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, se emocionou enquanto seu advogado, Carlos Bobadilla, dizia que o empresário veio de “família humilde” e “não ganhou o Porsche do pai”.
Igor Sauceda foi preso em flagrante horas após o acidente, por homicídio doloso, com dolo eventual. No dia seguinte, durante a audiência de custódia, a juíza Vivian Brenner de Oliveira, converteu a prisão em preventiva e disse que o empresário usou seu Porsche “como uma arma” para perseguir e matar o motoboy.
Nessa quinta-feira (1º/8), o Ministério Público de São Paulo (MPSP) denunciou Igor Sauceda por homicídio triplamente qualificado, com as qualificadoras de motivo fútil, emprego de meio cruel e com recurso que dificultou a defesa do motociclista.
No vídeo da audiência de custódia, ao qual o Metrópoles teve acesso, a juíza faz uma série de questionamentos introdutórios a Igor Sauceda. Quando perguntado sobre sua profissão e remuneração mensal, ele diz ser empresário e ter ganhos mensais de R$ 20 mil. Igor e seu pai são sócios no Beco do Espeto, famoso bar do Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo.
Após a manifestação da representante do Ministério Público, que se posiciona de a favor da conversão da prisão em preventiva, o advogado de Igor começa sua sustentação. Carlos Bobadilla afirma que Igor é um rapaz de origem humilde, ao contrário do que, segundo ele, veículos da mídia querem fazer parecer.
“Faz-se necessário ainda, neste contexto da audiência de custódia, aduzir sobre quem é o Igor. Nas reportagens veiculadas em sites, eu cheguei a ouvir que esse rapaz era um rapaz de família rica, que ganhou a Porsche do pai, só mais um moleque que tava com uma Porsche na rua. Isso é mentira!”, afirmou Carlos Bobadilla.
“Igor nasceu no Rio Grande do Sul, com o pai e com o irmão. Igor vem de uma família humilde. […] Seu pai, buscando uma melhora da vida dos filhos, vem para São Paulo quando os filhos têm 12 anos. Igor e o irmão Gabriel, com 13 anos na época, trabalharam em lava jato, para ajudar na renda orçamentária familiar. Após muito tempo, Igor, junto com o pai, amealharam todas as suas economias, e surgiu a oportunidade de abrir um bar na região do Itaim, na rua onde o pai trabalhava como vallet. Felizmente o negócio deu certo”, complementou.
Na gravação, é possível ver Igor caindo nas lágrimas durante a fala do advogado.
Assista:
Durante a audiência, o advogado também afirmou que Igor Sauceda não teve um ataque de fúria, como afirmou o delegado Edilzo Correia Lima, do 48º Distrito Policial da capital, em entrevista coletiva após prender o empresário em flagrante.
Segundo Carlos Bobadilla, Sauceda sequer perseguiu Pedro Kaique. O que houve, diz o advogado, foi um acidente de trânsito.
Denúncia
Ao denunciar Igor Sauceda por homicídio triplamente qualificado, a promotora Renata Cristina de Oliveira Mayer, revela “brutalidade fora do comum, em contraste com o mais elementar sentimento de piedade”.
A promotora afirma que o “motivo fútil” para o homicídio decorreu da irritação de Igor, provocada após a vítima “ter danificado o seu carro”.
Renata Cristina acrescenta que a o motoboy foi surpreendido ao ser atingida pelas costas “em alta velocidade”, resultando em “recurso que dificultou a defesa da vítima”.
Colisão fatal
O Porsche dirigido por Igor Sauceda perseguiu a motocicleta de Pedro Kaique em alta velocidade até colidir na parte traseira do veículo, fazendo com que o motoboy se chocasse contra um poste. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
A colisão ocorreu na madrugada de segunda-feira (29/7) após uma discussão de trânsito depois que que a moto de Pedro Kaique arrancou o retrovisor do carro de luxo. Em seguida, houve uma perseguição por cerca de dois quilômetros. Os veículos se chocaram contra um poste e ficaram completamente destruídos.
Dolo eventual
Logo após a colisão, Igor Sauceda foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, pela delegada plantonista do 11º Distrito Policial. Naquele momento, a polícia não havia tido acesso às imagens das câmeras de segurança.
Após a divulgação dos vídeos, o delegado titular do caso, Edilzo Lima, do 48º Distrito Policial, mudou a tipificação para homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, e determinou a prisão em flagrante.
O empresário foi transferido nessa terça-feira (30/7) para o Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.
Fonte: Oficial